São João Paulo II

Celebramos no dia 22 de outubro a memória litúrgica de São João Paulo II, o Papa do carisma, do coração aberto, um dos pontificados mais longos da Igreja e que mais viagens apostólicas realizou. São João Paulo II foi o Papa do perdão; inclusive, teve o nobre gesto de perdoar aquele que atirou nele no atentado sofrido em 1981. Ele visitou o homem na prisão e o perdoou, repetindo o gesto de Jesus e colocando em prática aquilo que Ele ensinou: perdoar os inimigos.

O pontificado do Papa São João Paulo II, conforme dissemos, foi um dos pontificados mais longos da história; por conta disso, foi o Papa que mais realizou viagens apostólicas, passando por diversos países. Inclusive, só aqui no Brasil, ele veio três vezes de maneira oficial: 1980, 1991 e 1997, e fez uma escala técnica em 1982, na qual proferiu um breve discurso no Rio de Janeiro, pois estava a caminho da Argentina. Em cada visita que o Papa João Paulo II realizava, ele beijava o solo assim que descia do avião, para abençoar aquela nação e em gratidão por estarem recebendo o enviado de Deus.

São João Paulo II é um santo do nosso tempo, pois faleceu em abril de 2005, bastante debilitado devido ao agravamento do mal de Parkinson de que foi acometido. Logo que faleceu, já era aclamado santo pelo povo devido ao seu exemplo de vida; ele já exalava santidade e, ainda, a maneira como enfrentou, com coragem até o fim, a doença.

São João Paulo II sempre se mostrou disposto ao diálogo inter-religioso; inclusive, foi em seu pontificado que aconteceu essa abertura maior. Se Deus nos ama, devemos demonstrar esse amor a todos. Conforme dizia Jesus: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). Do mesmo modo que Ele e o Pai eram um, era o desejo de Jesus que todos os homens fossem um e que ninguém brigasse por conta de crença, raça ou classe social. Por isso, João Paulo II buscou, em seu pontificado, mostrar ao mundo que, através do diálogo, é possível chegar à paz e à unidade.

João Paulo II assumiu o seu ministério após o Concílio Ecumênico Vaticano II, e a sociedade e a Igreja viviam uma nova perspectiva. Ele atuou bastante na luta contra o comunismo, na defesa da família, abriu as portas da Igreja para o diálogo inter-religioso e promoveu a paz entre as religiões. Era conhecido como o “peregrino do amor”, em alusão às suas constantes visitas papais a diversos lugares do mundo. O Papa São João Paulo II visitou 129 países e, em cada país que visitava, beijava o chão desse lugar logo após descer do avião.

Já em seu funeral, em 2005, os fiéis o declaravam “Santo Súbito”, ou seja, santo imediatamente. O seu funeral foi uma comoção mundial, e todos sentiram a sua perda, até mesmo quem não professava a fé católica.

O Papa João Paulo II era polonês, cresceu em uma pequena vila, simples. O seu nome de batismo era Karol Józef Wojtyła, nasceu em 18 de maio de 1920, em Wadowice. Era o mais novo de três irmãos, perdeu uma irmã antes mesmo de seu nascimento. Karol Wojtyła era filho do oficial do exército polonês; seu pai também se chamava Karol, e sua mãe, Emilia Kaczorowska. A gestação de João Paulo II foi de risco; os médicos até sugeriram à sua mãe que interrompesse a gravidez, mas ela, em um gesto profético, seguiu adiante com a gestação e, depois de anos, ele se tornou um dos maiores nomes da Igreja.

Com a saúde debilitada, a mãe de Karol Wojtyła morreu quando ele tinha apenas nove anos; três anos depois, seu irmão mais velho, Edmund, morre também. Ele era médico e acabou contraindo a doença: estava em meio à pandemia da escarlatina. Karol sempre se lembrava com carinho do seu irmão, chamando-o de mártir do dever.

Aos vinte e um anos de idade, Karol ficaria como único membro da família: seu pai falece. Foi com seu pai que ele aprendeu a amar a Virgem Maria, a bravura, o amor à pátria e a honestidade. Três grandes valores que devem nortear a vida do ser humano. A dor de João Paulo II transformou-se em oração, pois seu papai deixou um grande exemplo de fé e confiança em Deus.

