Segundo Dom Tiago Stanislaw, a Adoção Espiritual completa 5 anos, já alcança 54 dioceses no Brasil e se fortalece como gesto concreto em defesa da vida
A Arquidiocese do Rio de Janeiro se prepara para celebrar, no próximo dia 8 de outubro, os cinco anos da Adoção Espiritual, iniciativa em favor da vida que nasceu em meio à pandemia, em 2020, e hoje se espalha por dezenas de dioceses em todo o Brasil. A proposta, conduzida desde o início pelo bispo auxiliar Dom Tiago Stanislaw, tornou-se um dos instrumentos mais acessíveis de defesa da vida, mobilizando fiéis de todas as idades. Em entrevista, Dom Tiago fala sobre a origem, o significado e os frutos deste gesto de oração que já alcança milhares de famílias.
Testemunho de Fé – Quando foi criada a Adoção Espiritual?
Dom Tiago Stanislaw – “No dia 8 de outubro a Adoção Espiritual vai comemorar cinco anos da sua missão aqui no Rio de Janeiro. Começamos este trabalho durante a pandemia. Naquele ano, no final da Semana da Vida, propus ao arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta, a possibilidade de ter a Adoção Espiritual como gesto concreto para encerrar a Semana da Vida. Ele aceitou, e no dia 7 de outubro, dia de Nossa Senhora do Rosário, rezamos na Rádio Catedral o Terço Mariano já falando sobre o tema. No dia seguinte, 8 de outubro, o arcebispo anunciou oficialmente que a nossa Arquidiocese do Rio de Janeiro acrescentaria a Adoção Espiritual a outras formas de defesa da vida já presentes em nossa Igreja particular.”
Testemunho de Fé – O que significa essa prática?
Dom Tiago Stanislaw – “A Adoção Espiritual é uma proposta de viver o amor para com o próximo mais vulnerável. Nós nos colocamos diante de Deus pensando nas crianças concebidas, mas ameaçadas pelo aborto porque surgiram em momentos inesperados. Quem inicia a Adoção Espiritual se apresenta diante de Deus com o propósito de, durante nove meses, cuidar espiritualmente dessa criança por meio da oração diária. É um verdadeiro exercício de maternidade e paternidade espiritual. A cada dia, com uma dezena do terço e uma oração própria, pedimos pela vida, saúde e bem-estar da criança e também pela mãe, para que tenha coragem e receba apoio para dizer “sim” à vida, mesmo que, depois, precise entregar o filho a uma família adotiva. Trata-se de um gesto simples, mas profundamente transformador.”
Testemunho de Fé – Como surgiu a iniciativa de iniciar esse movimento no Rio de Janeiro?
Dom Tiago Stanislaw – “Veio depois de um fato muito doloroso no Brasil: uma menina de 11 anos, violentada pelo tio, engravidou e toda a situação ganhou repercussão nacional. Houve possibilidades de acolher tanto a mãe quanto a criança, mas a cultura da morte prevaleceu e o aborto foi realizado. Isso mexeu profundamente comigo. Vi que, muitas vezes, lamentamos tragédias assim, mas logo esquecemos. Percebi que não bastava se entristecer, era preciso propor algo concreto. Eu já conhecia a prática da Adoção Espiritual da Polônia, ainda quando jovem, e pensei: por que não oferecê-la aqui, em nossa arquidiocese? Foi assim que tudo começou.”
Testemunho de Fé – E como as pessoas podem se tornar pais ou mães espirituais?
Dom Tiago Stanislaw – “Existem várias formas. Nas paróquias onde já existe um núcleo da Adoção Espiritual, basta procurar o grupo e iniciar a adoção com a bênção do pároco local. Também é possível fazê-lo pelo portal adocaoespiritualrio.org.br, onde há links para o site da Adoção Espiritual, para o nosso Instagram e Facebook. Lá você encontra explicações detalhadas. No mesmo portal, há também o link para baixar o aplicativo no celular. O aplicativo guia o fiel desde a oração inicial, na qual promete diante de Deus cuidar espiritualmente de uma criança desconhecida, até as orações diárias e a conclusão após nove meses. Quem deseja pode, depois, renovar o compromisso e iniciar uma nova Adoção Espiritual, repetindo o mesmo processo quantas vezes quiser.”
