Zelar e cuidar: paternidade episcopal!

Este Mês Vocacional, na primeira semana que se reza pelos ministérios ordenados, tem um que pouco é refletido: o episcopal, pois no dia 4 comemoramos o Dia do Padre e no dia 10 o dos Diáconos. E entre a Semana de Oração pelo Ministério Ordenado e a Semana Nacional da Família, iniciada no Dia dos Pais, uma reflexão me vem à mente: o exercício da paternidade episcopal, um pouco fruto da experiência abacial segundo a Regra de São Bento.

Mesmo sem uma tradição de um dia específico, creio que somos chamados a rezar pelo ministério episcopal. O primeiro responsável pela vida da Igreja Diocesana, diante de Deus e no exercício de seu múnus pastoral, no exercício de sua missão paterna de zelar e cuidar dos presbíteros e do povo Deus a ele confiado. Tomo como referência inicial as sábias palavras do Papa Francisco em 8/9/2018, discurso que realizou na Sala Clementina, no Vaticano, durante seminário promovido pela Congregação para a Evangelização dos Povos.

Em seu discurso o Pontífice exortou sobre a identidade e missão do bispo. Inicialmente, o Santo Padre disse: “Interrogamo-nos sobre a nossa identidade de pastores para ter mais consciência desta, mesmo sabendo que não existe um modelo-padrão idêntico em todos os lugares”, acrescentando que “graças à efusão do Espírito Santo, o bispo é configurado a Cristo Pastor e Sacerdote. É chamado a ter os lineamentos do Bom Pastor e a tomar para si o coração do sacerdócio, ou seja, a oferta da vida”.

Chamados a viver a sinodalidade, uma Igreja que se põe à escuta do Espírito Santo, o tema da “paternidade episcopal” se torna atual e relevante para toda a Igreja.  A metáfora da “paternidade” reflete a responsabilidade e o compromisso dos bispos em zelar pelo rebanho, guiando-o com amor e sabedoria. O Papa Francisco evoca, em seu discurso, dois aspectos que desejo partilhar com vocês. Primeiro ao afirmar que o bispo é o pastor e “não vive para si, mas está voltado a dar a vida pelas ovelhas, em particular, as mais vulneráveis e em perigo”.  Neste contexto, o termo evoca a ideia de proteção, provisão e orientação. Assim como um pai cuida de sua família, o bispo é chamado a zelar pela sua diocese, garantindo que os presbíteros e fiéis sejam nutridos espiritualmente e estejam protegidos contra perigos espirituais. Portanto, esta dimensão de zelo está enraizada no amor pastoral e na preocupação genuína pelo bem-estar espiritual dos membros da comunidade.

Em segundo lugar, compreendemos que, além do zelo, a “paternidade episcopal” também requer um profundo senso de cuidado. Os bispos são chamados a serem pastores atenciosos, que se preocupam com as necessidades individuais e coletivas de seus presbíteros e demais ovelhas. Isso envolve ouvir atentamente, oferecer orientação espiritual, consolo e apoio em momentos de dificuldade, e promover uma cultura de acolhimento e inclusão dentro da comunidade diocesana. O cuidado pastoral demonstra a proximidade e a compaixão do bispo para com aqueles que estão sob sua responsabilidade. Neste sentido exorta o Papa: “Peço-lhes que tenham especialmente gestos e palavras de conforto por aqueles que experimentam marginalidade e degradação; mais do que os outros, estes precisam perceber a predileção do Senhor, de quem vocês são as mãos solícitas”. Recorrendo a outro ensinamento do Magistério da Igreja e que fundamenta a missão do bispo, encontramos que de índole trinitária o ser e o agir do bispo tem a sua raiz na própria vida de Cristo, que é toda ela trinitária. Cristo é o Filho eterno e unigênito do Pai desde sempre no seu seio (Jo 1, 18) e o ungido do Espírito Santo, enviado ao mundo (cf. Mt 11, 27 ; Jo 15, 26 ; 16, 13-14). Reconhecido como “Vigário do « grande Pastor das ovelhas » (Heb 13, 20), o bispo deve manifestar com a sua vida e com o seu ministério episcopal a paternidade de Deus, a bondade, a solicitude, a misericórdia, a doçura e a autoridade de Cristo, o qual veio para dar a vida e para fazer de todos os homens uma só família, reconciliada no amor do Pai, e a perene vitalidade do Espírito Santo que anima a Igreja e a apoia na sua debilidade humana”. Apostolorum Sucessores – Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos (vatican.va)

De acordo com o ensinamento do Magistério da Igreja, a paternidade episcopal vai além do simples zelo e cuidado; envolvendo a orientação espiritual e a liderança sábia, nasce de sua relação intrínseca com o mistério da Trindade. Assim temos que os bispos são chamados a serem guias espirituais, oferecendo ensinamentos sólidos, discernimento ético e direção moral para os presbíteros e fiéis. Sua autoridade é exercida não apenas em termos de governo eclesiástico, mas também no ensino da doutrina e na promoção da justiça social e da paz. A orientação sábia do bispo é essencial para o crescimento espiritual e o bem-estar da comunidade diocesana.

A paternidade episcopal é um chamado sagrado que exige zelo, cuidado e orientação por parte do bispo, que exercerá o ministério que lhe foi confiado não só quando desempenha na diocese as funções que lhe são próprias, mas também quando coopera com os seus irmãos de episcopado nos diversos organismos episcopais supradiocesanos. Sabemos que estas assembleias episcopais são expressão da dimensão colegial do ministério episcopal. Portanto, sua finalidade principal é a ajuda recíproca para o exercício do cargo episcopal e a harmonização das iniciativas de cada pastor, para o bem de cada diocese.

Ao receber a incumbência de zelar e cuidar do rebanho confiado a ele, o bispo realiza sua missão com a cooperação dos presbíteros, fortalecendo o vínculo que os une sacramentalmente. É no exercício da cura de almas, principal responsabilidade que cabe aos presbíteros diocesanos, por força da incardinação ou da dedicação a uma Igreja particular, são consagrados totalmente ao seu serviço para apascentar uma e a mesma porção do rebanho do Senhor.  Esta missão envolve não apenas manter as portas abertas para todos os presbíteros, mas também ir ao encontro deles, cuidando e acompanhando-os. Não custa recordar o que nos diz o Magistério da Igreja: No exercício do poder sagrado, o bispo diocesano tenha sempre diante de si o exemplo de Cristo, que por nossos pecados carregou a Cruz e da mesma Cruz nos perdoa e salva. O bispo é um pastor que carrega as ovelhas nos ombros e as pastoreia.

Vejo e sinto que a paternidade episcopal deve nos levar a ter os mesmos sentimentos de Cristo, e é nossa missão, cativar, “criar laços” de fraternidade e vínculos de amor, “se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo” (Antoine Saint Exupéry).

Empenhe-se totalmente em favorecer um clima de afeto e de confiança a fim de que os seus presbíteros respondam com uma obediência convicta, agradável e segura.  E como nos exorta o Papa Francisco, testemunhemos com humildade o amor de Deus, justamente como fez Jesus, que por amor se humilhou. Pediu que os bispos tenham a peito particularmente algumas realidades: as famílias, os seminários, os jovens e os pobres. Papa: o bispo é homem de oração, do anúncio e homem de comunhão – Vatican News

Procuremos em Cristo, o Bom Pastor, a sermos bons pastores para o Povo de Deus e, sobretudo, para os sacerdotes. O bispo diocesano deve zelar e cuidar de sua diocese, do seu presbitério e do povo santo de Deus!

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 

 

 

 

 

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