Solenidade do Natal do Senhor – Missa da Noite

“Nasceu hoje para nós o Salvador, o Messias que é o Cristo, Senhor” (Sl 95,96)

 

Chegamos à grande celebração da Noite do Natal do Senhor, depois de um período de quatro semanas do tempo do Advento em que vivemos a expectativa da chegada do Messias, nesta noite Deus Pai nos presenteia com a chegada do seu Filho. O desejado, o esperado por todas as nações, o Deus conosco, o Emanuel, o príncipe da paz. São as diversas expressões para exaltar a grandeza de Deus, que revelou o seu Filho a todos nós. Um Deus que quis se fazer homem, habitar entre os homens para indicar o caminho da paz.

O Verbo se fez carne e habitou entre nós, a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus, desde a criação do mundo, Deus usou da Palavra para criar o universo e depois essa Palavra se fez carne a partir do “sim” de Maria e habitou entre nós. Nesta noite Santa, somos chamados a voltar o nosso olhar para a manjedoura e adorar o rei dos reis. Ao olhar o menino Jesus na manjedoura, podemos nos voltar para a Cruz, pois Ele veio ao mundo para nos salvar do pecado através da morte de Cruz.

Na celebração do Natal do Senhor comemoramos o seu nascimento para essa vida terrena, e na Páscoa a nossa redenção eterna. O mesmo acontece conosco: em cada aniversário comemoramos o nosso nascimento para esse mundo e quando morremos nascemos para a vida eterna. A celebração do Natal tem o seu grau de importância, mas a festa central do calendário cristão é a Páscoa.

Seria importante participarmos da celebração da missa antes de ir para casa cear com a família e confraternizar. Sobretudo recordar o verdadeiro sentido do Natal que é celebrarmos o nascimento de Jesus, o Verbo que se fez carne.

Na noite Santa do Natal somos convidados a entoar novamente o Hino do Glória, agradecendo ao Senhor por nos ter presenteado com a vinda de seu Filho no meio de nós. O Hino do Glória não foi entoado ao longo das quatro semanas do Advento para que fosse reservado para entoarmos com grande alegria nessa noite santa. Podemos nos unir ao coro dos anjos e proclamar: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados”. Jesus já nasceu há mais de dois mil anos em Jerusalém, mas agora Ele deve nascer em nosso coração. Celebremos essa noite com gratidão no coração, a mesma gratidão que nutria a Virgem Maria e São José.

Peçamos a Deus que, nesta Noite Santa, o menino Jesus nos traga a paz. Paz nas famílias, no nosso país, no mundo, que enfrenta duas grandes guerras. No Natal as desavenças devem ser superadas e as famílias devem se unir em torno do presépio. Jesus é a causa de nossa alegria, por isso se Ele nasceu essa noite deve ser alegre.

Existe um cântico entoado na Igreja ao longo do tempo do Natal que diz: “É natal de Jesus, festa de alegria, esperança e luz”. Que neste Natal o menino Jesus nos encha de alegria, de esperança em dias melhores e ilumine com a sua Luz as trevas. Sejamos missionários e levemos a alegria que vem de Jesus para os entristecidos, agradeçamos a Deus o dom da nossa vida.

Podemos inclusive levar a Palavra de Deus para aqueles que ficaram em casa e para os familiares que vamos encontrar na ceia, e antes de comer, confraternizar e entregar presentes, proclamar o Evangelho preparado para esta noite, rezar um Pai Nosso e pedir para a criança menor da família colocar o menino Jesus na manjedoura. Dessa forma celebraremos verdadeiramente o Natal.

A primeira leitura da missa desta noite é do profeta Isaías (Is 9, 1-6), Isaías anuncia aquilo que aconteceria a partir do nascimento de Jesus Cristo. Isaías estava no contexto do exílio da Babilônia e o povo encontrava-se triste e desanimado. Isaías diz que o povo que andava na escuridão viu uma grande luz e para aqueles que andavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu, a tristeza deu lugar a alegria. As trevas representam a escuridão e o pecado, e Cristo vem iluminar as trevas e nos redimir do pecado. Naquele momento, o povo voltava de um período de escuridão e de pecado que era o exílio da Babilônia e, de agora em diante, o povo voltou para a sua terra, sob a luz do Senhor, com o propósito de não pecar mais, Deus se propõe a selar uma aliança eterna com esse povo.

