(Discurso na Alerj do Cardeal Orani João Tempesta na sessão solene de comemoração de seu jubileu de 50 anos de ordenação sacerdotal, em 4 de novembro de 2024)
Excelentíssimos senhores e senhoras deputados, autoridades presentes, irmãos e irmãs na fé,
Hoje, ao ser recebido com tamanha honra por esta Casa, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, desejo começar com uma palavra de gratidão profunda. Cinquenta anos de sacerdócio são um marco de vida e um chamado renovado à reflexão sobre o caminho percorrido e o propósito que me trouxe até aqui. E, nesta trajetória, não caminhei só. Em cada comunidade, em cada paróquia e em cada serviço pastoral estive ao lado de homens e mulheres que, junto comigo, construíram uma Igreja viva, atuante e comprometida com a unidade, a paz e o amor ao próximo.
A fé cristã nos ensina que, como pastores, somos servos e devemos estar atentos à voz do povo e às necessidades daqueles a quem somos chamados a servir. Ao longo desses cinquenta anos, procurei seguir essa missão: seja no cuidado pastoral de nossas comunidades, seja promovendo a unidade, ou em iniciativas de solidariedade, em especial com os mais pobres e vulneráveis. E se hoje tenho a graça de estar aqui, é por este serviço conjunto e pelo apoio e dedicação de tantas pessoas, religiosas e leigas, que trabalharam incansavelmente ao meu lado.
Quando iniciei minha jornada sacerdotal, na década de 1970, o mundo e o país viviam transformações intensas. O Concilio Vaticano II havia recém-reformulado a Igreja, abrindo nossas portas ao diálogo, à atualização e a um compromisso renovado com as causas sociais. Recordo-me da emoção de viver aquele momento histórico e do chamado forte para ir ao encontro das comunidades. A Igreja precisava, mais do que nunca, estar perto das pessoas, especialmente daquelas que sofrem, e, ao mesmo tempo, fazer-se uma voz ativa pela paz, pelo respeito e pelo bem comum.
Nesta caminhada, foram incontáveis os momentos de alegria, mas também os de provação. Ser um servo de Deus, um pastor, significa também abraçar os desafios e se deixar guiar pela Providência divina, especialmente em tempos de incerteza. Em cada período de crise, seja social, econômica ou espiritual, o compromisso com o Evangelho e com os princípios de Cristo me conduziu, fortalecendo minha fé e minha vocação. E, diante das dificuldades, aprendi que a fé não é uma fuga, mas uma força transformadora que nos dá coragem para enfrentar as realidades mais duras e servir como um instrumento de esperança.
O Rio de Janeiro, cidade de tamanha diversidade cultural, de contrastes e desafios, também foi um campo fértil para o desenvolvimento de uma pastoral de acolhimento e fraternidade. Da periferia aos centros urbanos, somos chamados a construir pontes, a acolher e a cuidar. Minha gratidão é imensa a todos aqueles que, ao longo dessas cinco décadas, contribuíram para fortalecer uma Igreja atenta ao sofrimento humano, comprometida com a promoção da dignidade e sempre pronta a estender a mão aos mais necessitados.
Celebrando o jubileu de 50 anos de ordenação presbiteral, convido-os a refletirem sobre a beleza e a profundidade do chamado ao serviço. Refletir sobre os indivíduos que, com empenho e espírito colaborativo, desempenham suas funções em diversas áreas e de diferentes maneiras, dedicando-se à construção de um mundo mais justo, fraterno, solidário e a uma sociedade mais acolhedora. Refletir sobre aquelas pessoas que entregam suas vidas ao Senhor, seja na quietude da oração ou na diligência do trabalho missionário, sem poupar esforços, inovando e pondo os dons que lhe foram concedidos à disposição de todos que cruzam seu caminho.
Estar aqui hoje é um convite à renovação do meu compromisso com nossa cidade, com nosso povo e com a fé que me sustenta. O sacerdote não é apenas aquele que serve no altar, mas também aquele que leva a Palavra para fora das paredes da igreja, dialogando com todos os setores da sociedade. É nossa missão também agir em conjunto com os governantes, buscando o bem comum, promovendo a paz e a justiça, e defendendo os valores que sustentam uma sociedade verdadeiramente humana e fraterna.
Por isso, recebo essa homenagem com humildade e gratidão, não apenas como um reconhecimento pessoal, mas como um tributo à Igreja e a todos que comigo caminharam. E renovo, diante de todos, o compromisso de continuar a servir. Que o Espírito Santo ilumine meus passos e que possamos, juntos, construir uma sociedade que se inspire nos valores do Evangelho e se comprometa com a dignidade de cada ser humano.
Agradeço, mais uma vez, aos senhores e senhoras que me acolhem com tão generoso gesto de reconhecimento. Saibam que seguirei com o coração aberto, atento às necessidades do povo e firme na missão de construir, ao lado de cada um de vocês, um futuro de paz, justiça e amor.
Muito obrigado!