Mesmo com todas as perdas e se encontrando sozinho aos 21 anos de idade, um amor muito grande a Deus envolvia o coração de Karol, devido a tudo aquilo que sua família lhe ensinou. Estava passando por dificuldades em seu país, devido à ocupação nazista na Polônia. Ele queria ser ator, mas, para evitar ser deportado para a Alemanha, chegou a trabalhar numa pedreira e numa indústria química. Mesmo sem ser deportado, viu de perto os horrores que a guerra causava e as profundas marcas deixadas em sua terra natal, a Polônia. Conheceu várias histórias de sofrimento; a mais marcante foi a de uma jovem de 13 anos — ele a salvou da fome após ela sair do campo de concentração. A dor de sua nação fez Karol enxergar que somente a paz pode ser um caminho para construir uma sociedade mais justa e fraterna.

Foi durante a ocupação nazista que o jovem Karol começou a trilhar o caminho do sacerdócio. De maneira clandestina, ingressou no seminário em 1942, tendo aulas secretas na residência do arcebispo de Cracóvia. Quatro anos mais tarde, em 1946, foi ordenado sacerdote pelo então cardeal Adam Sapieha. Por doze anos, intercalou a sua vida presbiteral com os estudos — licenciatura em teologia e ética social —, além daquilo que era próprio do ministério. Doze anos após a sua ordenação, Karol se tornou bispo de Ombi e bispo auxiliar de Cracóvia. Em 1964, tornou-se arcebispo de Cracóvia e, em 1967, recebeu o título de cardeal por escolha de Paulo VI.

Karol Wojtyła foi eleito Papa em 1978, no conclave que sucedeu a João Paulo I. Foi o primeiro, depois de 450 anos, a não ser italiano. Escolheu como nome João Paulo II e implantou, em seu ministério, valores que aprendeu durante toda a sua vida. Com um discurso conciliador, construiu “pontes” de amor, justiça e paz e abriu as portas da Igreja para o diálogo inter-religioso. Pregava que somente o amor poderia mudar o mundo e que as pessoas deveriam colocar em prática aquilo que tanto Jesus ensinou.

Foi com o Papa João Paulo II que se iniciou a Jornada Mundial da Juventude, instituiu os mistérios luminosos no terço, esteve à frente do grande Ano Jubilar em 2000 e acompanhou de perto as transformações da Igreja e da sociedade. Foi o Papa que mais fez viagens apostólicas e, nessas viagens, ensinava o amor, a fraternidade e a paz.

O Papa João Paulo II foi defensor incansável da família e de seus valores e chamou a família de santuário da vida. Escreveu 14 encíclicas, organizou 15 assembleias do Sínodo dos Bispos, nomeou 231 cardeais, beatificou 1.338 pessoas e canonizou 482 santos.

O Papa João Paulo II morreu em 2 de abril de 2005, após uma dura batalha contra o mal de Parkinson. Mesmo com a gravidade da doença e algumas pessoas pedindo que deixasse o ministério, persistiu até o fim. Seu funeral reuniu milhares de pessoas em Roma e mais de 200 representantes de governos.

Lembro, com gratidão, do dia em que fui nomeado Bispo Diocesano de São José do Rio Preto pelo amado Papa São João Paulo II. Não esquecerei jamais as audiências privadas que ele concedia, com paciência e interesse, aos bispos diocesanos nas Visitas Ad Limina Apostolorum e as refeições em comum que ele fazia com os grupos de bispos. Eu vi, convivi e admirei o santo Sumo Pontífice!

Somos convidados, ainda hoje, a seguir o legado deixado pelo Papa João Paulo II, abrindo-nos para o amor e para o perdão aos nossos irmãos. É só o amor que vai ser capaz de construir uma sociedade mais justa e fraterna. Sejamos anunciadores da paz e construtores do Reino de Deus. Celebremos com alegria a sua memória litúrgica e que possamos lembrar de seus exemplos deixados para nós.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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