Entrega da Medalha Pedro Ernesto à Obra Adoção Espiritual

A cerimônia foi realizada no plenário do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara Municipal do Rio de Janeiro

(Discurso do bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Tiago Stanislaw, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 8 de setembro de 2025)

 

Agradeço cordialmente ao Vereador Diego Faro pela homenagem de hoje à Adoção Espiritual. Na sua pessoa, saúdo todos os vereadores, deputados e demais autoridades aqui presentes. Sinto que, nesta noite, além das obras propriamente homenageadas, estão também incluídos todos os que, de tantas maneiras, com coragem, entrega e dedicação, lutam em defesa da vida dos mais indefesos. Agradeço de modo muito especial, entre os presentes, àqueles que, com generosidade, apoio e carinho, têm colaborado na divulgação da Obra da Adoção Espiritual. Esta iniciativa começou oficialmente na Arquidiocese do Rio de Janeiro, com a bênção do nosso Cardeal, Dom Orani João Tempesta, no dia 8 de outubro de 2020, como gesto concreto ao final da Semana da Vida daquele ano.

Quando falamos em defender a vida, geralmente pensamos logo em ações concretas: iniciativas legislativas, mobilizações sociais, políticas públicas, campanhas educativas. Sim, elas são extremamente importantes, e, em alguns casos, indispensáveis. E, graças a Deus, há muitos que se dedicam com amor a essas missões — inclusive alguns que estão aqui hoje, entre nós. Mas existe também outra forma de defesa da vida, que acontece no invisível, no espiritual. E talvez seja, arrisco dizer, ainda mais eficaz. Ela se chama Adoção Espiritual.

A experiência da Adoção Espiritual logo nos revela algo essencial: os laços espirituais são mais importantes e profundos que os biológicos; sem eles, até os vínculos biológicos perdem sua beleza natural. Somos corpo e alma, mas é no espírito, pelo amor, que nascem as forças que moldam gestos, inspiram decisões e transformam o mundo visível a partir do invisível.

Para compreender melhor essa dinâmica, pensemos no matrimônio. Nele, o que une homem e mulher não é o sangue, mas o compromisso espiritual, selado com Deus e sustentado por Ele. Dessa comunhão espiritual brota naturalmente a união física. E dela nasce uma nova vida: uma criança que, pela intervenção amorosa de Deus, recebe já no momento da concepção a alma e a vocação para a eternidade. Desde esse instante, ela não é apenas um corpo em formação, muito menos um aglomerado de células. Ela é pessoa. Ela é mistério. Ela é templo. Porque foi concebida no encontro sagrado de dois seres espirituais.

Pensemos em outros exemplos de vínculos espirituais. São José não foi pai biológico de Jesus, mas, por um chamado divino, assumiu a missão de ser seu pai adotivo. A paternidade autêntica é, antes de tudo, espiritual. E a Virgem Maria, acolhendo lá no Calvário as breves palavras de Jesus, “Eis aí o teu filho”, num testamento eterno, tornou-se nossa Mãe: Mãe espiritual, que nos acompanha, intercede, consola e orienta.

É justamente nesta dimensão da nossa vida que surge a Adoção Espiritual das crianças ameaçadas pelo aborto. Assumir uma criança no nível espiritual é um gesto silencioso, humilde, muitas vezes escondido, mas profundamente eficaz. Nós não conhecemos essas crianças. Mas Deus as conhece e conhece também as circunstâncias nas quais surgiu a vida delas, suas carências e necessidades. E, quando nos colocamos à disposição d’Ele, com fé e amor, é o próprio Deus quem transforma a nossa oração em frutos de graça: proteção, ajuda e bênçãos de que elas mais precisam.

Praticando a Adoção Espiritual, tornamo-nos pais e mães espirituais dessas crianças. Durante nove meses, com nossa oração diária, oferecemos defesa, amor e, acima de tudo, esperança. A criança que adotamos espiritualmente pode estar do outro lado do mundo. Podemos nunca ver seu rosto, nem saber seu nome. Mas ela será protegida. Vai se sentir bem-vinda. Vai perceber nosso carinho e acolhimento. E aquela mãe, talvez confusa, assustada e sem apoio, também receberá as graças. Terá força para dizer sim à vida. Encontrará um caminho de luz onde antes via apenas escuridão.

E aqui está a grandeza da Adoção Espiritual: ela salva duas vidas. A da criança, que pode nascer. E a da mãe, que pode ser preservada das consequências espirituais, emocionais e físicas que o aborto provoca. É aqui que precisamos também voltar o olhar para a nossa realidade no Rio de Janeiro. Ainda temos muito a fazer para defender os mais frágeis e indefesos, mas também para criar iniciativas que alcancem as mulheres que, por causa da gravidez, se encontram em situação de vulnerabilidade. Cabe ao poder público garantir apoio, acolhimento e condições concretas — seja para que cada mulher possa criar seu filho com dignidade, seja para que encontre caminhos seguros e humanos na entrega legal para a adoção. É nossa responsabilidade fazer isso acontecer no Rio de Janeiro. Peço a Deus que esta Casa, símbolo da vida política da nossa cidade, seja também sempre um espaço de promoção e defesa da vida.

Porque, sejamos honestos: o aborto não é uma solução elegante para o drama de uma gravidez indesejada ou inesperada. Não é algo simples, técnico ou neutro. O aborto tira uma vida e fere profundamente outra. Mata uma criança e marca o corpo, a mente e a alma da mulher. Muitas mulheres que acreditaram que o aborto seria, no caso delas, uma saída, hoje compartilham conosco as dores persistentes do arrependimento, de feridas que, mesmo com o tempo, não cicatrizam por completo. Porque o aborto não livra a mulher gravida da maternidade; faz dela mãe do filho morto.

A Adoção Espiritual é uma resposta concreta ao que Jesus nos ensina: amar sem ver, cuidar sem exigir, oferecer-se sem esperar retorno. É um gesto profundamente cristão e profundamente humano.

E há ainda um efeito maravilhoso: essa prática nos transforma. Cada dia de oração por nosso filho espiritual vai nos formando por dentro, vai nos alinhando com o coração de Deus. Vai nos ensinando que a defesa da vida não é uma ideia abstrata, mas uma missão diária. E, dia após dia, passamos a compreender melhor: que nenhuma vida é descartável, que nenhuma criança merece ser rejeitada, e que nenhuma mulher precisa carregar o peso de uma decisão tão dolorosa como o aborto.

Essa é a realidade e a beleza da Adoção Espiritual. Ela é discreta, mas poderosa. Silenciosa, mas eficaz. Invisível aos olhos, mas profundamente real.

Por isso, convido cada um aqui presente que ainda não é mãe ou pai espiritual: abrace também a Adoção Espiritual. Torne-se pai ou mãe no espírito, e permita que Deus, por meio de você, salve vidas e transforme corações.

Muito obrigado!

 

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