Centenário do nascimento de Madre Maria Helena Cavalcanti

Estamos celebrando o centenário de nascimento de Madre Maria Helena Cavalcanti, nossa querida ‘Mãezinha’, fundadora da Congregação de Nossa Senhora de Belém. Quantas passagens da Escritura não nos vêm à mente nesse momento.

Poderíamos nos recordar do Sl 89(90),10, no qual o salmista afirma: “Pode durar setenta anos nossa vida, os mais fortes talvez cheguem aos oitenta…” Nossa Madre, sem dúvida alguma, está entre os “mais fortes” e isso, não somente pela sua longevidade, mas sobretudo pela sua grandeza espiritual, pois também poderíamos aplicar-lhe o texto de Provérbios 31,30: “A mulher que teme ao Senhor merece louvor!”

Madre Maria Helena Cavalcanti nasceu em Belém do Pará, no dia 4 de junho de 1923, tendo como nome civil Conceição Martins Cavalcanti. Nascia a filha mais velha do casal de paraenses, professor Djalma Cavalcanti e Conceição Martins Cavalcanti.

Nossa ‘Mãezinha’ recebeu o santo Batismo no dia 25 de fevereiro de 1924, na Igreja do Rosário, na Arquidiocese de Belém. Já no Rio de Janeiro, recebeu a Primeira Eucaristia no dia 27 de setembro de 1930, aos 7 anos, na Capela de Santa Leopoldina, do Colégio São José das Irmãs Vicentinas, em Icaraí, Niterói. A Crisma, por sua vez, a recebeu aos 12 anos, no dia 6 de outubro de 1935, na Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, no Rio de Janeiro. Assim estava completa a sua iniciação cristã.

Sua vida escolar começou na Escola Alemã, onde seu pai era professor. Ali nossa madre iniciou e concluiu seu curso primário. Mais tarde, fez o curso secundário na Escola Olavo Bilac, onde também seu pai, o professor Djalma Cavalcanti, lecionava. Os dois últimos anos, contudo, foram concluídos em Belo Horizonte, no Colégio Santa   Maria, das Irmãs Dominicanas. Ali Deus a chamou para a vida religiosa e ali também fez grandes amigos. Recordamos seus laços de amizade com a irmã Mônica Castanheira, OSB, monja do Mosteiro Beneditino Nossa Senhora da Paz, em Itapecirica da Serra – SP, falecida no dia 03 de setembro de                     2018.

Antes de ingressar na vida religiosa, Madre Maria Helena frequentou a PUC-Rio para fazer o curso superior. Em 1944, concluiu o bacharelado em Geografia e História. Logo em seguida, em 1946, concluiu a licenciatura nessas duas disciplinas, na mesma PUC-Rio. Nessa época, foi aluna do grande professor Alceu Amoroso Lima, pai da grande Abadessa de Santa Maria (SP), Madre Maria Teresa Amoroso Lima, OSB, falecida em 2011, depois de ter sido, por 23 anos, abadessa do referido mosteiro.

Atendendo ao apelo do Senhor, ingressou como postulante na Ordem Dominicana no dia 7 de março de 1948. Foi admitida ao noviciado, tendo   feito seus primeiros votos no dia 13 de fevereiro, em Belo Horizonte, e os votos perpétuos em Poços de Caldas, no dia 6 de janeiro de 1954. Como a própria madre afirmou em entrevista, há alguns anos, ao programa “Renova Rio”, na Rádio Catedral, ela entrou para a Ordem de São Domingos movida “pelo ideal da pregação da Boa Nova”. Contudo, ela não imaginava o que o Senhor da vinha tinha em mente e como o seu chamado iria se desdobrar.

Sua dedicação e competência no trabalho nos Colégios Dominicanos foi marcante. Ainda hoje, persistem os vínculos de amizade das alunas e admiração pela sua coerência de vida.

A preocupação com o ensino religioso sempre esteve na mente da jovem Conceição Martins Cavalcanti. Desde que terminou o ensino secundário, já dava aula de religião numa escola pública perto de sua casa, no Jardim Botânico. Mais tarde, como religiosa no Colégio São Domingos, em Poços de Caldas, começou a organizar esse serviço em algumas escolas públicas da cidade, com o movimento das Alunas Missionárias. Contudo, foi no Rio de Janeiro que a vontade do Senhor começou a se manifestar de modo mais claro: “Uma inspiração de Deus e respiração da realidade”.

Em 1957, com a permissão de sua superiora, nossa querida Madre Maria Helena começou a dar aulas de religião em três estabelecimentos do governo de nível secundário: Instituto de Educação, Escola Rivadávia Corrêa e Escola Paulo de Frontin. Na mesma entrevista citada acima, Madre Maria Helena afirmou lembrar-se da primeira frase dita em aula: “… diz um provérbio chinês que as palavras de um amigo aquecem por três invernos… Eis que eu lhes trago as palavras do maior dos amigos, brasas ardentes para todos os invernos…” Surgia, assim, aos poucos, o “Carisma de Belém”, que a mesma madre definiu como sendo o “prolongar o Mistério da Encarnação no meio estudantil laicizado, campo árduo que pede generosas vocações”.

Depois de quase dois anos de experiência nesse trabalho, Madre Maria Helena enviou, em 20 de abril de 1958, um relatório a Dom Jaime de Barros Câmara. Mais tarde, no começo de maio, numa conversa pessoal na Casa Assunção, no Sumaré, a Madre pôde abrir-lhe o coração. Ela relatou que ali os dois, a madre e o arcebispo, se encontraram “no Espírito Santo”. De fato, segundo ela mesma afirma, ele foi fundamental para o discernimento do carisma e para o nascimento da nova congregação, que já estava sendo gestada no pensamento do Pai.

Nascia assim a Congregação “de” Nossa Senhora de Belém. O “de” está entre aspas de propósito, pois a madre faz questão de afirmar que a                   congregação não é dela, mas de Nossa Senhora.  Na época, a madre procurou seus amigos e confessores, Dom Estêvão Bettencourt, OSB e Dom Luís Palha, OP. Ambos reconheceram ali um sinal de Deus: o encontro entre o desejo que o Pai havia colocado no coração da madre e o reconhecimento de um novo carisma, por parte do cardeal arcebispo Dom Jaime.

Ao contrário do que alguns pensam, o nome da congregação – Nossa Senhora de Belém – não tem a ver com a cidade de nascimento de nossa ‘Mãezinha’. O nome foi escolhido num momento de oração diante da Palavra, quando ‘Mãezinha’ deparou-se com a referência a Belém, que quer dizer “Casa do Pão”. A congregação deveria chamar-se, então, “Congregação de Nossa Senhora de Belém”, onde, pelas mãos de Maria, todos pudessem alimentar-se do “Pão da Palavra” que haveria de ser generosamente distribuído por ela e suas filhas.

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