Arquidiocese do Rio e PUC-Rio fortalecem parceria para promoção social com novo programa de extensão universitária

A Arquidiocese do Rio de Janeiro e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) consolidaram, ao longo das últimas décadas, uma cooperação que hoje se traduz em um convênio estruturado para o desenvolvimento de ações socioeducativas no âmbito do Vicariato para a Caridade Social. O acordo, que estabelece a criação de um programa permanente de extensão universitária, busca unir conhecimento acadêmico e compromisso evangelizador para transformar a realidade das populações mais vulneráveis da capital fluminense.

Embora o convênio tenha sido formalizado, sua história tem raízes profundas. Como explicou o vigário episcopal para a Caridade Social, monsenhor Manuel Manangão, “o atual convênio que existe entre a Arquidiocese do Rio de Janeiro e a PUC-Rio tem uma história mais longa, antes mesmo de ser assinado”. Essa relação remonta ao período anterior à existência do Vicariato da Caridade Social, quando as ações estavam sob responsabilidade da Pastoral do Trabalhador e da Pastoral das Favelas.

 

Uma parceria que nasceu da missão

Na época, dificuldades financeiras levaram à redução do quadro da Pastoral das Favelas. A partir dessa experiência, surgiu a necessidade de novas estratégias de atuação junto às comunidades. O apoio da universidade tornou-se fundamental nesse processo, em iniciativas que uniam evangelização, esporte e formação humana.

Monsenhor Manangão recorda que, ainda como coordenador da Pastoral do Trabalhador e coordenador executivo interino da Pastoral das Favelas, percebeu uma oportunidade de engajamento comunitário por meio do esporte. “Começamos a fazer muitas atividades com as comunidades, principalmente através do esporte. E quem foi nos ajudar? Alguns diretores de departamento da PUC que se colocaram disponíveis”, relatou. Dessa colaboração nasceu a “Copa das Favelas”, um campeonato envolvendo jovens das pastorais presentes nos territórios mais pobres do Rio.

A partir daí, novas frentes passaram a se desenvolver. Ainda na década de 1990, surgiram os pré-vestibulares comunitários, que até hoje preparam estudantes de baixa renda para o ensino superior. “Era preciso ter um núcleo que desse reorientação pedagógica e formação aos professores voluntários. Então fomos ao Departamento de Educação e também ao Serviço Social”, lembrou o sacerdote.

Com a consolidação de outras pastorais — como a Pastoral do Menor — e a criação dos Conselhos Tutelares, a necessidade de parceria acadêmica tornou-se ainda mais evidente. A Arquidiocese do Rio então buscou apoio para a formação de conselheiros e agentes sociais. À medida que a demanda crescia, a articulação, antes restrita a alguns departamentos, passou a ter um canal institucional fixo na Vice-Reitoria Comunitária da PUC-Rio.

 

Estruturação do convênio

O avanço significativo da relação entre as instituições teve impulso decisivo antes da pandemia, graças ao apoio do então monsenhor Joel Portella Amado, professor do Departamento de Teologia e coordenador de pastoral da Arquidiocese. “Ele teve a ideia de estabelecermos um convênio que pudesse abranger, de forma estrutural e legal, a realidade do que já vínhamos fazendo”, explicou monsenhor Manangão.

Assim, deixou-se o modelo baseado na boa vontade e em redes informais para uma normativa sólida que garante continuidade e segurança jurídica aos projetos. O acordo foi firmado oficialmente em 2017 e, na reformulação mais recente, passou a vigorar por prazo indeterminado.

O vigário destaca que a parceria é mais do que mero auxílio acadêmico: “Na verdade, é o exercício da atividade dos departamentos. A dinâmica dos trabalhos da área social tem o apoio explícito da PUC-Rio.” O arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, é o chanceler da universidade, o que reforça o vínculo e o compromisso pastoral.

 

Extensão universitária com impacto comunitário

Segundo o termo de cooperação, o convênio tem como objeto “a criação de um programa de extensão universitária no âmbito do Vicariato da Caridade Social”, abrangendo todos os projetos desenvolvidos com participação dos departamentos da universidade. “O grande ganho foi que, em lugar de serem atividades soltas, passaram a integrar um processo acadêmico de extensão”, assinalou.

