Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor! (Sl 88/89)
A missa vespertina da Vigília do Natal faz parte do conjunto de quatro missas da solenidade do Natal: Missa da Vigília, Missa da Noite, Missa da Aurora e Missa do Dia. Esta missa é celebrada à tarde, entre 15h e 18h; após 18h, celebra-se a Missa da Noite de Natal; entre as 5h e 7h do dia 25 de dezembro, celebra-se a Missa da Aurora do Natal, e a partir das 7h, celebra-se a Missa do dia de Natal.
Para bem celebrarmos o Natal do Senhor, temos rica liturgia tanto no dia 24 como no dia 25 que englobam a solenidade do Natal: uma é diferente da outra. Cada missa tem uma liturgia própria para cada momento. Na Vigília estamos aguardando o Messias que ainda há de chegar, na Missa da Noite, Ele acabou de nascer, na Missa da Aurora, ainda estamos felizes pelo seu nascimento e convidados a anunciar a sua chegada aos outros e, na Missa do Dia, todos já sabem que Ele nasceu e podemos dar graças a Deus.
Na Missa vespertina da Vigília celebramos em ação de graças o cumprimento das promessas de Deus para todos nós. Jesus já era predito por todos os profetas, é o Emanuel, o Deus conosco, e que selaria de forma definitiva a aliança de Deus com a Humanidade. João Batista não se dignou nem a se abaixar para desamarrar as suas sandálias, e depois acabou batizando o próprio autor do batismo. Cheios de alegria entoemos cânticos de ação de graças ao Senhor.
Jesus é a luz que vem iluminar as trevas, por isso ao longo do tempo do Advento acendemos as quatro velas da coroa do Advento. Nessa celebração da Vigília do Natal não existe mais a coroa do Advento, pois a luz de Cristo já foi acesa em nosso coração. Deixemos com que Jesus ilumine as nossas trevas e posamos percorrer o caminho da luz, abandonando as ações das trevas. Se ainda não realizou a confissão sacramental para o Natal, ainda há tempo entre esses dias que estaremos na Oitava do Natal, “despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz”.
A espiritualidade do Tempo do Advento nos convida a vigiar e orar. Através da oração e do diálogo com Deus, conseguiremos forças para vencer as ações das trevas e nos aproximar das ações da luz, ainda somos convidados a preparar o coração para acolher o Menino Jesus. Vigiar é preciso para não cairmos em tentação. Não sabemos quando será o dia ou a hora, somente o Pai do céu é que sabe, por isso a importância de estarmos preparados.
O ano de 2025 será dedicado à esperança, por causa do Jubileu da Esperança. O jubileu tem início na noite de Natal no Vaticano neste ano e vai até a Festa da Sagrada Família do próximo ano. Comecemos desde já a cultivar uma vida de oração e esperança, a pedir ao Espírito Santo que continue renovando a Igreja de Cristo e que todos os membros da Igreja sejam fiéis ao chamado que Deus lhes fez.
A primeira leitura dessa Missa da Vigília é do livro do profeta Isaías (Is 62,1-5), como sempre o profeta Isaías é um personagem marcante desse tempo do Advento em preparação ao Natal. Isaías viveu há cerca de 400 anos a.C., no contexto do retorno do povo de Deus do exílio da Babilônia. A missão do profeta era reanimar esse povo, lhes dar um novo alento e incentivar esse povo a não se afastar mais do Senhor, ou seja, seguir o caminho da luz e não das trevas. O profeta não se cansa de anunciar a Salvação de Deus, a intenção última de Deus é salvar todo gênero humano, tanto que enviou o seu Filho ao mundo, a fim de selar a história de salvação.
O Salmo responsorial é o 88 (89), que diz em seu refrão: “Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor”, nós agradecemos e louvamos o Senhor desde a nossa concepção até a vida eterna. Para aqueles que creem, a vida não termina aqui, mas continua na eternidade. E ao celebrarmos o Natal já nos preparamos para o mistério que celebraremos daqui a alguns meses, que é a Páscoa. Um mistério está ligado ao outro, e a Páscoa é centro do calendário cristão.
A segunda leitura dessa missa vespertina da Vigília do Natal é do livro dos Atos dos Apóstolos (At 13, 16 -17. 22-25), nesse trecho Paulo relata aos israelitas tudo aquilo que Deus fez a favor do povo ao longo de toda a história da salvação até culminar em Jesus Cristo. Deus continua até os dias de hoje salvando todo gênero humano. A intenção última de Deus é salvar todos nós, e sobretudo aqueles que de coração aberto queiram se abrir a essa salvação. Deus quis tanto salvar todo gênero humano que nos revelou o seu Filho único e permitiu que Ele morresse na Cruz para nos salvar, e ainda mostrou que a morte não tem a última palavra.
O Evangelho desta missa é de Mateus (Mt 1, 1-25), que narra a origem de Jesus e nos ajuda a refletir sobre aquilo que estamos celebrando no dia de hoje. José era justo, ou seja, vivia a lei judaica e as tradições à risca. Por isso, enquanto não sabia a origem da gravidez de Maria, pretendia abandoná-la em segredo, pois, naquela época e segundo a tradição judaica, quando a mulher cometia adultério teria que ser apedrejada em praça pública. José não queria que Maria sofresse isso, por isso queria abandoná-la em segredo. Mas, enquanto dormia, eis que o anjo do Senhor lhe aparece em sonho e revela que ele não deveria abandonar Maria, pois o Filho que Ela esperava era obra do Espírito Santo, era o Filho de Deus, e esse menino salvaria todo gênero humano.
Depois desse sonho com o anjo, José acolhe Maria e cuida d’Ela e de seu Filho. Formam uma família e seguem as tradições judaicas. A Sagrada Família passou por muitos percalços e perseguições, era ameaçada por Herodes, e José como chefe da casa cuidava de Maria e Jesus. A partir do “sim” de Maria, e posteriormente de José, a história da salvação tem continuidade e Deus sela de uma vez por todas a aliança com a Humanidade. A partir do nascimento de Jesus, uma nova história começa, história essa que continua até os dias de hoje.
Celebremos com alegria essa missa na Vigília do Natal, e dentro do possível participemos da Missa da Noite, da Aurora e do Dia de Natal, pois elas possuem uma sequência, os textos de todas as missas “conversam” entre si. Vivamos esse tempo de alegria que é o Natal, e anunciemos a todos que Jesus é o Salvador. A exemplo de Nossa Senhora, levemos a alegria do Espírito Santo aos outros e sejamos sal na terra e luz no mundo. Amém.
Desejo uma santa e abençoada Vigília de Natal para você e a sua família!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