Mostra no MAAS reúne 42 presépios e inaugura laboratório para conservação e restauro dedicado ao monsenhor Ivo Cagliari
O Museu Arquidiocesano de Arte Sacra (MAAS), localizado no subsolo da Catedral de São Sebastião, na Avenida República do Chile, no Centro do Rio, inaugurou no dia 25 de novembro a I Exposição Arquidiocesana de Presépios, abrindo oficialmente o período de visitação que se estende de 26 de novembro a 11 de janeiro.
Com a iniciativa, o MAAS reafirma seu compromisso com a preservação do patrimônio religioso e cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro, oferecendo à cidade um espaço de encontro, fé e arte, e convida os visitantes a contemplarem a espiritualidade do Natal por meio dos presépios. Também fez parte da cerimônia a bênção do laboratório para conservação e restauro, dedicado ao monsenhor Ivo Cagliari, construtor e primeiro pároco da Catedral.
A cerimônia de inauguração, conduzida pelo seminarista Guilherme Brandi e animada com cantos sob a maestria de Vito Nunzianti, foi realizada em frente ao MAAS e reuniu o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, diversos sacerdotes, religiosas, seminaristas e fiéis.
Preparação para a chegada do Menino Deus
Na solenidade de abertura, o pároco da Catedral, cônego Cláudio dos Santos, que também exerce a função de diretor administrativo do MAAS, afirmou que a realização da mostra é motivo de honra para a Arquidiocese do Rio, especialmente por ocorrer no Ano Jubilar da Catedral, que se prepara para celebrar meio século de sua dedicação. Ele destacou a inspiração original de São Francisco de Assis ao criar o primeiro presépio da história: “olhar para a figura daquele que traz a salvação para todos nós, que é Cristo Jesus”.
Cônego Cláudio também ressaltou o papel fundamental do monsenhor Ivo Cagliari, homenageado durante a abertura. Segundo explicou, foi ele quem, por ocasião da inauguração da Catedral, começou a reunir as primeiras peças do acervo do museu, vislumbrando a criação de um espaço dedicado à arte sacra na Arquidiocese. “Monsenhor Ivo dedicou parte da sua vida para que tudo isso pudesse acontecer”, afirmou.
A cerimônia incluiu ainda a bênção do Laboratório Monsenhor Ivo Cagliari, novo espaço ampliado para restauro de obras, que antes funcionava em uma pequena sala e agora ganha estrutura mais robusta dentro do museu.
Cônego Cláudio manifestou gratidão por poder conduzir a inauguração como o quinto pároco da Catedral e por participar das atividades comemorativas do jubileu. Ele saudou os presentes e expressou sua alegria por promover uma iniciativa que prepara simbolicamente a comunidade para a chegada do Menino Deus: “É uma grande alegria darmos início a esta exposição e reconhecermos a beleza e a importância do nosso Museu de Arte Sacra”.
A arte sacra passa pela catequese
Na sua mensagem, o vigário episcopal para a Cultura, cônego Marcos Willian Bernardo, destacou a importância da arte como instrumento de evangelização e de expressão da fé cristã. Ele ressaltou que a Igreja compreende a arte religiosa e a arte sacra como caminhos privilegiados para anunciar o Evangelho. Segundo afirmou, “a arte passa, em primeiro lugar, pela catequese”, e seu propósito não se limita a apresentar o belo por meio das obras expostas, mas a permitir que “esse belo toque a interioridade humana”, conduzindo à contemplação “da beleza do Evangelho e das situações pelas quais o Senhor passou”.
O vigário episcopal enfatizou que a cultura é parte essencial da missão evangelizadora da Igreja, especialmente quando cultivada com sensibilidade pastoral. Ele registrou a atenção especial do arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, para com as iniciativas culturais da Arquidiocese. “A evangelização passa pela cultura, mas é importante a sensibilidade para que isso se torne atual também nos dias de hoje”, destacou.
Ao lembrar que a exposição de presépios inaugura um novo ciclo de iniciativas culturais, cônego Marcos afirmou que a Arquidiocese do Rio está empenhada em ampliar o diálogo entre fé, arte e sociedade. Ele mencionou que, por orientação do arcebispo, neste ano foi realizado também o Primeiro Encontro Arquidiocesano de Corais, reunindo músicos e grupos ligados à música sacra. Para 2026, anunciou outro projeto significativo: “Estamos programando coisa boa, que é o primeiro festival de cultura, com pessoas e grupos que vêm de fora para mostrar que existe uma cultura católica através das artes cênicas, da música, da pintura, de tudo por onde o bem se manifesta”.
