A Arquidiocese do Rio de Janeiro dará início, no dia 16 de novembro, às celebrações pelos 50 anos da Catedral Metropolitana de São Sebastião, marco espiritual, cultural e arquitetônico da cidade. A data, que também coincide com o Dia Mundial dos Pobres, terá abertura com café da manhã solidário às 7h, seguido da Santa Missa às 10h, presidida pelo arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta. Durante a celebração, será apresentado o selo comemorativo do jubileu, que culminará em 2026, quando a Catedral completará cinco décadas desde sua inauguração oficial.
O pároco da Catedral, cônego Cláudio dos Santos, destaca que iniciar as comemorações ao lado daqueles que sempre encontraram amparo naquele templo é um gesto coerente com sua identidade: “Queremos começar este dia celebrativo junto daqueles que sempre foram atendidos pela nossa Catedral: as pessoas em situação de rua e os vulneráveis”. Ele explica que a programação integra o eixo missionário que marca a vida da Igreja-mãe da arquidiocese: “A Catedral sempre foi um sinal de esperança no coração da cidade”.
Peregrinações e redescoberta da Igreja-mãe
Em 2025 e ao longo do ano de 2026, os 13 vicariatos territoriais da Arquidiocese do Rio de Janeiro realizarão peregrinações mensais à Catedral, com membros de pastorais e movimentos, crianças da catequese, lideranças comunitárias e o povo de Deus. A iniciativa busca intensificar o vínculo espiritual dos católicos com a sede da Igreja no Rio e promover maior conhecimento sobre sua história, arte e significado litúrgico. “Queremos que todo o povo de Deus tenha essa experiência de fé e amor à Igreja-mãe, conhecendo sua beleza e profundidade espiritual”, afirma o pároco.
Além de participar das celebrações, os peregrinos terão a oportunidade de explorar os espaços internos que guardam memória e cultura: o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, a Cripta dos Bispos e Arcebispos e o Arquivo da Cúria. “Para entender a nossa Catedral, é preciso entrar nela”, diz o sacerdote, referindo-se à forte diferença entre a simplicidade externa e o esplendor interior.
A arquitetura que revela o sagrado
Projetada no auge da modernização urbana do Centro do Rio, a Catedral de São Sebastião foi idealizada por monsenhor Ivo Cagliari — seu primeiro pároco — desejada e impulsionada pelo então arcebispo Dom Jaime de Barros Câmara. Coube ao sucessor, Cardeal Eugenio de Araujo Sales presidir sua inauguração, em 16 de novembro de 1976, transferindo a sede arquidiocesana da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Praça XV, para o grande templo erguido na Avenida Chile.
Construída no estilo brutalista, a Catedral possui forma cônica, com 106 metros de diâmetro e 75 metros de altura, representando uma tenda — sinal da presença de Deus no meio do seu povo. Seus quatro vitrais gigantes, com 64 metros de altura, convergem para o topo, símbolo da ascensão ao céu. “Por fora, é concreta e dura; por dentro, é luz e acolhimento. Assim Deus nos vê: não pelo exterior, mas pelo coração”, reflete o pároco.
A disposição circular das celebrações expressa a unidade da assembleia e a centralidade do altar e da cruz. Ao caminhar pelo templo, o fiel descobre símbolos profundos: imagens de santos ligados à história do Rio, elementos catequéticos e uma acústica que favorece o silêncio orante no coração do centro financeiro da cidade.
Museu, cripta e arquivo: memórias vivas da fé
No subsolo, repousam figuras centrais da vida religiosa da cidade: Dom Jaime e Dom Eugenio, bispos diocesanos e auxiliares do Rio de Janeiro. “A Cripta é lugar de memória e gratidão aos pastores que doaram suas vidas ao povo do Rio”, afirma o cônego Cláudio.
O Museu de Arte Sacra da Catedral preserva obras litúrgicas, imagens, objetos devocionais e acervos históricos que retratam séculos de evangelização. Já o Arquivo da Cúria Metropolitana é considerado tesouro documental do país: reúne registros dos primeiros habitantes, escravos, imigrantes, batismos, casamentos e óbitos — antes mesmo da existência dos cartórios civis. “Aqui está guardada a história do nosso Brasil”, ressalta o pároco.
