CNBB 70 anos: Comunhão, participação e missão

Missa em ação de graças no Palácio São Joaquim, no Rio de Janeiro, concluiu as comemorações dos 70 anos de fundação da CNBB

 

Na manhã do dia 29 de outubro, o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta presidiu na Capela Nossa Senhora da Conceição, situada no Palácio São Joaquim, na Glória, a missa em ação de graças conclusiva pelos 70 anos de fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A missa foi concelebrada pelos bispos auxiliares do Rio de Janeiro, entre eles, Dom Joel Portella Amado que, como secretário-geral da CNBB, representava a presidência da Conferência Episcopal, uma das maiores do mundo.

“Em nome de todos os nossos irmãos bispos, agradecemos ao Senhor pelo dom que Ele concedeu à Igreja no Brasil, de ser constituída em uma Conferência Episcopal. À luz da fé, vemos que é o Senhor quem conduz a nossa história e espera de nós corações abertos para ouvir a Sua voz e discernir os sinais dos tempos. Como discípulos missionários, 70 anos depois, somos chamados a ser hoje testemunhas de Jesus Cristo”, disse o arcebispo no início da celebração.

Durante a celebração, Dom Orani lembrou que os arcebispos do Rio de Janeiro, desde Dom Joaquim Arcoverde – que, em 1905, tornou-se o primeiro cardeal do Brasil e da América Latina – e também seu sucessor, Dom Sebastião Leme, destacaram-se na primeira metade do século XX. Eles se “empenharam em manter a unidade do episcopado” e, ainda, em “promover as relações entre a Igreja e o Estado brasileiro”, estremecidas com a Proclamação da República, em 1889, o que resultou no fim do padroado, ou o direito concedido pelos pontífices aos reis de Portugal de administrar os assuntos religiosos nas terras além-mar. 

O arcebispo também recordou a atuação de Dom Jaime de Barros Câmara que, durante cujo governo, entre 1943 e 1971, nasceu a CNBB, sob a iniciativa de Dom Helder Câmara. Dom Jaime – destacou Dom Orani –, deu continuidade ao que foi implantado e defendido pelos seus antecessores, com ênfase na formação sacerdotal, acadêmica e catequética; no ensino religioso nas escolas; na atuação dos leigos na sociedade; e na evangelização do mundo militar.

“As coisas não nascem do nada. Sempre há uma história, uma caminhada, uma preocupação que vai amadurecendo. Dom Jaime, à semelhança de seus antecessores, soube conduzir com dinamismo a Arquidiocese do Rio de Janeiro e, ao seu tempo, acolheu e deu apoio ao protagonismo de seu bispo auxiliar, Dom Helder Câmara, que trazia no coração ideias de organizar da melhor forma a Igreja no Brasil. A CNBB nasceu para reunir e representar os bispos, apontar diretrizes pastorais e assim levar em frente todo trabalho de missão e evangelização da Igreja no Brasil”, disse o arcebispo.

Os demais bispos auxiliares concelebrantes foram: Dom Antonio Luiz Catelan Ferreira, Dom Paulo Celso Dias do Nascimento, Dom Roque Costa Souza, Dom Juarez Delorto Secco, Dom Célio da Silveira Calixto Filho e Dom Paulo Alves Romão. O Evangelho foi proclamado pelo vigário episcopal para a Cultura, cônego Marcos William Bernardo.


Organismo de comunhão

No final da celebração, o secretário-geral Dom Joel Portella Amado trouxe uma saudação dos demais membros da presidência da CNBB, do presidente, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, e dos vice-presidentes, Dom Jaime Spengler e Dom Mário Antônio da Silva, que estavam em suas cidades por causa das eleições do dia seguinte.

Dom Joel manifestou gratidão a Dom Orani pela acolhida e presidência da missa que encerrou as celebrações pelos 70 anos da CNBB, afirmando que esta é um “organismo de comunhão e serviço à Igreja no Brasil, sempre em vista da missão de toda a Igreja, que é a evangelização”.

Durante sua mensagem, o secretário-geral recordou uma frase de Dom Helder Câmara, dita em 1977, por ocasião dos 25 anos da CNBB, de como deveria ser a Conferência Episcopal do Brasil e as demais conferências: “Em um país de dimensões continentais, impunha-se um secretariado (uma instância) que ajudasse os bispos a equacionar com segurança os problemas locais, regionais e nacionais, em face dos quais a Igreja não pode ser indiferente”.