O vigário destacou que o incentivo à cultura não é apenas uma valorização estética, mas parte da visão pastoral que reconhece a dimensão humana e espiritual presente nas expressões artísticas. Ele sublinhou que Dom Orani demonstra “sensibilidade eclesial e humana ao valorizar esse elemento antropológico divino que é a cultura”. Para ele, a cultura nasce de uma profunda interação entre Deus e a pessoa humana: “A cultura não é apenas feita pelo homem; ela é fruto de uma simbiose da ação de Deus no homem”, permitindo que o ser humano expresse aquilo que percebe e comunica de forma simbólica “para que o outro tenha mais facilidade para se aproximar do absoluto”.
Presépio: Evangelho vivo
A irmã Lúcia Imaculada, da Congregação de Nossa Senhora de Belém, dirigiu durante a inauguração da Exposição de Presépios uma reflexão marcada pela espiritualidade natalina e pelo sentido missionário da tradição do presépio. Representando sua congregação, a religiosa destacou que o tempo do Natal é, para as irmãs de Belém, um período de profunda renovação do carisma. Segundo afirmou, o mistério da encarnação convida a “fazer Jesus nascer na gruta dos corações, especialmente nas escolas leigas”, onde a congregação desenvolve grande parte de sua missão educativa.
A religiosa destacou que o trabalho pastoral de suas irmãs se estende também às atividades paroquiais, sobretudo à catequese, sempre inspirado no amor de Deus manifestado em Cristo. Recordando o versículo de João 3,16, ela afirmou: “Não pode haver nada mais espantoso e maravilhoso do que o próprio Pai celeste enviar seu Filho para nos salvar”, sublinhando que o nascimento de Jesus é o centro de toda a espiritualidade cristã.
Irmã Lúcia fez referência à carta apostólica Admirabile Signum, do Papa Francisco, sobre o significado do presépio. Citando um trecho do documento, lembrou que “representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar com simplicidade e alegria o mistério da encarnação do Filho de Deus”. Destacou ainda que, segundo o Pontífice, “o presépio é como um evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura”, convidando o fiel a colocar-se espiritualmente a caminho, atraído pela humildade de Cristo.
A religiosa ressaltou que a tradição de montar presépios está profundamente enraizada na cultura cristã, presente em lares, paróquias, conventos, catedrais e até em espaços públicos. Para ela, essas representações “tocam o coração e despertam a fé”, ajudando a tornar mais viva a memória do nascimento do Salvador. Ela recordou ainda que essa tradição começou com São Francisco de Assis, em 1223, quando o santo encenou pela primeira vez a natividade como forma de aproximar as pessoas do mistério de Belém.
Ao convidar o público a entrar espiritualmente na exposição, a religiosa afirmou: “Ao entrarmos neste Museu de Arte Sacra, estaremos entrando em Belém”. Ela motivou os visitantes a contemplarem a Sagrada Família com profundidade, fazendo perguntas que ajudam a transformar a experiência do presépio em um encontro pessoal com Cristo: “O que este presépio tem a me dizer? Quem sou eu neste cenário? Que presente posso ofertar ao Menino Jesus?”
Em sua conclusão, irmã Lúcia prestou homenagem à fundadora da congregação, Madre Maria Helena Cavalcanti, falecida há nove meses, autora de diversas reflexões e representações sobre o mistério de Belém. Citando uma de suas mensagens, destacou: “Em volta desta manjedoura, milhões e milhões de pessoas […] se debruçam na contemplação do Menino Deus, cheias de espanto, ternura e reverência. […] O Menino nasceu para nós. […] Somos todos irmãos, é a nossa festa de família. Vamos a Belém. A estrela está lá brilhando e o Menino está chamando.”
A cultura é essencial para a evangelização
Durante a inauguração da I Exposição Arquidiocesana de Presépios, realizada no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra (MAAS), o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, destacou a importância da iniciativa como expressão de fé, evangelização e valorização cultural. Em sua mensagem, o arcebispo sublinhou a alegria da Arquidiocese em dar mais um passo significativo dentro das comemorações pelos 50 anos da Catedral Metropolitana. “É uma alegria dar esses passos que estamos dando”, afirmou, agradecendo o trabalho da equipe do museu e do pároco, cônego Cláudio dos Santos.
Dom Orani ressaltou que a ação evangelizadora da Igreja está profundamente ligada à cultura, destacando o papel do vigário episcopal para la Cultura, cônego Marcos Willian Bernardo. Para ele, a criação de um setor específico dedicado à cultura tornou possível fortalecer iniciativas que valorizam o patrimônio e o diálogo da fé com os diversos modos de expressão artística. “A preocupação com a cultura é essencial para a evangelização, pois ela faz parte da própria gênese da cidade e da vida das pessoas”, afirmou.
