Diversas são as obras que D. Sebastião Leme, 3º arcebispo do Rio de Janeiro e segundo cardeal brasileiro, empreendeu ao longo do tempo em que esteve à frente da diocese carioca. Desde o início da década de 1920, quando assumiu como coadjutor do já enfermo Cardeal Arcoverde, D. Leme trabalhou incansavelmente em diversas frentes. Traçando desde sua célebre carta pastoral de 1916 o seu plano de ação, orientou, em 1922, a criação do Centro Dom Vital; convocou, no mesmo ano, o primeiro Congresso Eucarístico no Brasil, em ocasião da comemoração do centenário da Independência; reabriu, em 1924, o Seminário São José, o mais antigo do Brasil; inaugurou, em 1926, o Santuário Nacional de Adoração Perpétua; inaugurou o Cristo Redentor, em 1931; criou, na década de 1940, a PUC-Rio. Essas são só algumas das mais importantes obras desse cardeal, que marcou profundamente não só a história da Igreja, mas do Brasil de modo geral.
Nesta já grandiosa coroa de obras, é possível ainda acrescentar mais uma pedra preciosa: a fundação, em 1934, do Pontifício Colégio Pio Brasileiro. Desde 1927, o gênio de D. Leme reuniu o episcopado nacional em torno de uma campanha para a construção, em Roma, de um colégio que pudesse acolher seminaristas e sacerdotes brasileiros que prosseguiam seus estudos na Cidade Eterna. Desde a segunda metade do séc. XIX, muitos sacerdotes e prelados brasileiros, incluindo o próprio D. Leme, haviam estudado no Colégio Pio Latino-Americano. Com o crescimento, porém, das vocações e do desejo dos bispos de ter em suas dioceses sacerdotes formados junto da Cátedra de São Pedro, viu-se a necessidade de que a nação brasileira contasse com uma casa própria em Roma. Dessa forma, D. Leme liderou a campanha que moveu os católicos de todo o Brasil a contribuir para a construção do Colégio Pio Brasileiro, tendo só a Arquidiocese do Rio de Janeiro contribuído com a vultosa soma de um milhão de liras.
Já em 1929, era lançada a pedra fundamental da construção do novo colégio para receber os levitas brasileiros, e, em 1934, o Pontifício Colégio Pio Brasileiro iniciava suas atividades, contando com 34 alunos. Sua direção foi colocada sob a condução dos padres jesuítas, que ali permaneceram por 80 anos.
Em dezembro de 1933, em carta endereçada ao Cardeal Leme, o prefeito da Sagrada Congregação de Seminários e Estudos Universitários, Cardeal Catano Bistetti, indicava que o segundo cardeal brasileiro empreendeu esta benemérita obra para o clero brasileiro “sem se deixar atemorizar por dificuldade de qualquer ordem.” Mas sem dúvida alguma, o mais belo elogio veio do próprio sucessor de Pedro, quando, por ocasião do jubileu de 25 anos de episcopado de D. Leme, em 1936, o Papa Pio XI lhe endereçou uma carta autografada, recordando, dentre os vários frutos do episcopado fecundo do cardeal, o Colégio Pio Brasileiro: “Até aqui, em Roma, tua solicitude episcopal avulta o Colégio Pio Brasileiro, verdadeiro monumento recentemente construído, e, para cuja fundação e êxito acorreste tu e os de tua arquidiocese, com liberal munificência.” Cremos ser as palavras do Santo Padre suficientes para que se perceba a importância, neste ano em que o Pontifício Colégio Pio Brasileiro completa 90 anos, de D. Sebastião Leme para que essa obra já quase centenária, em favor da boa formação do clero nacional, se desenvolvesse e continuasse até os nossos dias, gerando frutos de bons e santos sacerdotes que, tendo completado suas formações junto do túmulo do Príncipe dos Apóstolos, retornam para a Terra de Santa Cruz com o coração afervorado de zelo pastoral, buscando trabalhar incessantemente pela salvação das almas no extenso território da nação brasileira.
Eduardo Douglas Santana Silva, seminarista da Síntese