“Essa, portanto, é a identidade da CNBB, identidade que se mantém ao longo dessas sete décadas, acompanhando a história do país, nas alegrias e nos sonhos do povo brasileiro”, disse Dom Joel.

“Em números, somos uma grande conferência episcopal, com 278 circunscrições e 482 bispos, dos quais 323 na ativa e 159 eméritos. São 19 regionais, várias comissões episcopais pastorais e grupos de trabalho, que cuidam de diversas situações específicas na ação evangelizadora”, observou o secretário-geral.

Dom Joel concluiu sua mensagem bendizendo a Deus por toda expressão de comunhão e pediu forças para que a CNBB continue cumprindo sua missão. “O mundo mudou muito desses 70 anos. A CNBB buscou acompanhar as mudanças, respondendo evangelicamente a cada momento. Que o bom Deus a acompanhe sempre, como tem feito até agora”, concluiu.

 

A memória

Após a celebração eucarística, Dom Orani e os bispos auxiliares presentes saíram da capela e se dirigiram para onde foi criada, há 70 anos, a CNBB, uma sala que fica no segundo andar do Palácio São Joaquim, residência dos arcebispos do Rio de Janeiro desde 1915. Para marcar a data, foi fixada na entrada da sala uma placa alusiva e uma foto da reunião de fundação da CNBB, cedida pelo Centro de Documentação Dom Helder Câmara, de Recife (PE).

A história da instituição da CNBB tem suas origens na mobilização de Dom Helder Câmara, então bispo auxiliar do Rio de Janeiro, e que desejava maior articulação da Igreja no Brasil. Ele trouxe a ideia de Roma, quando participou do Congresso Mundial de Leigos, em 1950. O projeto foi apresentado pelo então secretário de Estado do Vaticano, monsenhor Giovanni Battista Montini – que mais tarde viria a ser o Papa São Paulo VI – e que também apoiou a aprovação de criação da CNBB junto ao Papa Pio XII.

“Nesta sala do Palácio São Joaquim, conservada com as mesmas caraterísticas da época, foi fundada a CNBB, no dia 14 de outubro de 1952, dez anos antes do início do Concílio Vaticano II, a maior ou uma das maiores conferências episcopais do mundo. Agradecemos a Deus por esta história que começou aqui, uma boa semente, a qual até hoje produz bons frutos”, disse o arcebispo.

Na reunião extraordinária de criação da CNBB, em 1952, a quinta a ser instalada no mundo, estiveram presentes os arcebispos das capitais brasileiras. A eleição da comissão permanente, encarregada de dirigir a instituição na época, foi constituída pelo arcebispo de Porto Alegre (RS) Dom Alfredo Vicente Scherer, pelo arcebispo de Belém (PA) Dom Mário de Miranda Vilas Boas, e pelo arcebispo de Olinda e Recife (PE) Dom Antônio Morais de Almeida Júnior.

Dom Helder Câmara, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, idealizador da conferência, foi designado secretário-geral, e o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, então arcebispo de São Paulo, foi eleito o primeiro presidente da CNBB, função que exerceu por dois mandatos.

A CNBB funcionou inicialmente no Palácio São Joaquim, e depois teve sua sede situada na Rua do Russel, também no bairro da Glória. Em 1977 foi transferida definitivamente para Brasília, capital do país. Desde então, a instituição foi dirigida por 13 presidências.

Ao concluir a celebração, também transmitida ao vivo pela RedeVida de Televisão, WebTV Redentor e Rádio Catedral, Dom Orani convidou os bispos auxiliares e também as irmãs do Instituto de Nossa Senhora do Bom Conselho – congregação religiosa que nasceu no Palácio São Joaquim – para cantar a “Salve Rainha”.

“Coloquemos nas mãos de Maria todos os bispos do Brasil, para que cada um, cada vez mais, neste tempo de uma Igreja sinodal – ‘comunhão, participação e missão’ – possa semear a paz, a fraternidade, a comunhão e a esperança neste nosso tempo, sendo testemunhas de Jesus Cristo”, disse o arcebispo.

 

Carlos Moioli

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