Cardeal Parolin é a voz do Papa durante a Cúpula do G20 no Rio de Janeiro

Nos dias 18 e 19 de novembro, o Rio de Janeiro sediou a Cúpula do G20, que teve como cenário a inspiradora Baía de Guanabara, com o imponente Pão de Açúcar ao fundo. A escolha do Museu de Arte Moderna como local para sediar o encontro com os líderes mundiais descortinou o segredo de tantas turmas de formandos da capital carioca, que ali se reúnem para a famosa foto de formatura com a bela paisagem carioca, eternizando aquele momento especial em suas vidas.

No entanto, a Cúpula do G20 vai muito além da foto oficial com os principais lideres mundiais que rodou o mundo e os noticiários, o Rio de Janeiro recebeu, entre os líderes mundiais, o Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado de Sua Santidade, que mal comparando, seria como um primeiro-ministro, para utilizarmos as categorias de organização de governo que estamos mais acostumados a ouvir nos noticiários.

A Constituição Apóstolica Praedicate Evangelium, no Preâmbulo, na parte II, ao tratar dos princípios e critérios para o serviço da Cúria Romana, acerca do serviço à missão do Papa, afirma: “A Cúria Romana é em primeiro lugar um instrumento de serviço para o Sucessor de Pedro, para ajudá-lo na sua missão de perpétuo e visível princípio e fundamento de unidade, seja dos bispos, seja da multidão dos fiéis”. Entre os organismos da Cúria Romana, a Secretaria de Estado, chamada de Secretaria Papal, é aquela que exerce papel mais próximo ao Santo Padre no exercício de sua suprema missão (cf. Praedicate Evangelium, art. 44).

De fato, o secretário de Estado realiza importante trabalho na cooperação direta com o Santo Padre, auxiliando no governo da Igreja através do poder delegado pelo Romano Pontífice, representando-o nas tratativas das reuniões bilaterais, acordos e concordatas assinados com os diversos países, além de participar dos mais importantes encontros internacionais nos quais o Santo Padre não possa comparecer, sendo, de certa forma, a sua presença, a presença do próprio Papa, pois está ali representando-o e, por isso, goza de todos os cuidados que são devidos ao Papa, enquanto chefe de Estado, no caso, a Cidade-Estado do Vaticano.

Foi justamente por representar um Chefe de Estado, que o Cardeal Parolin participou da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, trouxe consigo uma mensagem específica do Santo Padre para o evento, que, na ocasião, lançava uma Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.

Não é novidade que a presença da Igreja Católica em todo o mundo é marcada não apenas com celebrações litúrgicas, mas também, e de modo concreto e contínuo, através do exercício da caridade, com ações práticas que vão ao encontro das dificuldades e mazelas de nosso tempo, junto aos pobres, aos marginalizados, aos enfermos, aos encarcerados, junto àqueles que não têm voz, nem vez em nossa sociedade.

Nesse sentido, a mensagem do Santo Padre não é um mero texto com teorias ou discursos políticos, como tantas vezes os líderes mundiais acabam se acostumando a ouvir nesses encontros, mas traz consigo toda a força moral da experiência prática da Igreja, que está presente naquelas realidades mais difíceis, que, na maioria das vezes, aqueles que têm o dever e o poder de decisão parecem não querer ou conseguir enxergar.

O Cardeal Parolin, através da leitura do texto pontifício, fez ressoar a voz do Papa Francisco diante dos principais líderes mundiais, incentivando as boas ideias e iniciativas que começam a ser planejadas, mas acima de tudo, convocando os líderes mundiais a assumirem, com ousadia, coragem e ações concretas, o combate à fome e à pobreza no mundo: “É evidente que devem ser tomadas ações imediatas e decisivas para erradicar o flagelo da fome e da pobreza. Tais ações devem ser realizadas de forma conjunta e colaborativa, com o envolvimento de toda a comunidade internacional. A implementação de medidas eficazes requer um compromisso concreto dos governos, das organizações internacionais e da sociedade como um todo. A centralidade da dignidade humana, dada por Deus, de cada indivíduo, o acesso aos bens essenciais e a justa distribuição de recursos devem ser priorizados em todas as agendas políticas e sociais”.

O Papa Francisco tocou em temas sensíveis e atuais, os gastos com armas e guerras, o problema da migração pelo mundo, a necessidade de uma ação coordenada internacional, incentivou que a luta pela fome e pobreza se torne uma prioridade permanente, além de ressaltar o trabalho realizado pela Igreja, diariamente, no mundo inteiro, sendo presença constante junto aos mais pobres e necessitados, colocando as instituições católicas à disposição para colaborar através de sua experiência e de seu engajamento social, concluindo, assim, sua mensagem:

“A Santa Sé continuará promovendo a dignidade humana e fazendo sua contribuição específica para o bem comum, oferecendo a experiência e o engajamento das instituições católicas ao redor do mundo, para que em nosso mundo nenhum ser humano, como pessoa amada por Deus, seja privado de seu pão diário. Que o Deus Todo-Poderoso abençoe abundantemente seus trabalhos e esforços para o verdadeiro progresso de toda a família humana”.

 

Padre Carlos Augusto Azevedo da Silva, do clero da Arquidiocese do Rio de Janeiro, é doutorando em Direito Canônico na Pontifícia Universidade Gregoriana – Roma

 

Categorias
Categorias