Uma Catedral que evangeliza pela caridade
Ao lado da dimensão litúrgica, a Catedral é referência no acolhimento de quem vive nas ruas do Centro da cidade. Há anos, equipes de pastoral e voluntários promovem ações contínuas de escuta, higiene, alimentação e reinserção social.
Na Páscoa de 2025, a inauguração do Centro Social São Sebastião ampliou e qualificou esse serviço. “Atendemos entre 150 e 200 pessoas diariamente: com banho, corte de cabelo, lavanderia e atendimento social”, explica o pároco. O projeto integra o programa Café que Sustenta, fortalecido pelo apoio e estímulo direto do arcebispo.
“O Cardeal Orani tem um olhar muito expressivo pelos irmãos em situação de rua”, observa cônego Cláudio. Para ele, essa atuação não é acessória: “Tudo aqui é feito em nome da Igreja do Rio e do seu pastor”.
Símbolos que falam aos que passam
Na área externa da Catedral, três esculturas impressionam cariocas e turistas: Santa Teresa de Calcutá, São João Paulo II e o Cristo Sem Teto — obra internacional do artista Timothy Schmalz.
Essas imagens traduzem o compromisso com os descartados da sociedade. “João Paulo II e Santa Teresa eram muito próximos e tinham grande amor pelos pobres. Eles inspiram nossa missão até hoje”, afirma.
O cônego Cláudio relembra o gesto histórico do Papa polonês na Favela do Vidigal, em 1980: “Naquela ocasião, ele disse que falava a todos os pobres. Sua visita foi uma chancela de dignidade”.
Sobre o Cristo Sem Teto, único exemplar exposto no Brasil, o pároco comenta: “A escultura nos obriga a enxergar quem muitos fingem não ver. É Cristo presente no irmão abandonado”.
Onde a fé encontra a cidade
A Catedral Metropolitana consolidou-se como um dos maiores ícones turísticos e espirituais do Rio de Janeiro. Segundo estatísticas oficiais da Prefeitura, é o segundo ponto mais visitado da cidade, recebendo pessoas de todas as religiões e nacionalidades.
“Todo turista quer conhecer a Catedral da cidade que visita. Aqui, encontram um lugar onde Deus fala ao coração, no meio do burburinho urbano”, diz o pároco. O ideal do projeto era claro: criar um grande areópago, uma presença cristã viva entre edifícios de negócios, como o BNDES e a Petrobrás.
O templo acolheu eventos que marcaram a história da Igreja no Brasil, incluindo as visitas dos Papas São João Paulo II, em 1980, e Papa Francisco, em 2013, ambas vividas intensamente pelo atual pároco. “Estar ao lado dos sucessores de Pedro aqui foi inesquecível para mim”, recorda.
Raízes e continuidade
A sucessão de párocos é lembrada com gratidão. Depois de monsenhor Ivo Cagliari, vieram monsenhor Abílio Soares, monsenhor Aroldo da Silva Ribeiro e Dom Joel Portella Amado — hoje bispo de Petrópolis — até a atual gestão do cônego Cláudio.
“Sinto-me honrado em ser pároco da Catedral onde fui ordenado sacerdote”, afirma, emocionado. E completa: “Nem todo padre tem a graça de servir na igreja onde se tornou padre”.
50 anos: história que continua viva
A restauração em andamento — iniciada no final de 2024 e prevista para término em 2026 — permitirá que o jubileu seja vivido com toda a beleza arquitetônica renovada. O objetivo é que as celebrações fortaleçam ainda mais a missão evangelizadora da Catedral como Igreja-Mãe da arquidiocese, centro litúrgico e sinal de esperança para a cidade.
Cônego Cláudio resume o desejo que anima esse novo tempo: “Que todos os que entrarem aqui possam se encontrar com Deus e saiam mais cheios de amor”. E conclui: “Esta Catedral é casa de todos. Aqui, cada pessoa é chamada a reconhecer que Deus está presente no coração do Rio”.
Carlos Moioli