No local da Natividade de Nosso Senhor, “levantou-se a luz do mundo, apareceu o sol da justiça, cujos raios trazem a salvação” (CCL 78,550,52), fazem-se acontecer mistérios diversos: a luz veio ao mundo; o Menino Deus se revelou à humanidade; os magos e os pastores adoraram-no. Riquezas não reluziam no local do nascimento de Jesus.
Envolto por essa humildade, foi nas proximidades da Basílica da Natividade que São Jerônimo retirou-se para dedicar-se à tradução da Sagrada Escritura. Onde a Palavra se fez carne, nasce para nós a tradução latina da Palavra de Deus (a Vulgata).
A Igreja, Corpo Místico de Cristo, é por excelência o lugar da evangelização, da vivência da fé e da vida comunitária. A Tradição, embora distinta da Sagrada Escritura, está intimamente ligada a ela; por isso, perpetua-se e transmite-a por gerações.
Essa presença vivificante se transfunde na vida da Igreja, assim como expressado por São Jerônimo: “A nenhum outro quero seguir e estar em comunhão, senão com Cristo e com a Cátedra de Pedro” (Ep. 15, 2). Sendo assim, os ensinamentos dos vigários de Cristo são comunicações presentes e ativas realizadas pelo Espírito Santo (por quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja e, através dela, no mundo), transmitindo-se na prática e na vida crente e orante da Igreja.
A Igreja tem tamanha reverência pelas Sagradas Escrituras, assim como tem pelo Corpo do Senhor: é o verdadeiro mistério eucarístico — “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue” (Jo 6,56) — que também são palavras das Escrituras.
Se, ao ouvir a Palavra de Deus, que é Cristo, pensamos em outra coisa, isso seria uma irresponsabilidade nossa. Por isso, “a Igreja não cessa de apresentar aos fiéis o Pão da vida tomado na Mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo” (CCE 103).
Na Palavra de Deus, a Igreja encontra alimento e força, uma vez que “toda a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para formar na justiça” (2Tm 3,16).
Uma autêntica conversão pastoral, renovação e revitalização do modelo evangelizador se reflete no Documento da CNBB (n. 100 – Comunidade de Comunidades), que propõe uma rede comunitária para atender à necessidade transformadora da paróquia e promover a espiritualidade de comunhão.
Os Círculos Bíblicos são inspirados na Trindade, sendo assim, são lugares de vivência da fé, de fraternidade e de corresponsabilidade. As ações concretas dessas aproximações servem para promover uma participação ativa dos fiéis e possibilitar uma vivência maior e mais intensa do Evangelho.
Os Círculos Bíblicos sempre exerceram um papel fundamental no processo evangelizador das comunidades no Brasil: ajudaram a fundar igrejas; aproximaram pessoas da Palavra de Deus; formaram e deram dignidade a tantos que precisavam. A memória viva das Santas Missões Populares, nas quais uma grande diversidade de pessoas pôde ter uma experiência de fé, é um ensinamento e um testemunho vivo da evangelização.
A leitura orante da Sagrada Escritura faz com que esses pequenos grupos pastorais tenham uma vivência de amor e sejam ambientes onde se vive a fé de maneira autêntica, comunitária e missionária, refletindo a essência da Igreja como Povo de Deus em comunhão e participação. A revitalização das paróquias passa pelo fortalecimento dessas comunidades e por uma renovação no modo de evangelizar.
São Jerônimo, que sempre viveu sua fé com tamanha intensidade, dizia que aquele que ignora a Palavra de Deus revelada nas Escrituras ignora o próprio Cristo Jesus, pois “Cristo é o poder de Deus e quem ignora as Escrituras ignora o poder de Deus” (CCL 73,1-3).
A leitura é essa ação de imergir-se na Sagrada Escritura; meditá-la é buscar uma intimidade maior com nosso Mestre e Senhor; contemplá-la é tornar aquele ensinamento parte de nossa vida; por fim, imitar a Cristo é testemunhá-Lo, mostrando aquilo que temos e que somos, através de gestos e atitudes cristãs.
Em tempos em que somos chamados a sair de nossos comodismos, em que precisamos, como discípulos missionários, deixar que o Evangelho, o anúncio de Cristo Jesus, habite em nós e em todas as dimensões de nossa vida, possamos promover a esperança e, em meio a tantas culturas de exclusão, estreitar laços na comunidade eclesial, favorecendo o acolhimento, a proximidade e o serviço.
Tenhamos São Jerônimo como modelo de fé e dedicação a Deus, ele que trouxe a centralidade da vida cristã à Palavra revelada e que pôde incentivar os fiéis a ter mais intimidade com Cristo Jesus, através da meditação das Sagradas Escrituras.
Padre Matheus da Silva Santos
Vigário Paroquial da Paróquia São Jerônimo, em Coelho Neto