“A Sociedade Humana”

Cadernos do Concílio – Volume 27

 

Hoje nos debruçaremos no volume 27 da coleção “Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II”, elaborados em preparação ao Jubileu da Esperança que acontecerá no próximo ano, quando comemoraremos os 60 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II. O tema desse volume: “A sociedade humana”.

A sociedade humana é por vezes complexa, formada por diversos tipos de pessoas em suas diferentes etnias, raças, religião e classe social. A Igreja tem de estar aberta e pronta para falar com toda a sociedade, independentemente da classificação. Inclusive essa foi a intenção do Concílio Ecumênico Vaticano II: falar com todo o povo, da Igreja para o mundo e, de certa maneira, tornar a Igreja mais próxima do povo.

Por isso, por mais que o Concílio Ecumênico Vaticano II tenha acontecido há praticamente 60 anos, ele continua vivo e atual, tanto é que estamos discutindo os principais temas do Concílio nessa coletânea especial.

Um documento de grande importância, elaborado ao longo do Concílio Ecumênico Vaticano II, que conversa diretamente com a sociedade como um todo é a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”. Significa alegria e esperança e trata da Igreja em relação ao mundo contemporâneo. Como bem sabemos, o mundo passa constantemente por diversas transformações, inclusive o mundo era de um jeito durante o Concílio Ecumênico Vaticano II e hoje já está bem diferente. São mudanças tecnológicas, mudanças de pensamento, mudanças na forma de educar os filhos, entre outras. Nós chamamos hoje de mudança de época.

Muitas das discussões do mundo atual estão presentes na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, sobretudo no que diz respeito à dignidade da pessoa humana, ou seja, respeitar o ser humano em sua integridade, por inteiro, e desde o seu nascimento até a sua morte. Temos que respeitar a vida e não feri-la de jeito algum, pois ninguém tem o direito de tirar a própria vida ou a vida do outro; se Deus deu a vida, somente Ele tem o poder de tirá-la.

O documento fala também da comunidade humana, ou seja, essa comunidade humana são todos os que habitam o planeta Terra, e cada um deve contribuir para que a nossa sociedade seja sempre mais justa e fraterna e que todos possam conviver bem. Recentemente, o Papa Francisco lançou dois documentos: a Carta Encíclica “Laudato Si” (2015) e a Carta Encíclica “Fratelli Tutti” (2020). Os dois documentos, em consonância com a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” falam sobre como cada um deve cuidar bem do planeta em que vive, sempre pensando em si mesmo e no próximo. Faz parte dos documentos sociais do magistério.

Podemos fazer uma reflexão sobre como está o planeta hoje, as catástrofes climáticas cada vez mais severas, o aquecimento global, as ondas de calor que estamos enfrentando sempre mais severas, e ainda, as estações do ano todas misturadas. Portanto, façamos a nossa parte cuidando da comunidade humana respeitando o universo, não poluindo o ambiente em que se vive, economizando água, e sempre pensando no que estamos deixando para a próxima geração.

Um dos mandamentos da lei de Deus, e um dos mais importantes, é o amor a Deus e consequentemente o amor ao próximo. Por isso, viver em comunidade humana, conforme ressaltam esses documentos, sobretudo a “Gaudium et Spes”, é amar o próximo, muitas vezes colocando-se no lugar do outro, e refletindo se aquilo que é ruim para mim é também ruim para o outro, se as consequências dos meus atos não vão impactar de certa forma a vida do outro.

Outra transformação do mundo atual é o avanço tecnológico. No tempo do Concílio a tecnologia não era tão avançada, mas já tinha a preocupação daquilo que ela poderia vir a ser. A tecnologia teve muitos avanços e com certeza irá avançar cada vez mais. Ao mesmo tempo que é boa, também pode ser ruim. Tanto podemos usar a tecnologia para o bem quanto para o mal.

Aqui, hoje, nós nos colocamos diante da chamada inteligência artificial. Está comum nos dias atuais essa questão. Temos que tomar cuidado com ela, para que a inteligência artificial não ocupe o lugar do ser humano e construamos uma sociedade de robôs sem sentimentos.

O que esse documento nos atesta é que devemos nos preocupar com o próximo em vista do bem comum para todos. Todos devemos cuidar do lugar em que vivemos para que todos se sintam bem ali. As regras de boa convivência devem valer para todos, desde aqueles que ocupam os altos cargos, como por exemplo, os políticos, até o mais humilde habitante da cidade.

Cabe a nós respeitarmos a vida, tanto a nossa como a do outro, e ainda respeitá-la desde a concepção até a velhice. Não podemos tirar nem a nossa vida e nem a do outro. Todos os homens e mulheres são iguais perante Deus; ninguém é melhor do que o outro. Por isso, não podemos menosprezar o outro, por ter mais bens ou por ser mais rico ou mais pobre. Não levaremos nada daqui para a vida eterna, mas somente o quanto fomos capazes de amar o nosso semelhante.

Convido a tomarem em mãos esse volume 27 da “Coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II”, bem como a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, e que possamos viver bem em sociedade, amando e respeitando o próximo, e construindo um mundo melhor para todos. Cuidemos da nossa casa comum para que possamos deixar um futuro melhor para as próximas gerações. Esse é um documento muito interessante e importante do Concílio Vaticano II, no qual devemos nos propor a meditar.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

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