Poucas são as instituições em nosso país que podem se orgulhar de celebrar um século de existência, pois os percalços da história tantas vezes frustram os projetos a que os homens se propõem. Uma situação muito sui generis, portanto, é a do Seminário Arquidiocesano de São José – com mais de 280 anos de existência, caminha rumo ao centenário de sua reabertura, demonstrando que há algo maior que as vicissitudes por onde caminha a história: a divina providência.
Fundada no séc. XVIII, a primeira casa de formação sacerdotal diocesana do Brasil tem sua história confundida com a própria história da Igreja e da Terra de Santa Cruz. Ali lecionaram grandes nomes, como Fr. Francisco do Monte Alverne, pregador da Casa Imperial, Carlos de Laet, importante escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, e Mons. Maurílio Teixeira-Leite Penido, nosso mais célebre filósofo e teólogo. Ali estudaram inúmeros sacerdotes e bispos (e, mais recentemente, um cardeal) que trabalharam pela evangelização.
Se as dificuldades levaram o seminário a ser fechado em 1907, a providência tratou de suscitar, em 1924, a figura de D. Sebastião Leme, que chegara, a pouco, para ser coadjutor do Cardeal Arcoverde, como aquele que deveria reabrir as portas do primeiro seminário do Brasil. E para isso contou com a ajuda do jovem Mons. Virgílio Spinelli Lapenda, que tomou aos ombros com grande zelo e amor a formação das vocações.
Desde 31 de maio de 1924, será Paquetá o cenário onde se desenvolverá essa nova fase. Ao noticiar a reabertura do seminário na pitoresca ilha da Baía da Guanabara, uma revista de grande circulação expressava: “Ora, em Paquetá está hoje plantado o Jardim da Igreja. (…) Daqui por diante, Paquetá valerá mais do que suas lendas, será algo mais do que a ilha dos luares prateados ou dos amores profanos, será: a Ilha do Seminário!”. Ali ficará a casa de levitas até 1932, quando retornará para o Rio Comprido, onde se encontra até os nosso dias.
Ao iniciarmos a caminhada para no próximo ano comemorarmos o centenário de reabertura do Seminário São José, alegramo-nos por essa obra inspirada por Deus, que colocou no coração de seu fundador, D. Fr. Antônio de Guadalupe, o zelo e a preocupação de que não faltasse no Brasil uma casa adequada para receber aqueles que deveriam ser bem formados para um dia trabalhar na vinha do Senhor. Seja no morro do Castelo, onde foi fundado, em Paquetá, onde foi reaberto, ou no Rio Comprido, onde agora se encontra, o seminário mantém em todos esse lugares e tempos a mesma característica de ser como a oficina de São José: o lugar onde se trabalha com Cristo para a edificação do seu Reino, no escondimento do recolhimento para um dia tornar ao povo, com coração ardente de amor, pela salvação da cada homem.
Na oração pelo clero que compôs, o Cardeal Leme, o insigne prelado, pede ao Coração Eucarístico de Jesus que multiplique “vocações sacerdotais na nossa pátria” e que atraia ao seu altar “os filhos do nosso Brasil”. Elevando a Deus uma ação de graças por, passados 100 anos, continuar escutando essa ardente prece iniciada por D. Leme, devemos fazer o firme propósito de continuar com heroísmo essa obra iniciada pelos que nos precederam. O seminário é, na verdade, fruto de um esforço comunitário. Seja nos quase dois séculos antes do fechamento, seja nos quase 100 anos após a reabertura, bispos, formadores, seminaristas, familiares, fiéis benfeitores, corações de boa vontade, enfim, uma grande constelação conduziu, cada uma a seu modo e em sua vocação, até os nossos dias essa casa desejada pela providência. Caminhando rumo ao centenário, seja essa nossa prece: continuai, Senhor, enviando generosos corações vocacionados que vos sirvam – conforme o lema do Seminário São José – in caritate et veritate, na caridade e na verdade.
Eduardo Douglas Santana Silva, seminarista da configuração III