Um pastor incansável

Nesta próxima festa litúrgica do Apóstolo São Marcos (25/04), a Arquidiocese do Rio se rejubila pelo 25º aniversário de ordenação episcopal de seu arcebispo, o Cardeal Dom Orani João Tempesta. E temos muito que ser gratos a tão querido pastor, pois destes 25 anos de episcopado, 13, portanto mais da metade, são dedicados ao pastoreio dos cariocas.

Neste sentido, somos a porção do povo de Deus que por mais tempo Dom Orani se dedicou. Procurando conduzir seu ministério sob a inspiração das palavras de Jesus dirigidas ao Pai em Jo 17, 21: Ut unum sint (Para que todos sejam um), Dom Orani trabalha com admirável afinco pela unidade não somente da Igreja, mas de toda a gente em toda a sua diversidade e pluralidade.

Conhecido como o bispo do diálogo, desde que colocou os pés nas terras da Guanabara, sempre procurou estabelecer pontes com todos através do diálogo, da cordialidade ou até mesmo da simples presença amiga. Sacerdote incansável, desde que ao Rio chegou já percorreu por diversas vezes a arquidiocese ao longo destes 13 anos. De Santa Cruz ao Leblon, passando por Vila Isabel, cruzando a cidade rumo a Jacarepaguá, Barra e Recreio, Dom Orani, no auge de seus quase 72 anos, corre todo o chão de sua arquidiocese – não que esta lhe pertença, pois aí ele é a cousa pertencida – com invejável entusiasmo e verdadeiro zelo pastoral. No asfalto ou na favela, o cardeal do Rio é a única personalidade carioca com trânsito livre entre regiões, grupos e pessoas das mais plurais e diversificadas. Longe de ser apenas um clichê, é preciso afirmar que se trata verdadeiramente de um pastor incansável, que mesmo quando pressente o peso das horas, não deixa de responder uma única das inúmeras mensagens de texto que recebe ao longo do dia, ainda que o faça no decorrer da madrugada, não deixando de dispensar sua valiosa atenção a todos indiscriminadamente.

Por causa desta sua virtude em ser atencioso para com todos, muitas vezes é injustiçado com críticas ácidas e descabidas por receber pessoas que não pensam ou rezam como nós católicos. Mas estas são oportunidades preciosas exatamente para fazer aquilo que Dom Orani faz de melhor: dialogar, estabelecer pontes, criar proximidade, destacar elementos em comum em vista da unidade ardentemente desejada pelo coração sacerdotal de Jesus como testemunho dos que creem, a fim de que o mundo veja, creia e seja salvo.

Uma das mais belas características da Igreja Católica é sua permanência e identidade através das autoridades eclesiásticas que passam. Os bispos cumprem sua missão e passam, surgem novos sucessores dos apóstolos eleitos pelo sucessor de Pedro, que se perpetua através dos séculos na pessoa do Papa. E permanece a mesma doutrina, o mesmo evangelho, a mesma interpretação dos ensinamentos de Jesus. Neste sentido, ao suceder os grandes bispos do Rio de Janeiro, Dom Orani segue uma linha de continuidade eclesiástica em que se muda apenas o estilo pessoal, pastoral e administrativo tanto institucional quanto de pessoas. Entretanto, verdade seja dita e justiça seja feita, dos bispos que esta nossa geração carioca já teve, Dom Orani é o mais acessível. É claro que seus antecessores também tiveram suas virtudes pessoais e de governo que lhes destacavam em relação aos demais. Porém, em Dom Orani há que se destacar esta acessibilidade, que é bem verdade hoje facilitada pelas mídias das mais avançadas em tecnologia, que no passado não existiam. Entretanto, de nada adiantaria todo avanço tecnológico se não tivesse a virtude de ser atencioso, humilde e sempre disposto a todos ouvir. E isto é realmente exemplar para todos nós pastores e cristãos em geral. Lembro que certa vez lhe perguntei de onde vinha tanta disposição para ouvir paciente e atenciosamente tantas pessoas que encontrava ao longo do dia. E disse-me: “na maioria das vezes é a única coisa que posso fazer por elas naquele exato momento, ouvi-las”. Aquela foi uma ocasião especialmente edificante para mim, que aprendia do pastor maior que ouvir é também agir, é ato de caridade, é confortar, consolar, curar, libertar. E num tempo de tanto vozerio, de tantos ruídos que a todos assaltam, saber ouvir é de fato virtude mais que admirável, é modelar.

Nestes dois últimos anos, Dom Orani teve o árduo desafio de conduzir a arquidiocese em meio a tantas tribulações e realidades das mais complexas ocasionadas pela pandemia da Covid-19. Teve que tomar a dura decisão de fechar as igrejas e só reabri-las depois que todas estivessem adaptadas ao que chamávamos de “novo normal”. Por isso, recebeu duras críticas, sobretudo de muitas de suas próprias ovelhas que não tinham a capacidade de compreender a gravidade e a complexidade daquele momento. Ali víamos, como em tantas outras situações que ainda se sustentam, que a caridade que abundava no coração do pastor carecia no coração destas ovelhas. Todavia, Dom Orani seguiu firme e corajosamente a conduzir a arquidiocese com a verdadeira solicitude de um pastor, velando sobre o rebanho, animava padres e leigos, fazia reuniões e transmissões ao vivo por plataformas digitais durante manhã, tarde e noite; incansável e presente, como sempre foi sua marca, a fim de todos alcançar, afirmando que era preciso continuar a evangelização e a catequese, agora, porém, de forma diferente, e redobrar o cuidado para com os pobres, visto que a pandemia já agravava a situação de penúria de muitos de nossa gente. E nesta matéria da caridade social, Dom Orani é fiel a um aspecto que já constitui uma tradição dos bispos do Rio de Janeiro: ir ao encontro dos pobres e provê-los de maneira totalmente desprovida de ideologias sociais, políticas ou mesmo teológicas, mas por pura caridade evangélica, como nos ensina o Mestre. E este é realmente um fator que engrandece e agrega valores morais à Arquidiocese do Rio.

Por fim, resta-nos agradecer a Deus por ter nos dado um pastor com o coração tão bondoso e cheio de caridade para nos confirmar na fé e nos conduzir rumo à plenitude do Reino. Que Nosso Senhor o confirme sempre mais na caridade e fortaleça sua fé para que viva e governe com sabedoria. E que São Sebastião, padroeiro do Rio e intrépido promotor da fé cristã, inspire-lhe cada vez mais força e coragem para continuar o seu ministério para o bem da Igreja de Deus.

 

Padre Valtemario S. Frazão Jr.

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