O modelo funciona de modo transversal, mobilizando diferentes áreas do conhecimento de acordo com a necessidade da iniciativa:

Serviço Social — presente em quase todas as frentes do vicariato, articulando acompanhamento técnico e formação comunitária.

Engenharia, Arquitetura e Urbanismo — atuantes na reforma de espaços, como os banheiros para atendimento à população em situação de rua na Catedral Metropolitana.

Direito — suporte à capacitação de conselheiros de direitos e participação em formações cidadãs.

Educação — apoio pedagógico a pré-vestibulares e reforço escolar para crianças do ensino fundamental.

Teologia e História — promoção de ações formativas e projetos de memória e identidade comunitária.

“O que é feito dentro do ambiente do Vicariato, na parceria com a PUC-Rio, é visto como extensão dos cursos ligados às ações imediatas”, reforçou monsenhor Manangão.

Uma das iniciativas mais recentes foi a aproximação com a escola Pequena Cruzada, vinculada à Arquidiocese do Rio, que já recebe alunos da universidade para estágios e pode futuramente contar com cooperação mais ampla. “É algo que ainda está em processo, mas ao menos a aquiescência de ajudar já existe”, afirmou o vigário episcopal.

 

Fé e conhecimento a serviço da dignidade humana

Para monsenhor Manangão, a essência dessa colaboração não está apenas na técnica ou na assistência social, mas na proposta evangélica de promoção humana integral. Ele afirma que a missão é construir uma Igreja em saída, que caminha junto com os mais fragilizados de forma qualificada. “A gente vai costurando devagarinho”, descreveu ele sobre o crescimento do convênio.

Hoje, o Vicariato da Caridade Social acompanha e organiza dezenas de projetos nas periferias urbanas e junto à população de rua. A presença dos estudantes contribui para profissionalizar o atendimento, ao mesmo tempo em que promove sensibilização e formação cidadã. “As atividades fazem parte da formação dos alunos, mas também renovam a esperança das comunidades atendidas”, destaca.

A cooperação avança de maneira contínua, respaldada pela experiência histórica e pela confiança entre as instituições. Monsenhor Manangão faz questão de reiterar: “Eu sempre digo que é entre a Arquidiocese do Rio e a PUC-Rio, porque a Arquidiocese é maior e a PUC-Rio é uma instituição ligada diretamente a ela, ainda que conduzida na gestão pelos padres jesuítas.”

O programa de extensão, além de fortalecer as pastorais e ações sociais, tornou-se um espaço de integração entre fé, ciência e prática comunitária, permitindo que a universidade amplie sua responsabilidade social e que a Igreja disponha de suporte acadêmico especializado para qualificar seus serviços.

 

Perspectivas para o futuro

Após décadas de articulação, a celebração do convênio representa uma etapa fundamental de amadurecimento. Com renovação ativa desde 2017, o projeto hoje possui bases mais sólidas para expandir o trabalho com novos setores, como iniciativas sustentáveis de moradia, inclusão digital, saúde preventiva e capacitação profissional.

O vicariato e a universidade planejam, inclusive, ampliar a presença dos projetos nas paróquias e comunidades, construindo redes locais de transformação social. “Essa é a dimensão do convênio: projetos e atividades que unem a Arquidiocese e a PUC-Rio”, sintetizou.

Com a aliança consolidada, espera-se que mais vidas sejam alcançadas e que a experiência de fé se torne cada vez mais instrumento de mudança. Em um cenário onde a desigualdade social ainda é marca da cidade, a união entre Igreja e universidade se apresenta como forte sinal de esperança e compromisso com o bem comum.

Ao olhar para toda essa trajetória, o vigário não hesita em reconhecer: “O convênio sacramenta uma história construída com carinho, respeito e dedicação à área social. Ele nos ajuda a continuar essa missão com responsabilidade e visão de futuro”, concluiu monsenhor Manangão.

 

Carlos Moioli

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