Diálogo e visão sistêmica: uma exigência para os nossos dias

Vivemos tempos de polêmicas e polarizações sociais e ambientais, em que os meios de comunicação e redes sociais divulgam notícias e vídeos que aumentam as tensões e as visões fragmentadas do contexto socioambiental. Com o objetivo marqueteiro de atingir um maior número de pessoas, tais matérias viralizadas geram confusões, escondem as verdades dos fatos e aumentam os abismos entre pessoas e instituições.

Com frequência, vídeos divulgados contrapõem as demandas sociais e os valores conquistados na área ambiental, contribuindo para separar essas duas realidades que estão intrinsecamente imbricadas, ignorando os apelos das grandes lideranças intelectuais e religiosas, que buscam unificar e valorizar os patrimônios socioambientais da Casa Comum planetária.

Diante das crises humanitárias, provocadas pelas guerras e conflitos, além do aumento de problemas ambientais em nível global e local, essas posturas não dialogais, fragmentadas e polarizadas, de nada contribuem para a busca de soluções e alternativas aos grandes dramas que desafiam o momento histórico em que vivemos. Ao contrário, aumentam as feridas, ressuscitam os velhos sofismas, empobrecem a razão e paralisam as conquistas galgadas.

O melhor remédio para superar tais realidades consiste no diálogo construtivo e no resgate da visão sistêmica de mundo. Somente no diálogo vamos encontrar saídas para os impasses, superar as inverdades e unir forças para a construção dos grandes valores, como a paz, o respeito pela diversidade de ideias e opções, a convivência solidária e a preservação da riqueza cultural e ambiental de povos e nações.

A urgente tarefa de superar as fragmentações por uma visão mais integradora e sistêmica da realidade social e ambiental é algo necessário e urgente, sobretudo em uma sociedade carente de estruturas preventivas para enfrentar as mudanças climáticas, que se tornam a cada dia uma realidade inquestionável. Condicionadas ou não por razões antropológicas, tais mudanças podem levar a profundas alterações no nosso modo de viver no único planeta onde a vida se manifesta de maneira pluriversa e abundante.

Chegou a hora de superar as polêmicas entre o social, o religioso e o ambiental, pois somente juntos conseguiremos sobreviver diante dos impasses ambientais que se intensificam. Símbolos religiosos, sobretudo aqueles que se encontram integrados em áreas geográficas de nossos biomas, atraindo pessoas, despertando valores transcendentes, aumentando o turismo religioso e ecológico etc., devem ser apoiados e incentivados, buscando sempre o diálogo construtivo que contribui para integrar a preservação ambiental, construir processos de conscientização humanitária e buscar saídas inteligentes que ajudam na construção da visão sistêmica, sobretudo quando as diferentes realidades convivem e compartilham de um mesmo espaço ambiental.

 

Padre Josafá Carlos de Siqueira SJ

Ex-reitor da PUC-Rio e vigário para o Meio Ambiente e Sustentabilidade da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

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