Ao recordar sua experiência pastoral, o arcebispo mencionou outras iniciativas com presépios que marcaram sua trajetória, desde exposições tradicionais em paróquias até grandes instalações públicas em ruas e praças. Ele destacou o potencial evangelizador dessas ações. “O presépio é uma oportunidade de fazer com que o valor e a importância do Natal sejam apreciados”, disse, lembrando que a proximidade do Advento torna a exposição ainda mais significativa para a preparação espiritual dos fiéis.
Inspirando-se na carta apostólica Admirabile Signum, do Papa Francisco, Dom Orani mostrou que o presépio é mais que um símbolo: é catequese viva. Ele citou o texto do Pontífice ao afirmar que “representar o nascimento de Jesus é anunciar com simplicidade e alegria o mistério da encarnação” e que o presépio é “como um evangelho vivo extraído das páginas da Sagrada Escritura”. Reforçou, ainda, que o Papa lembra que essa tradição acompanha o povo cristão há séculos e educa crianças, jovens e adultos na fé, convidando à contemplação e ao encontro com o Deus que se fez próximo.
O arcebispo também destacou a alegria de inaugurar o Laboratório de Restauro Monsenhor Ivo Cagliari, ampliado e revitalizado. Recordou o legado do sacerdote, importante figura da administração arquidiocesana e grande incentivador da criação do Museu de Arte Sacra. “É uma justa homenagem àquele que tanto trabalhou pela Arquidiocese do Rio”, afirmou, sublinhando que o novo laboratório deverá restaurar obras relevantes e também servir como espaço formativo para novos profissionais da área.
Dom Orani concluiu sua mensagem destacando que a inauguração da exposição e do laboratório é um presente para a Arquidiocese do Rio no início do ciclo litúrgico. “Abrimos esta exposição do presépio olhando para o Advento que se aproxima e para o Natal que nos encontrará com o coração aberto”, declarou. Para ele, a iniciativa renova o compromisso de anunciar ao mundo a fé cristã e preparar os corações para celebrar o mistério da Encarnação.
Símbolo vivo do nascimento do Salvador
Por fim, o diretor artístico do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, padre Fernandes Elias Junior, ressaltou a diversidade e a riqueza cultural presentes no conjunto de obras selecionadas para a mostra. Ao apresentar o acervo reunido, explicou que os presépios contemplam diferentes materiais, estilos e origens. Segundo descreveu, “os presépios vão desde uma caixa de palito de fósforo, um presente muito bonito, até peças de barro cozido de Caruaru, de papel machê, plástico, palha e outros materiais que vocês vão poder observar”.
O diretor artístico agradeceu aos expositores, colaboradores e amigos que contribuíram para tornar a exposição possível, seja no transporte das peças, seja no apoio logístico. Ele reconheceu que o desafio havia sido proposto pelo arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, e afirmou com alegria: “O desafio que Dom Orani pediu, de fato conseguimos”. Dirigiu também um agradecimento especial à equipe do museu e ao público presente pela participação na tarde de abertura.
Padre Fernandes explicou que, para esta primeira edição, optou-se por montar cenários que permitem ao visitante observar com mais clareza os detalhes de cada presépio. “Optamos em ter cenário justamente para vocês observarem de fato as peças, poderem ver como é composta cada pecinha, cada integrante deste presépio”, afirmou. Ele destacou que alguns conjuntos são formados por apenas três figuras, enquanto outros chegam a ter quinze elementos, o que demonstra a variedade de expressões e tradições que envolvem a representação do nascimento de Jesus.
Entre os planos futuros, o diretor ressaltou o desejo de incluir um presépio napolitano na próxima edição da mostra. “Nosso maior sonho era trazer um napolitano, que fica mais para a segunda exposição no ano que vem”, revelou. Ainda assim, celebrou o resultado da edição inaugural: “Conseguimos 42 presépios, para que vocês possam fazer uma grande exposição e ver de fato o Menino Jesus na manjedoura, que é o que nos une hoje nesta tarde”.
Padre Fernandes também comemorou a inauguração do novo Laboratório de Restauro do MAAS, espaço dedicado à conservação do acervo. Ele lembrou que o museu caminhará para seu jubileu de 25 anos em 2026, reforçando sua identidade como instituição que nasceu junto com a Catedral: “Vamos comemorar os 25 anos do museu em 2026. Ele nasce com a Catedral”.
Ao final, anunciou que novas iniciativas culturais já estão previstas. Atendendo à recomendação do arcebispo, afirmou: “Dom Orani recomendou outra exposição e nós vamos realizar no ano que vem”. Sua mensagem encerrou a cerimônia com um convite à contemplação e à valorização da arte sacra, lembrando que o presépio, em suas múltiplas expressões, permanece como símbolo vivo do nascimento do Salvador.
Carlos Moioli