A distribuição de cestas básicas para famílias carentes da comunidade Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, e de presentes de Natal para as crianças da Capela da Anunciação, que também fica nela, é uma tradição na época de Natal na Paróquia da Ressurreição. A festa das crianças teve início em 1985, no ano em que o monsenhor José Roberto Devellard, antigo pároco, falecido em 2020, assumiu a paróquia, e continua com o atual pároco, cônego Ionaldo Pereira da Silva.
A Paróquia da Ressurreição distribui todos os meses mais de uma tonelada de alimentos nas cestas básicas para as famílias. Sempre no primeiro final de semana de cada mês, tem a “Campanha do Quilo”, quando os paroquianos fazem doações para que a paróquia compre alimentos para a cesta. No Natal, a cesta é mais substanciosa, com comidas típicas da época do Natal.
De acordo com Antônio Camões, que trabalha na paróquia e há mais de 30 anos ajuda os párocos na festa de Natal, “foram entregues, neste ano, cem cestas básicas, no dia 14 de dezembro, a tempo de preparar a Ceia de Natal. Elas beneficiam em torno de 400 pessoas por mês, e, neste mês de dezembro, as famílias também recebem um kit de Natal, que, neste ano, tinha doces, panetone e outros alimentos”.
Antes da distribuição, cônego Ionaldo abençoou as pessoas e as cestas e todos cantaram músicas de Natal. Todas as famílias são cadastradas na Capela da Anunciação, que é coordenada pelas missionárias Michele, Maria Rosa, Maria Aline e Francisca, religiosas da Sociedade de Vida Apostólica Domum Dei. As irmãs trabalham na capela desde a década de 1980, quando as irmãs Michele e Odete, já falecida, vieram ao Rio de Janeiro iniciar a missão, a convite do Cardeal Eugenio de Araujo Sales, e foram acolhidas pelo monsenhor José Roberto Devellard, que construiu uma capela, um centro pastoral e uma casa.
As crianças descem do morro com as catequistas. Neste ano, elas deixaram a comunidade por volta das 14h30, e a expectativa e ansiedade foram tão grandes que de manhã já tinha criança na capela, esperando a hora de seguir para a igreja.
“Desde o dia em que avisamos que as inscrições para a festa estavam abertas, os pais e as crianças já viviam a alegria e a expectativa de receberem um brinquedo e uma roupa para o dia de Natal. Muitos pais manifestaram a alegria de ver seus filhos participando, porque eles também participaram da festa quando crianças”, disse irmã Maria Rosa. Ela, inclusive, conhece quase todos esses pais que desciam para receber os brinquedos de Natal.
Irmã Maria Rosa considera a festa de Natal da paróquia uma bênção, uma gratidão a Deus e à paróquia, por permitir que essas crianças tenham a alegria de vivenciar o nascimento de Jesus, recebendo um brinquedo de Natal.
“Não podemos esquecer também dos paroquianos, dos benfeitores que colaboraram ajudando para tornar essa festa possível. Para nós é um dia cansativo, mas um cansaço que vale a pena”, disse a religiosa.
A festa começou a ser preparada com muita antecedência, quase um mês, com o pedido nas missas de doação de brinquedos e roupas. Vale destacar que, desde o início da festa, ela sempre contou com a presença de arcebispo do Rio de Janeiro, começando com Dom Eugenio Sales, passando por Dom Eusébio Scheid e, agora, com a presença anual de Dom Orani Tempesta, que nunca deixou de faltar na confraternização.
Além da Paróquia da Ressurreição, o arcebispo destacou a generosidade das paróquias e capelas da arquidiocese, nesta época do ano, que realizam trabalhos com as crianças.
“É o Natal chegando, e tudo é feito por Jesus Cristo que nasceu no meio de nós e está próximo de nós”, disse Dom Orani na confraternização.
Além do cônego Ionaldo, a festa contou com as presenças dos vigários paroquiais, padres Darlan Carvalhal Hechet e Francisco Fabiano Abreu de Freitas, do diácono Jacinto Daniel de Moura Brasil e do seminarista Lacton Lucas Carvalho, que trabalham na paróquia.
Desde o início da festa, a paróquia fez questão de enfatizar que eram brinquedos e roupas novas. Uma equipe ficou encarregada de montar as sacolas de brinquedo. Em anos anteriores, essa equipe era coordenada por Maria Elisa Levinsohn, que desde o início preparava os pacotes com muito carinho, junto com várias paroquianas voluntárias. Agora, quem está à frente é Laís Amado Mathias.
“É muito gratificante e aquece muito o coração poder participar desse projeto, o Natal da Crianças, na Paróquia da Ressurreição. É um projeto de mais de 30 anos e importante para as crianças carentes de nossa comunidade. Muitas dessas crianças passam o ano sem ganhar uma roupa nova, um brinquedo novo, mas o que mais me toca o coração é poder ver o sorriso, a alegria e a felicidade no rosto delas”, afirmou Laís.
