O penúltimo dia do 33º Curso para os Bispos oferecido pela Arquidiocese do Rio de Janeiro teve início, como todos os dias, com a celebração da Santa Missa e da oração de Laudes. Nessa quinta, 25, festa da conversão do apóstolo São Paulo, a missa foi presidida pelo Cardeal Arcebispo de Brasília, D. Paulo Cezar Costa, que indicou que “São Paulo coloca Cristo verdadeiramente no centro da sua vida. É um homem apaixonado por Cristo, que vai entrando no mistério de Cristo. Paulo mostra para nós que em momento algum se pode mitigar o anúncio de Jesus Cristo. Deve-se chegar com uma postura dialogante, respeitosa, mas jamais mitigar o anúncio de Jesus. Quem mitiga este anúncio trai o próprio Senhor.”
Santa Missa, presidida pelo Cardeal D. Paulo Cezar Costa
Após uma saudação do presidente da CNBB, D. Jaime Spengler, aos bispos presentes no auditório, os estudos da parte da manhã foram conduzidos por duas conferências, a primeira proferida por D. Joel Portella, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, e a segundo pelo Pe. Luís Henrique Eloy e Silva, reitor da PUC Minas. Ambos deram continuidades aos temas já iniciados nas conferências anteriormente proferidas por eles.
Pe. Eloy e Silva entrou nessa sua segunda conferência no tema da família a partir dos textos bíblicos. Analisando as narrativas do Gênesis e as analogias entre o amor de Deus e o amor esponsal, o conferencista destacou que “o fato de que a instituição matrimonial seja utilizada para descrever a relação de Deus com Israel é um sinal de que ela possui em si mesma um valor intrínseco; mais uma vez é atestada a ‘semelhança’ entre Deus e a criatura humana, entre o agir divino e aquele que o ser humano é chamado a cumprir. A aliança esponsal é efetivada de modo perfeito pelo Senhor, e isso ilumina como ela deve ser vivida pelos esposos.” Joel Portella, dando continuidade à exposição sobre o ser humano à luz da teologia sistemática, sublinhou a pessoa de Cristo como ícone do novo homem e, portanto, centro de um modelo cristão de antropologia integral.
Reconhecendo o valor da modernidade enquanto valoriza em si cada pessoa, a partir de sua perspectiva individualizante, D. Joel chamou atenção para o fato de que não se pode deixar de reconhecer que a subjetividade não pode ser compreendida como fechada em torno a si mesma, indiferente aos outros, à natureza e a Deus. “Essa é, a meu ver, uma das grandes contribuições que os cristãos podem e devem dar ao mundo de nosso tempo, em que a flacidez das identidades acaba por gerar o risco de identidades predominantemente não relacionais, incluindo-se aqui até mesmo experiências religiosas onde a subjetividade fechada é o critério, ou seja, onde a vida fraterna, em comunidade, não é um dos valores maiores.”
6º Conferência – Dom Joel Portella: o ser humano à luz da teologia sistemática
7º Conferência – Padre Luís Henrique Eloy: concepção antropológica presente na Sagrada Escritura
Após as duas conferências os bispos participaram de um momento de diálogo com D. Joel e Pe. Eloy, apresentando questões e contribuições acerca dos temas expostos.
Na parte da tarde a programação do curso seguiu com uma conferência do Pe. Antônio Spadaro, Subsecretário nomeado do Dicastério para a Cultura e a Educação e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Ao trabalhar o tema A antropologia do Papa Francisco à luz do problema educativo, o jesuíta italiano indicou que a visão do Papa acerca do homem “é sempre concreta e nasce da experiência”.
Traçando uma análise da ação do Papa Francisco desde que era Arcebispo de Buenos Aires, Pe. Spadaro demonstrou a percepção de Bergoglio em reconhecer a referência sólida que é a antropologia a que a Igreja tradicionalmente se referiu, percebendo, porém, que o homem a quem a Igreja se dirige hoje já não é capaz de a compreender como outrora. “O desafio educativo cristão” – apontou o conferencista – é evitar que a luz de Cristo permaneça para muitos apenas uma recordação longínqua ou, pior ainda, que fique nas mãos de um pequeno e seleto grupo de pessoas ‘puras’: isto transformaria a Igreja numa seita.”
8º Conferência – Padre Antônio Spadaro: a antropologia do Papa Francisco à luz do problema educativo
O 33º Curso para os Bispos, que acontece desde segunda-feira, 22, no Centro de Estudos do Sumaré, na Arquidiocese do Rio de Janeiro, segue até o dia 26 de janeiro, contando com a presença de quase cem bispos de todo o Brasil.
Textos: Eduardo Silva – Arquidiocese do Rio de Janeiro
Fotos: Bruno Carvalho