O Ano Litúrgico

“Na liturgia da Igreja, Cristo significa e realiza, principalmente, o seu mistério pascal. Durante a sua vida terrena, Jesus anunciava pelo seu ensino e antecipava pelos seus atos o seu mistério pascal. Uma vez chegada a sua «Hora», Jesus vive o único acontecimento da história que não passa jamais: morre, é sepultado, ressuscita de entre os mortos e senta-Se à direita do Pai «uma vez por todas» (Rm 6, 10; Hb 7, 27; 9, 12). É um acontecimento real, ocorrido na nossa história, mas único; todos os outros acontecimentos da história acontecem uma vez e passam, devorados pelo passado. Pelo contrário, o mistério pascal de Cristo não pode ficar somente no passado, já que pela sua morte, Ele destruiu a morte; e tudo o que Cristo é, tudo o que fez e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e assim transcende todos os tempos e em todos se torna presente. O acontecimento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida” (Catecismo da Igreja Católica, n.1085).

A liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Cristo. Em volta deste núcleo fundamental da nossa fé, celebramos no Ano Litúrgico a memória do Ressuscitado na vida de cada pessoa e da comunidade (Jesus deixou de estar presente perto de nós com o seu corpo, para ficar presente em nós pelo seu Espírito).

O Ano Litúrgico “revela todo o mistério de Cristo no decorrer do ano, desde a encarnação e nascimento até à ascensão, ao pentecostes e à expectativa da feliz esperança da vinda do Senhor” (SC 102). Ele assim nos propõe um caminho espiritual, ou seja, a vivência da graça própria de cada aspecto do mistério de Cristo, presente e operante nas diversas festas e nos diversos tempos litúrgicos. 

Ao longo do Ano Litúrgico, não apenas recordamos as ações de Jesus, mas sua celebração tem força sacramental e especial eficácia para alimentar a vida cristã: “é o próprio Cristo que, no Ano Litúrgico, persevera em sua Igreja e prossegue aquele caminho que iniciou em sua vida mortal com o objetivo de que os homens entrem em contato com seus mistérios e por eles vivam” (Pio XII).

Através da liturgia os fiéis alcançam o poder santificador dos mistérios de Cristo, cuja presença é especialmente intensa na Eucaristia e na Liturgia das Horas. A celebração dos mistérios da salvação leva à “imitação” de Cristo, um processo de assimilação que começa com a Iniciação Cristã e vai se desenvolvendo mediante a Penitência e a Eucaristia até chegar a hora da passagem do cristão deste mundo para o Pai.

Temos dois “tempos fortes” durante o ano: o Ciclo Pascal, tendo como centro o Tríduo Pascal, a Quaresma como preparação e o Tempo Pascal como prolongamento; o Ciclo do Natal, com sua preparação no Advento e o seu prolongamento até a festa do Batismo do Senhor. Além destes dois, temos o Tempo Comum.

O início do Ano Litúrgico é marcado pelo Tempo do Advento, que possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para a Solenidade do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa (NALC 39).

O Tempo do Natal é a comemoração do Nascimento do Senhor, em que celebramos a troca de dons entre o céu e a terra, pedindo que possamos participar da divindade daquele que uniu ao Pai a nossa humanidade. Na Epifania, celebramos a manifestação de Jesus Cristo, Filho de Deus, luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação.

Na Quaresma, pela lembrança ou preparação do Batismo e pela Penitência, quer-se propor que os fiéis ouçam com mais frequência a Palavra de Deus e entreguem-se à oração, preparando-se para a celebração do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, o Tríduo Pascal. Neste, que é o ápice do Ano Litúrgico, Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus (SC 109; NALC 18).

Os 50 dias entre o Domingo da Ressurreição e o Domingo de Pentecostes são um tempo de alegria e exultação, vividos como um só dia de festa, um grande domingo (são dias de Páscoa e não após a Páscoa).

Nos domingos do Tempo Comum é feita a leitura semicontínua do Evangelho. Cada texto proclamado nos coloca no seguimento de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito do fim dos tempos. Temos também as festas do Senhor e a comemoração das testemunhas do Mistério Pascal (a Virgem Maria, os Apóstolos e Evangelistas e os demais Santos e Santas).

 

Dom Célio da Silveira Calixto Filho

Bispo Referencial da Comissão Arquidiocesana de Pastoral da Liturgia

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