Cadernos do Concílio – Volume 16
Hoje nos debruçaremos no Volume 16 da Coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II, que traz como tema: “as imagens da Igreja”. Quando falamos em imagens da Igreja, por vezes podemos pensar nas diversas “imagens” de santos que temos em nossas paróquias, mas esse tema vai muito além disso. Esse tema se refere à imagem que a Igreja deve ter, ou seja, refletir a imagem de Cristo Bom Pastor.
Conforme já sabemos, a cabeça da Igreja é Cristo, nós somos os membros e devemos estar totalmente ligados a essa cabeça, todas as nossas ações devem ser de acordo com aquilo que Cristo pregou e nos ensinou. E ainda, se um membro da Igreja está doente, os outros membros devem cuidar desse que está doente. Todos em plena comunhão com a cabeça que é Cristo.
Por isso, a imagem que a Igreja deve passar é de uma Igreja misericordiosa, acolhedora e amorosa. A Igreja, à semelhança de Cristo, deve acolher a todos, deve colocar em prática o mandamento do amor, instituído por Jesus. Anunciar que a salvação é para todos, e, sobretudo, para aqueles que de coração sincero desejem receber essa salvação.
A Igreja é mais do que o templo com “belas pedras”, mas a Igreja é feita de pessoas, todos nós somos “templos do espírito Santo” e pertencemos a essa Igreja. Conforme disse Jesus certa vez: “Destruí esse templo e em três dias eu o levantarei” (Jo 2, 18). Jesus aqui se refere ao templo de seu corpo e aqui serve para cada um de nós que somos a Igreja viva hoje. Mesmo que não haja uma Igreja (templo) erigida, em qualquer lugar em que nos reunirmos, Jesus estará em nosso meio e formamos a Igreja.
O Papa Francisco insiste muito que a Igreja deve ser uma Igreja em saída, missionária, ou seja, não podemos ficar somente entre muros esperando as pessoas virem, mas devemos ir ao encontro das pessoas e anunciar a misericórdia que vem de Jesus. Dessa forma entendemos que a Igreja é itinerante, ou seja, não é fixa num templo de tijolos e pedras, mas é viva, feita de pessoas que são discípulos e missionários.
Essa deve ser a imagem, de uma Igreja misericordiosa, missionária, servidora e acolhedora. O Espírito Santo torna essa Igreja sempre mais viva, e a cada batismo que acontece novos membros passam a fazer parte dela. Tornando assim templos vivos do Espírito Santo e em plena comunhão com Cristo, cabeça dessa Igreja.
O Concílio Ecumênico Vaticano II valorizou essa imagem da Igreja como acolhedora, servidora, misericordiosa e missionária. O Concílio quis aproximar mais a Igreja dos fiéis. Quis resgatar a ideia de que a Igreja tem dois mil anos de história, que foi fundada por Cristo e que cada um de nós fazemos parte do rebanho d’Ele.
No quarto domingo de páscoa, recordamos Jesus como o Bom Pastor, nós como batizados e batizadas fazemos parte do rebanho do Senhor e somos suas ovelhas. Ele nos conhece pelo nome e quer que façamos parte do seu rebanho, que somos todos nós que estamos inseridos na Igreja, e Ele é o Bom Pastor que está sempre pronto a nos acolher e cuidar de nossas feridas. Como dizia Jesus, Ele veio para curar as ovelhas feridas da casa de Israel.
A Igreja hoje é chamada a ser a semelhança de Cristo Bom Pastor e ir atrás daquelas ovelhas perdidas e feridas. A Igreja tem que ser acolhedora e misericordiosa. Infelizmente, muitas pessoas se afastam da Igreja por não serem bem recebidas, por ser negada alguma missão, por ser negada a possibilidade de ajudar numa pastoral. Nunca podemos fechar a porta a ninguém, pois infelizmente ou irão buscar em outros lugares ou continuarão “perdidos” longe da Igreja.
A Igreja, como bem sabemos, tem mais de dois mil anos de história, estamos prestes a celebrar o Jubileu da Esperança em 2025, os 1700 anos do Concílio de Niceia (325) e os 60 anos de encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II (1965)! Que nós como Igreja viva possamos transmitir a imagem de uma Igreja acolhedora e misericordiosa, seguindo aquilo que Jesus deixou como legado e atualizando o que foi aprofundado no Concílio Ecumênico Vaticano II.
A Constituição Dogmática do Concílio Ecumênico Vaticano II que fala sobre a Imagem da Igreja é a “Lumen Gentium”. A tradução desse termo em latim significa “Luz das gentes”, ou seja, cada membro da Igreja através do batismo é chamado a anunciar Jesus Cristo e ser “sal da terra e luz do mundo”, é chamado a iluminar a vida do outro e não ser escuridão ou trevas. Como cada um de nós através do batismo formamos a Igreja, a imagem que a Igreja deve transmitir é de luz, iluminando a vida de todos os fiéis.
Faço o convite de tomarem o documento “Lumen Gentium” em mãos e ler sobre o que esse documento tão rico do Concílio Ecumênico Vaticano II fala sobre a Igreja. Em segundo lugar convido a cada um batizado e batizada que faz parte dessa Igreja a ser luz na vida dos outros e conduzir muitas pessoas a fé, sobretudo aquelas ovelhas perdidas. Sejamos missionários e missionárias nos dias de hoje e reflitamos o rosto misericordioso de Deus.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