Tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais 2025

‘Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações’ (1Pd 3, 15-16)

 

Nesta semana foi anunciado o tema do 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Isso sempre ocorre na festa dos Arcanjos (29 de setembro), como sinal das grandes notícias que somos chamados a anunciar ao mundo. Depois, no dia 24 de janeiro, dia do jornalista e de São Francisco de Sales, modelo de comunicação cristã, o texto do Papa para esse dia é publicado. A celebração desse dia, desejado pelo Decreto Inter Mirifica do Concílio Vaticano II (um dos dois primeiros documentos conciliares) ocorre no Domingo de Ascensão (no Brasil), neste ano, dia 1º de junho de 2025. Normalmente é precedido de Semana da Comunicação ou eventos ligados ao tema, além do aprofundamento do assunto em nossas comunidades.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado anualmente na Igreja Católica, é uma oportunidade para refletir sobre o papel fundamental da comunicação no fortalecimento da fé e na promoção da unidade. Em 2025, o tema escolhido para celebrar esta data — “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” (1Pd 3, 15-16) — convida os fiéis a se comprometerem a comunicar com amor e empatia, partilhando a esperança num mundo muitas vezes marcado pela desconfiança e pela divisão. O versículo bíblico que inspira o tema desafia todos a desarmar a comunicação violenta e promover um diálogo pacífico, em tempos de polarização e discursos agressivos. A inspiração da escolha do tema é, sem dúvida, devida ao tema do ano do jubileu: “Peregrinos da esperança”.

A esperança é uma força poderosa que sustenta a vida cristã. Ao partilhá-la, especialmente em tempos difíceis, estamos não apenas confortando os outros, mas também reafirmando nossa fé em Deus e em seu plano para a humanidade. A mansidão, como característica dessa partilha, é crucial. Ela nos lembra que a comunicação não deve ser agressiva nem impositiva, mas deve buscar o entendimento e a harmonia.

Nesse contexto, a Igreja é chamada a ser uma fonte de esperança. Por meio de suas ações e palavras, deve promover um ambiente onde todos se sintam acolhidos e valorizados. A mansidão na comunicação ajuda a criar espaços seguros para o diálogo, em que as pessoas possam expressar suas dúvidas e anseios.

Num mundo saturado de informações e polarizado por discursos muitas vezes hostis, a comunicação torna-se um desafio significativo. O uso excessivo de mídias sociais pode levar a interações superficiais e a uma propagação de desinformação. Nesse cenário, a mensagem de ‘partilhar com mansidão’ torna-se ainda mais relevante. Ela nos convida a meditar sobre como estamos comunicando nossa fé e nossa esperança.

A mansidão é uma virtude que permite que o diálogo ocorra de maneira respeitosa e construtiva. Em vez de reagir com raiva ou defensividade, somos chamados a ouvir ativamente e a responder com amor. Esse comportamento não só reflete os ensinamentos de Cristo, mas também promove uma cultura de paz.

A comunicação tem o poder de unir ou dividir, construir pontes ou gerar conflitos, ainda mais em tempos de inteligência artificial. A proposta para 2025 nos faz pensar sobre o papel que ela deve desempenhar no mundo de hoje, em que muitas vezes a violência verbal predomina, especialmente nas redes sociais e em debates televisivos, como assistimos em tempos de propaganda política. Ao invés de criar condições para um diálogo construtivo, a tendência que vemos frequentemente é a de oposição e ataque, quando o objetivo não é mais ouvir nem compreender, mas vencer e dominar. Isso afeta não apenas os âmbitos sociais, mas também as relações humanas e até a forma como nos relacionamos com a verdade.

A comunicação não violenta visa promover o diálogo autêntico e empático, buscando resolver conflitos de forma pacífica e positiva. Em essência, essa forma de comunicar convida a refletir sobre a maneira como nos comunicamos, estimulando uma linguagem que evita julgamentos, críticas e acusações, mas que, ao invés disso, foca na compreensão das necessidades e sentimentos de todas as partes envolvidas. A proposta é simples, mas poderosa: conectar-se com os outros por meio da empatia e da escuta ativa, buscando um espaço de entendimento mútuo e colaboração.

Nesse contexto, o tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais surge como um alerta e, ao mesmo tempo, uma oportunidade. Ele nos chama a repensar a maneira como nos comunicamos, especialmente no ambiente digital, em que tudo acontece com imensa rapidez e, muitas vezes, sem o devido filtro da reflexão. Ao invés de contribuir para o ciclo de agressão, os comunicadores, missionários digitais (conhecidos como influenciadores) e todos aqueles que se valem dos meios de comunicação devem ser agentes de transformação, promovendo um diálogo que edifique e compartilhe a esperança cristã.

Com esta mensagem, vemos que o chamado para os comunicadores cristãos é claro: ser testemunhas da esperança que carregamos, de forma genuína e humilde, sem ceder à tentação da agressividade que tanto caracteriza o mundo da comunicação atual. Não se trata de evitar os debates, mas de participar deles com uma postura diferente, em que o foco esteja na verdade e no respeito pelo outro.

A comunicação cristã não pode ser apenas informativa; ela precisa ser formativa. Isso significa que, ao mesmo tempo que transmitimos fatos e ideias, também devemos inspirar comportamentos, atitudes e gestos que estejam alinhados com os valores do Evangelho. Para os missionários digitais, em especial os que lidam diariamente com as redes sociais, essa tarefa é ainda mais desafiadora, pois exige discernimento constante sobre o que compartilhar e como interagir de maneira coerente com a fé que professam.

O tema “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” nos desafia a sermos comunicadores de paz e esperança. Aliás, o tema supõe que tenhamos esperança em nossos corações. Ao abraçarmos a mansidão em nossas interações, contribuímos para um mundo mais solidário e acolhedor. Que esta mensagem nos inspire a partilhar a esperança que Deus nos oferece, não apenas em palavras, mas também em ações. O tema desse dia quer nos ajudar como Igreja a refletir sobre nossa comunicação, mas também ajudar o mundo a verificar como vai a comunicação na sociedade. Que sejamos instrumentos de sua paz, levando a mensagem de amor e esperança a todos que encontramos em nosso caminho. Assim, a Igreja poderá continuar a sua missão de ser um farol de luz e esperança num mundo que dele tanto precisa.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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