“É muito gratificante para nós paroquianos contribuir com roupas e brinquedos para essas crianças. A gente sabe que muitas delas só recebem presentes no Natal da paróquia, que seus pais não têm condições de comprar, isso alegra o coração. É um gesto de solidariedade e de amor fazer a alegria desses meninos e dessas meninas”, disse uma paroquiana.
Outro gesto que emocionou foi presenciado pelo diácono Jacinto Daniel, quando viu um menino sorteado, que podia escolher uma bola, um carrinho, uma prancha de presente, mas fez questão de pegar uma boneca para dar de presente à sua irmã.
A importância da participação da comunidade se fez presente no Auto de Natal, com o casal David e Lizandra, que participam há anos da festa e, neste ano, participaram da encenação como São José e Nossa Senhora, e levaram o neto Bernardo, que representou o Menino Jesus.
“É uma alegria imensa poder servir na paróquia onde tenho toda uma história. Meu primeiro contato com a Ressurreição foi aos 14 anos na missa de formatura da FIA, celebrada pelo nosso saudoso monsenhor José Roberto. Desde então, com a graça de Deus, toda uma caminhada nesse lugar que é minha segunda casa. Aqui, conheci meu marido, me casei, batizei meus filhos e também meu neto. Neste ano, foi muito especial para mim poder estar com meu netinho para trazer às centenas de crianças o verdadeiro sentido do Natal. O sorriso de cada criança nos emociona! Poder ajudar também na campanha do quilo que beneficia às famílias necessitadas para mim não tem preço. Louvo e agradeço a Deus por tudo”, disse Lizandra.
O kit de presentes era composto por quatro brinquedos, uma peça de roupa e, todos os anos, as crianças ganham uma camisa alusiva ao Natal. Elas foram divididas em quatro grupos, cada grupo com uma camisa de cor diferente, para diferenciar as idades, de 4 a 10 anos. Todas as crianças receberam os presentes das mãos de Dom Orani.
Além dos brinquedos nas sacolas, que todas as crianças receberam, determinados brinquedos foram separados para sorteio: 11 bicicletas, mais de 30 bonecas, 40 pranchas, skates, patinetes, carrinhos e bolas.
A festa começou com a animação feita pelo cônego Ionaldo e pela banda da Ressurreição, com as crianças saudando o Menino Jesus e o Cardeal. Dom Orani puxou oração, lembrando o verdadeiro espírito do Natal, com todos rezando o Pai Nosso e a Ave Maria. Depois, ele abençoou as sacolas de presentes e agradeceu a todos os voluntários.
Luis Fernando Bruno coordenou e participou de uma pequena apresentação, enfatizando o espírito do Natal, o nascimento do menino Jesus, alegrando a meninada ao entrar na nave central com pernas de pau. Para Bruno, a experiência de participar do Natal na paróquia é sempre renovadora. “É uma expectativa da pastoral do teatro da paróquia e, principalmente, minha, que já fiz de tudo nesses quase 40 anos do Natal. Para nós, enquanto artistas, devotos, cristãos que vivem esse período do Natal, é um momento de renovação dos nossos votos e esperanças que essa Criança traz para todos nós”. A encenação, disse Bruno, é um momento de relembrar que a gente precisa manter essa Criança viva dentro de nós, para olhar o mundo com mais esperança. Todas as pessoas que participaram da encenação são voluntários da paróquia.
Além da distribuição dos brinquedos, no final as crianças ganharam um lanche, com sanduíche e refrigerante. Neste ano, o lanche foi doado por uma pessoa que morou na comunidade Pavão-Pavãozinho, que durante muitos anos participou da festa como criança, e hoje, adulto, mora no exterior, mas fez questão de doá-lo.
Renata Maria da Conceição, que frequenta a paróquia há anos, é presença constante na festa, e coordenou a distribuição dos lanches neste ano. “Comecei participando da festa na catequese, e, durante muitos anos, eu recebia os presentes, depois, vi meus filhos participando, e, hoje, estou aqui com a minha filha ajudando. Isso alegra meu coração. Para mim é uma honra e alegria participar dessa festa”. Ela também destacou a alegria da maioria das crianças que passa o ano sem ganhar presentes e espera o ano todo por essa festa. “Isso aumenta o significado do Natal para esses meninos e meninas”. O kit do lanche, contou Renata, tinha um cheeseburger, batata frita e bebida feita à base de extrato de guaraná.
Jennifer Pereira Pompílio dos Santos também é presença há cerca de 10 anos. “Já fiz de tudo nessa festa; já ajudei na distribuição de brinquedos, na organização, e, agora, ajudo na distribuição dos lanches. “É sempre muito alegre fazer parte dessa equipe, e neste ano, uma criança me deixou emocionada ao ver que estava recebendo um lanche reforçado, com cheeseburger e batata frita”. São meninos que não têm com frequência esse tipo de alimento na mesa. Para Jenniffer, o Natal das Crianças na paróquia é criar momentos felizes para elas e deixar vivo nos corações o sentimento de caridade.
Todos os anos, devido à generosa doação dos paroquianos, sempre há um número maior de sacolas com brinquedos e roupas que a Paróquia da Ressurreição doa para outras paróquias, e, neste ano, não foi diferente.
Carlos Eduardo Bittencourt
