Celebramos no próximo dia 11 de julho a memória litúrgica de São Bento Abade, um santo conhecido popularmente por todos e que ajuda a vencer as batalhas e tentações que aparecem ao longo do dia. Através do estilo de oração criado por São Bento, todo o povo de Deus pode se aproximar mais do Senhor. Através da oração somos chamados para agir, amando o próximo e criando laços de fraternidade. Temos que agir no nosso trabalho, na escola, no bairro e na comunidade.
Por intercessão de São Bento somos convidados a santificar o nosso dia e oferecê-lo a Deus. As orações criadas a partir de São Bento são conhecidas como “orações gregorianas” e utilizadas, sobretudo, pelos monges beneditinos que seguem o estilo de vida de seu pai espiritual, São Bento Abade. São Bento nos ensina a persistir na vida de oração e a vencer a preguiça.
É bem conhecida entre todos os cristãos a “medalha de São Bento”, essa medalha contém um significado bem especial para quem a usa e é utilizada por muitos fiéis. Invoca-se por meio do uso da medalha de São Bento para ter a coragem para lutar contra o mal.
Quando fomos batizados, recebemos o sinal indelével do Espírito Santo e somos chamados a viver a nossa vida segundo esse Espírito, como nos ensina São Paulo apóstolo, temos que ouvir a voz do Espírito Santo para trilhar uma vida de santidade, pois se ouvirmos a carne, ela nos levará ao pecado. São Bento nos ensina a ouvir a voz do Espírito Santo e, através dela, vencer o pecado e todo o mal.
Existem muitos mosteiros de São Bento espalhados pelo Brasil, e coligadas ao mosteiro existem as igrejas abertas ao público. Os beneditinos seguem em tudo o estilo de vida de seu pai espiritual, São Bento, oração e trabalho. Alguns mosteiros, porém, são mais dedicados a retiros e a oração mais contemplativa dos monges. A vida monástica é muito importante na Igreja, os monges com suas orações e súplicas rezam pelas necessidades da Igreja e de todos os fiéis.
Aqueles que querem se dedicar à vida monástica optam por seguir os passos de São Bento Abade e escolhem uma vida contemplativa e de oração. A oração nos conduz à ação, sobretudo a ação que visa a nossa santificação. São Bento viveu há muito tempo, mas o seu exemplo de vida continua presente até hoje através dos monges. Que ao longo do dia possamos intercalar momentos de trabalho e de oração visando a nossa santificação.
Bento nasceu na Itália, por volta do ano de 480, ainda jovem foi estudar ciências liberais. Nessa época, havia uma pressão muito grande em cima do Império Romano por conta da invasão dos bárbaros. Diante de tal situação e com o coração desejoso de uma vida digna, ele acabou optando por se retirar e manter-se isolado em uma gruta, que ficava em um penhasco, no alto das montanhas.
Enquanto esteve nessa gruta, dedicou-se à oração e à vida de eremita, sendo alimentado por um outro monge, através de um cesto erguido até o penhasco, a alimentação era basicamente pão, pois a alimentação naquele local era escassa. Permaneceu nesse local por três anos. Com certeza nesse tempo de isolamento, São Bento teve que lutar contra as tentações do mal e não ouvir a voz da carne e, sim, a do Espírito Santo. O principal alimento de São Bento nesse período foi a Palavra de Deus.
É no silêncio que escutamos Deus falar conosco, e que a exemplo de São Bento e dos monges beneditinos, possamos silenciar para escutar Deus e aquilo que escolheu para cada um de nós. Algumas vezes, será necessário se retirar para escutar Deus, ir ao deserto, seguindo o exemplo de Jesus e do próprio São Bento. Após esse momento de retiro, voltamos mais fortalecidos e prontos para enfrentar as batalhas do dia a dia.
Nesse período de solidão e isolamento, São Bento inspirou outros jovens que também queriam cultivar seus valores cristãos. Esses jovens começaram a visitá-lo constantemente e, em pouco tempo, a sua vida de solidão e isolamento terminava. A partir dessa experiência com os jovens, começou a iniciativa de viver em comunidades orantes e colocar em prática os ideais que ele acreditava que eram sobretudo: oração e trabalho.
Bento, depois que saiu da gruta, teve vários episódios em comunidades monásticas e, por fim, iniciou o que viria a ser o maior centro da vida beneditina da época, o mosteiro de Monte Cassino, considerado berço da Ordem dos Beneditinos. Ao contrário do que era a sua vida na montanha, no mosteiro vivia-se a vida comunitária e sob a direção de um abade. Mas, a oração e a contemplação tinham papel fundamental. Após esse, São Bento teria fundado outros mosteiros.
A regra beneditina se difundiu por toda a Europa, e muitos jovens se sentiam atraídos e queriam ingressar no mosteiro. O lema principal era: “Ora et labora” (“Oração e Trabalho”), onde a oração era transformada em trabalho e o trabalho em oração, através da fé e da obediência. A Regra de São Bento deixava todos bem à vontade, e era aplicada e moldada de acordo com as capacidades e limitações de cada um. Por isso, muitos optavam por abraçar a vida monástica.
Normalmente, os beneditinos vivem uma vida de clausura, ou seja, se retiram do mundo, para interceder pelo mundo através de uma vida de oração e contemplação. Dentro do mosteiro também realizam trabalhos comunitários, como cuidar da horta, cozinha, limpeza e dentre outras tarefas. Por essa razão que o lema é: “Ora et Labora”, porque não devemos esquecer da oração e nem deixar de trabalhar, até mesmo o próprio trabalho, podemos fazê-lo rezando.
As moças que queriam se dedicar a uma vida de oração e contemplativa também tiveram oportunidade dentro da inspiração beneditina. Através da irmã de São Bento, Santa Escolástica, adotaram a regra de São Bento e, mais tarde, ficaram conhecidas como monjas beneditinas.
Após a morte de São Bento em 547, a imagem e figura de São Bento propagou-se mais e mais, e, posteriormente, recebeu o título de “padroeiro da Europa”. Em 1742, o Papa Clemente XIV aprovou o uso da medalha oficializando-a assim como um instrumento de devoção de fé. Que por meio desse instrumento, peçamos a Deus que sejamos protegidos de todo o mal.
Abaixo segue a sugestão de oração contida na medalha de São Bento:
“A Cruz Sagrada seja a minha Luz.
Não seja o dragão o meu guia.
Retira-te satanás.
Nunca me aconselhes coisas vãs.
É mau o que tu me ofereces.
Bebe tu mesmo o teu veneno.”
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