O menino que vai nascer restabelecerá a aliança rompida pelo povo e selará uma aliança eterna entre a Humanidade e Deus. Ele há de ser o príncipe da paz, conselheiro admirável, Deus forte. Ele anunciará a paz e o seu reinado será sobretudo em prol dos humildes, pregará a justiça e a paz.

O Salmo responsorial é o 95 (96), o refrão desse salmo vai ao encontro com o que ouvimos na primeira leitura e com o que celebramos nessa noite e diz: “Nasceu hoje para nós o Salvador, o Messias que é o Cristo, Senhor.” O Messias era esperado há muito tempo por todo o povo judeu, eles esperavam que o Messias viria como um forte guerreiro, mas ao contrário, o Messias veio pobre e humilde, a fim de reconduzir todos para Deus e ensinar o caminho do amor. Entoemos um cântico de louvor ao Senhor nessa Noite Santa.

A segunda leitura é da carta de São Paulo a Tito (Tt 2, 11-14), Paulo diz a Tito que a graça de Deus se manifestou sobre todos nós, pois Deus nos presenteou com o nascimento de seu Filho. A morte de Cristo na Cruz foi para selar a aliança entre Deus e a Humanidade e para redimir a Humanidade do pecado. Foi um sinal da graça e da misericórdia de Deus. Jesus nasceu uma vez em Jerusalém, nessa noite Ele deverá nascer em nosso coração. Na celebração do Natal um mistério nos aponta para o outro, ou seja, o nascimento de Jesus nos aponta para a morte na Cruz que iremos celebrar dentro de alguns meses. Temos que olhar a manjedoura sem deixar de contemplar a Cruz. Cabe a nós agora aguardar a segunda vinda de Cristo, que não sabemos quando será, mas estejamos em constante oração e vigilância.

O Evangelho desta Noite Santa é de Lucas, (Lc 2, 1-14), esse trecho do Evangelho de Lucas relata quando José e Maria foram até a sua cidade Natal a fim de registrarem-se como moradores, e cumprir o decreto do imperador Cesar Augusto. Eles subiram de Nazaré, na Galileia, para Belém na Judeia, por serem da descendência de Davi.

Aconteceu que enquanto subiam completou-se o tempo da gravidez de Maria e Ela deu à luz ao seu Filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou numa manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria. Não havia lugar para o Filho de Deus nascer, e Jesus nasce em uma estrebaria, ou seja, local que se guardava os animais. O Filho de Deus nasce humilde para mostrar à humanidade que não importa o ter e o poder, mas sim o amor. O Filho de Deus tinha que nascer assim, para mostrar à humanidade que o reino de Deus não se constrói através de guerras e espadas, mas se constrói no silêncio, na humildade e no amor.

Podemos ainda, a partir desse Evangelho, lançar para nós mesmos em nosso interior a pergunta: Será que nos dias de hoje, Maria e José encontrariam lugar para o seu filho nascer? Em nossa casa, na nossa família tem espaço para abrigar a Sagrada Família? Nessa noite abramos as portas de nossa casa para acolher o menino Jesus. Por isso, antes de confraternizar, ceiar, comer, trocar e presentes façamos um momento de oração diante do presépio para tornar essa noite especial.

Os pastores que habitavam aquela região, ao verem no céu uma estrela diferente se perguntaram o que seria aquilo. Um anjo do Senhor lhes aparece e diz para eles não terem medo e lhes anuncia uma grande alegria. Naquela mesma noite na cidade de Davi nasceu um Salvador, que é o Cristo Senhor. Eles vão até o local e encontram tudo conforme o anjo lhes tinha dito, encontram o menino envolto em faixas e deitado na manjedoura.

Celebremos com alegria essa noite Santa do nascimento de nosso Salvador, Jesus Cristo. Que nessa noite não nos esqueçamos que o centro da festa é Jesus Cristo. Elevemos aos céus um pedido pela paz nessa noite, e que o Messias que nasceu em Belém traga a paz para todos os povos e que cessem as guerras.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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