“Senhor, quem morará em vossa casa, e no vosso monte santo, habitará”? (Sl14/15)
Celebramos no primeiro domingo de setembro o Vigésimo Segundo desse Tempo Comum, iniciamos o Mês da Bíblia em que somos convidados a nos dedicarmos com mais atenção à Palavra de Deus, neste ano o livro de Ezequiel com o lema: “Porei em vós o meu Espírito e vivereis” (Ez 37,14). As paróquias, ao longo deste mês, podem colocar a Palavra em destaque na entrada da Igreja ou perto da mesa da Palavra. Neste domingo, agradecemos a nossa grande Romaria a Aparecida ocorrida neste sábado anterior.
O mês de setembro é o Mês da Bíblia porque no dia 30 celebramos a memória litúrgica de São Jerônimo, que traduziu a Bíblia do grego e do hebraico para o latim. Podemos, ao longo deste mês, colocar a Palavra de Deus em destaque também em nossa casa e todas as noites meditar em família a Palavra de Deus.
É claro que não devemos ler e meditar a Palavra de Deus somente no mês dedicado a ela, mas ao longo de todo o ano, o Mês da Bíblia é para lembrarmos a importância de São Jerônimo e para chamar a nossa atenção para a importância que devemos dar a Palavra de Deus. Em todas as missas participamos de duas mesas: “Palavra e Eucaristia”, primeiro nos alimentamos da Palavra e guardamos o que foi anunciado em nosso coração para depois nos saciarmos da Eucaristia. Por isso, a Palavra de Deus tem grande importância em nossa vida.
No Evangelho deste domingo, em mais um embate entre Jesus e os fariseus, Nosso Senhor diz que o que torna o homem impuro é aquilo que sai do seu coração, como por exemplo: maldades, adultério, calúnia e difamação. E não é o que entra no homem que o torna impuro. Portanto, cuidemos antes de tudo daquilo que sai de nossa boca, principalmente no que for para ofender o próximo e não nos preocupemos tanto com aquilo que entra.
A primeira leitura da missa deste domingo é do livro do Deuteronômio – Dt 4,1-2.6-8 –: Moisés orienta o povo a seguir os mandamentos e decretos do Senhor para que possam tomar posse na terra que o Senhor prometeu dar a eles. Não deveriam alterar nem tirar nada daquilo que o Senhor prescreveu a eles. Eles deveriam colocar em prática tudo que está escrito na lei, pois seriam vistos como uma nação sábia e inteligente diante dos outros povos.
Deus caminha junto conosco e é próximo de nós, do mesmo modo que era próximo do povo de Israel, por isso, cumpramos os mandamentos que é uma retribuição a Deus da proximidade d’Ele conosco. Cumprir os mandamentos de Deus é uma retribuição do seu amor para conosco e do amor que devemos manifestar ao próximo.
O Salmo responsorial é o 14 (15), que diz em seu refrão: “Senhor, quem morará em vossa casa, e no vosso monte santo, habitará”? Ou seja, é aquele sem pecado em seu caminho, e que vai progredindo na lei do Senhor. Sejamos também nós aqueles escolhidos para habitarmos eternamente na casa do Senhor.
A segunda leitura da missa deste domingo é da carta de São Tiago – Tg 1,17-18.21b-22.27 – e, dentro da perspectiva desse mês dedicado à Palavra, Tiago exorta cada um de nós a praticarmos a Palavra de fato e não sermos meros ouvintes. Praticar a palavra significa ajudar os pobres, abandonados e as viúvas. A palavra que escutamos deve nos impulsionar para a missão, sobretudo a missão de amar o próximo.
O Evangelho da missa deste domingo é de Marcos – Mc 7,1-8.14-15.21-23 –: esse trecho do Evangelho inicia com os fariseus e doutores da lei questionando Jesus sobre o fato dos discípulos comerem sem lavar as mãos. De fato, os fariseus e doutores da lei seguem muitos outros costumes, como por exemplo, ao voltar da praça não comem sem tomar banho, e não deixam de lavar as mãos antes das refeições, além do jeito certo de lavar copos, vasilhas e jarras.
Jesus critica essa atitude dos fariseus e dos doutores da lei e diz que o que torna o homem impuro é o que sai da boca do homem, ou seja, maldades, calúnia, difamação e outras coisas que denigrem a imagem do próximo. Muitas vezes “matamos” o próximo com a língua, ou seja, apontando inverdades e falando mal da vida do outro. Portanto, não é o fato de lavar as mãos ou não que torna o homem o impuro, mas as suas atitudes com o próximo que o tornam impuro.
Através desse texto podemos interpretar que não podemos ser “escravos” da lei, Deus não nos quer escravos d’Ele, a lei de Deus nos orienta o caminho que devemos seguir. Do mesmo modo esses outros costumes que os fariseus e doutores da lei seguiam, não é somente isso que importa, não é o fato de lavar ou não a mão, de tomar ou não banho que nos torna puros ou impuros, mas o que nos torna “impuros” é não amar o próximo, não exercer a caridade e falar mal dos outros.
Celebremos com alegria esse Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum, iniciando este Mês da Bíblia, e tenhamos no coração a certeza de que Deus nos deu o livre arbítrio para seguir ou não os seus mandamentos, Ele não nos obriga, mas nos orienta a segui-los. Nos preocupemos antes de tudo com aquilo que sai de nossa boca e se somos capazes de amar o nosso semelhante.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