Testemunho de Fé – Quais frutos o senhor tem visto nesses cinco anos?
Dom Tiago Stanislaw – “O primeiro é perceber que muitas pessoas querem ajudar na causa provida, mas não encontram como. A Adoção Espiritual é acessível a todos: idosos, adultos, jovens e até crianças, quando acompanhadas pelos pais. Os testemunhos são comoventes. Pessoas que nunca haviam rezado por alguém desconhecido relatam a alegria de oferecer amor a quem não conhecem. Mulheres que já realizaram aborto encontram cura interior e afirmam que, finalmente, conseguem superar o peso desse ato ao rezar por outras mães e crianças ameaçadas. Há ainda quem nunca teve filhos biológicos e se sente verdadeiramente pai ou mãe espirituais. Recentemente, uma senhora contou que descobriu que sua mãe havia tentado abortá-la. Ela sempre sentiu um amor misterioso por alguém que não conhecia. Quando descobriu a Adoção Espiritual, entendeu: alguém tinha rezado por ela, e foi graças a essa oração que sobreviveu.”
Testemunho de Fé – Podemos dizer que São José é um modelo para o movimento?
Dom Tiago Stanislaw – “Com certeza. São José viveu a paternidade adotiva de modo pleno. Jesus não era seu filho biológico, mas ele o acolheu com amor e foi tratado como pai. Isso mostra que a maternidade e a paternidade espirituais não são incompletas. Pelo contrário, são dons que trazem realização e alegria. Quem assume essa missão descobre que pode amar verdadeiramente uma criança que nem conhece, assim como José amou Jesus.”
Testemunho de Fé – Vivemos em pleno século 21, com avanços científicos, mas a cultura da morte ainda predomina. Como o senhor avalia essa realidade?
Dom Tiago Stanislaw – “A vida humana é dom de Deus. Mas, quando Ele não reina no coração do homem, as ideologias presentes no mundo de hoje conseguem raptar seus pensamentos e distorcer a ordem natural. Por isso, mesmo em uma sociedade avançada, vemos a prática do aborto como algo banalizado, até defendido como direito humano em alguns países. Acredito que, no futuro, a humanidade reconhecerá o aborto como um erro gravíssimo, assim como já reconheceu a escravidão e o Holocausto como páginas vergonhosas da história. Hoje muitos não compreendem, mas chegará o dia em que se olhará para essa prática e se dirá: o que estávamos fazendo contra nossos próprios filhos, contra a nossa própria espécie?”
Testemunho de Fé – O que a Igreja propõe para fortalecer a valorização da vida?
Dom Tiago Stanislaw – “No aniversário de 30 anos da Encíclica Evangelium vitae, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida lançou o subsídio A vida é sempre um bem. Ele orienta a criação de núcleos provida nas paróquias, oferecendo apoio real às mulheres em gravidez inesperada. A Adoção Espiritual já incorporou essas diretrizes, trabalhando para que, além do apoio espiritual, também se promova a conscientização e outras ações pró-vida. Queremos, ainda, que cada paróquia seja um espaço de acolhida para as mulheres que vivem situação de vulnerabilidade por causa de uma gravidez inesperada, a fim de que possam encontrar encorajamento e todo o suporte necessário para seguir adiante com a gestação.”
Testemunho de Fé – Como o senhor resume esses cinco anos de caminhada?
Dom Tiago Stanislaw – “Foram cinco anos de bênçãos e também de desafios. Implantar uma proposta nova nunca é fácil, mas percebemos claramente a ação de Deus conduzindo tudo. A Adoção Espiritual, que começou no Rio de Janeiro, hoje já está presente em 54 dioceses do Brasil. Temos centenas de colaboradores e, durante a Semana da Vida, vemos eventos em várias paróquias do país. Nossa expectativa é que, em breve, esteja presente em todas as dioceses do Brasil. É uma missão simples, mas que carrega uma força enorme, porque toca no ponto central: salvar vidas e transformar corações pela oração.”
Carlos Moioli