Dom Eugenio Sales: “Não se aceitará uma contribuição como favor, mas se espera uma característica do cumprimento do dever, um dever elementar do cristão”.
Antes disso, o primeiro movimento regional, que foi uma espécie de embrião para a criação do atual modelo da Campanha da Fraternidade, foi realizado em Natal (RN), no dia 8 de abril de 1962, por iniciativa do então administrador apostólico de Natal, Dom Eugenio de Araujo Sales, de um de seus irmãos, à época padre, Heitor de Araujo Sales e o padre Otto Santana.
Esta campanha tinha como objetivo fazer “uma coleta em favor das obras sociais e apostólicas da arquidiocese, aos moldes de campanhas promovidas pela instituição alemã Misereor”, explicou Dom Eugenio Sales, em entrevista à Arquidiocese de Natal, em 2009. A comunidade de Timbó, no município de Nísia Floresta (RN), foi o lugar onde a campanha ocorreu pela primeira vez.
“Quando, no começo de 1960, eu estava concluindo meu trabalho de doutorado em Direito Canônico na Universidade Lateranense, em Roma, fui para a Alemanha onde tinha mais tranquilidade para o que desejava. Ali, pude acompanhar a Campanha Quaresmal daquele ano para recolher o fruto dos sacrifícios em benefício dos povos que sofriam fome, como eles mesmos tinham sofrido 15 anos antes, logo depois da Segunda Guerra Mundial. O material para informação (homilias, boletins paroquiais etc.) continha reflexões muito profundas. Trouxe para o Brasil todo o material para que pudéssemos adaptar aqui”, disse o arcebispo emérito de Natal, Dom Heitor de Araujo Sales.
Dom Eugenio Sales, numa reunião do clero, lançou a ideia. Foi feita uma lista de nomes, no fim venceu o nome Campanha da Fraternidade. Ficamos satisfeitos com o nome, mas nunca imaginávamos que aquela pequena semente se transformasse no que é hoje”, disse Dom Heitor.
“Não vai lhe ser pedida uma esmola, mas uma coisa que lhe custe. Não se aceitará uma contribuição como favor, mas se espera uma característica do cumprimento do dever, um dever elementar do cristão. Aqui está lançada a campanha em favor da grande coleta do dia 8 de abril, primeiro domingo da Paixão”, disse Dom Eugenio Sales, no ato de lançamento da campanha em Timbó (RN).
Segundo Dom Heitor, o Papa João XXIII tinha lançado a ideia de que católicos de países ricos pudessem dar um pouco de suas vidas para ajudar na evangelização de outras terras. Chamavam-se ‘Voluntários do Papa’. Assim vieram para cá missionários leigos dos Estados Unidos (EUA) e de outros lugares. Eles também ajudaram no começo da campanha.
A experiência foi adotada, logo em 1963, por 19 dioceses do Regional Nordeste 2 da CNBB (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte). Naquela época, envolvidos pelo Concílio Vaticano II, os demais bispos brasileiros fizeram o lançamento do projeto da Campanha da Fraternidade para todo o Brasil. Desta forma, na Quaresma de 1964 foi realizada a primeira campanha em âmbito nacional. Desde então, até os dias atuais, a CF é realizada em todos os recantos do Brasil.
Em 20 de dezembro de 1964, os bispos brasileiros que participavam do Concílio Ecumênico Vaticano II, em Roma, aprovaram o fundamento inicial da mesma, intitulado “Campanha da Fraternidade – Pontos Fundamentais apreciados pelo Episcopado em Roma”. Em 1965, tanto a Cáritas quanto a Campanha da Fraternidade foram vinculadas diretamente ao Secretariado Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A partir de então, a Conferência dos Bispos Brasileiros passou a assumir a Campanha da Fraternidade. Nesta transição, foi estabelecida a estruturação básica da CF.
Em 1967, começou a ser redigido um subsídio para a CF auxiliando assim as dioceses e paróquias de todo o país. Nesse mesmo ano, começaram também os encontros nacionais das Coordenações Nacional e Regionais da Campanha da Fraternidade.
Em 1970, a campanha ganhou especial e significativo apoio, uma mensagem do Papa Paulo VI para o dia do lançamento da campanha, o que virou uma tradição entre os Papas.
A partir de uma análise dos temas abordados a cada ano, a história da Campanha da Fraternidade pode ser dividida em três fases distintas: de 1964 a 1972, os temas refletem um olhar voltado para a renovação interna da Igreja, provavelmente sob o influxo das reformas propostas pelo Concílio Vaticano II; de 1973 a 1984, aparece na campanha a preocupação da Igreja com a realidade social do povo brasileiro, refletindo influências do Vaticano II e das Conferências Episcopais de Medellín e Puebla, sem deixar de lado a questão política nacional, que vivia uma de suas mais terríveis fases: a ditadura militar. A terceira fase, a partir de 1985, reflete situações existenciais dos brasileiros.
Ao longo da história, as campanhas abordaram questões do compromisso cristão na sociedade. Em alguns casos, essas questões discutidas geraram o surgimento de pastorais ou serviços no seio da Igreja, quando foram debatidos temas, como, em 1985, a questão da fome; em 1986, o problema fundiário; em 1987, o tratamento do poder público para com o menor.
Objetivos permanentes da Campanha da Fraternidade
1 – Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum;
2 – Educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho;
3 – Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja)”.
Gesto concreto
Sempre realizado no Domingo de Ramos, o gesto concreto da Campanha da Fraternidade é a Coleta Nacional da Solidariedade, realizada como um dos gestos concretos de conversão quaresmal.
Fonte: CNBB