Dom Orani, apóstolo inquieto

Ao celebrarmos os 25 anos de sagração episcopal de Dom Orani João, Cardeal Tempesta, podemos, com alegria, dizer que essa admirável trajetória iniciou-se na Diocese de São José do Rio Preto quando o religioso foi nomeado terceiro bispo diocesano. Durante os sete anos que esteve na condução dessa grande diocese do noroeste paulista, podemos identificá-lo como o pastor da unidade, bispo da comunicação e da pastoral.

O monge Orani João foi nomeado bispo diocesano de São José do Rio Preto pelo Papa São João Paulo II, em fevereiro de 1997, e assumiu o pastoreio desta comunidade do povo de Deus em maio daquele mesmo ano. Diferentemente do que muitos diziam e pensavam, que um monge não teria a práxis pastoral, o bispo mostrou que verdadeiramente era um apóstolo inquieto e trouxe à diocese um dinamismo renovado, característica principal de sua pessoa.

Foi buscar no coração sacerdotal de Jesus seu lema episcopal “Ut Omnes Unum Sint”: “Que todos sejam um”, expressão que também traduz o que o epíscopo tinha claro em sua mente e coração, e sentimento que é manifestado em sua carta pastoral para a diocese “venho para ser o sinal da unidade visível entre vocês, para que todos sejam um”.

Como bispo de São José do Rio Preto, Dom Orani se destacou em diversas frentes de atuação, no campo religioso, político, social e cultural. Trouxe um novo vigor, sobretudo na pastoral, implementando projetos relevantes de evangelização como a Rede de Comunidades (uma nova maneira de ser Igreja próxima das pessoas e com a valorização das famílias), a evangelização de casa em casa, a criação de novas comunidades paroquiais. No seu novo olhar de quem guia os irmãos incentivou a formação de novas pastorais e movimentos, reestabeleceu organismos diocesanos, fomentou de maneira significativa a formação do clero e a dimensão missionária, enviando missionários para a Amazônia.

Como mentor de todos os movimentos, ele tinha um olhar voltado para as reais necessidades das comunidades paroquiais.  Logo no início de seu pastoreio, realizou um Censo Diocesano para conhecer seu campo de atuação e lançar projetos que fossem ao encontro do anseio do povo e que pudessem colocar a Igreja diocesana em unidade com a Igreja no Brasil. Para tal, trabalhou e incentivou o projeto “Ser Igreja no Novo Milênio”, respondendo, assim, ao desejo do Papa João Paulo II de preparar a Igreja para o novo milênio a fim de realizar uma evangelização que pudesse atingir o maior número de pessoas. Nessa perspectiva, Dom Orani elaborou vários subsídios, realizou visitas às paróquias e propiciou formações e reflexões religiosas para as comunidades. Um trabalho tão integrador gerou frutos e culminou na primeira Festa da Unidade da Diocese de São José do Rio Preto, evento que reuniu milhares de fiéis em uma só celebração.

No campo pastoral, nosso bispo Orani incentivou a criação de 27 novas comunidades, entre paróquias, quase paróquias, santuários, reitorias e uma paróquia do rito Maronita. Uma de suas preocupações era a presença da Igreja em todo o território da diocese, com isso, investia na compra de espaços para instalar uma futura comunidade, sobretudo nas regiões mais distantes ou periféricas dos centros urbanos. Também incentivou e implantou, de maneira mais sistemática, várias das muitas pastorais e movimentos, cabendo destaque para a pastoral da saúde nas comunidades, que trouxe relevante formação para os agentes voluntários e os preparou para o atendimento dos doentes nos hospitais dos respectivos municípios da diocese. Outra pastoral que teve uma atenção especial do bispo foi a Pastoral da Educação e do Ensino Religioso. Com seu jeito todo carismático, ele mesmo ia convidando os agentes, enviava-os para fazerem cursos de formação em âmbito nacional e motivava-os a serem presença de Igreja no meio em que estavam inseridos.

Com seu coração de pastor, nada escapava ao seu cuidado: incentivou os trabalhos junto às famílias com um olhar misericordioso, sobretudo para as famílias de segunda união, promovendo encontros, celebrações e uma acolhida toda especial no seio da Igreja. Outra dimensão que incentivou e deu subsídios para que acontecesse a unidade na diocese foi por meio da Pastoral da Catequese, formando catequistas e líderes para evangelizar desde a mais tenra idade até os adultos.

Tinha Dom Orani uma preocupação especial para com as crianças e idosos. Por meio da Pastoral da Criança e da Pessoa Idosa implementou frentes de ações e trabalhos a partir da constatação das necessidades apontadas pelo censo realizado na diocese. A juventude também contou com uma atenção singular no seu pastoreio, a realização de encontros formativos para as lideranças juvenis incentivava os jovens a serem protagonistas nos trabalhos de evangelização e na construção da “civilização do amor”, sobretudo de outros jovens. “Convoco todos vocês para um grande diálogo com os jovens: os que estão estudando nas escolas, universidades, cursos profissionalizantes, os desempregados e os que têm uma posição melhor, os que não encontram espaços na Igreja”, eram palavras impulsionadoras de Dom Orani. Com a convocação do Sínodo da Juventude e o Ano da Juventude no ano de 2002, o pastor deixou claro sua opção preferencial pela juventude.

Um dos principais zelos de Dom Orani foi ancorar as vocações sacerdotais e religiosas. Na sua caminhada diocesana ele ordenou 30 presbíteros para a Igreja de São José do Rio Preto, e fazia questão de receber, sabia ouvir e ajudar cada padre que o procurava, era solícito com os padres doentes e também idosos, dedicando-se a visitá-los para levar sua solidariedade paterna. Incentivou os trabalhos da Pastoral Vocacional, ampliando o número de agentes leigos para promoção vocacional, seja masculina ou feminina. A formação dos futuros padres estava entre as prioridades do seu governo.  Investiu de maneira sistemática na promoção de cursos para ajudar na formação humana, intelectual, espiritual, afetiva e comunitária dos seminaristas do seminário propedêutico e dos cursos de filosofia e teologia. Com o intuito de ampliar o processo formativo, criou a Associação Rio-pretense Católica de Ensino (ARCE), mantenedora do Centro de Estudos Superiores Sagrado Coração de Jesus que forma os futuros padres e, também, os leigos que desejam realizar os cursos de filosofia e teologia. Ainda com a proposta de valorizar as vocações ministeriais, como na Igreja dos primórdios, instituiu o diaconato permanente, uma proposta de serviço da caridade do Concílio Vaticano II que, na diocese, deu inúmeros frutos.

Ainda para demonstrar sua solicitude pastoral, o bispo Orani criou e instalou o Tribunal Eclesiástico Diocesano para fazer com que a justiça também acontecesse no âmbito da comunidade cristã. Essa semente plantada no ano de 2004 germinou e deu muitos frutos, hoje o tribunal se tornou interdiocesano, atendendo as cinco dioceses do Sub-Regional RP II da CNBB.

Um dos maiores legados deixado por Dom Orani na diocese do interior paulista foi a criação da Diocese de Catanduva, a primeira do Brasil no ano do Grande Jubileu. Sabemos que para erigir uma nova diocese o projeto tem que partir do bispo que esteja disposto a abrir mão de uma parte significativa de sua diocese. Dessa forma, sempre pensando no bem estar e bom atendimento do povo cristão ele não mediu esforços para que fosse criada mais uma Igreja particular no Noroeste do Estado de São Paulo.

Administrar economicamente uma grande diocese não é tarefa fácil, requer muita aptidão e habilidade de gestão, características marcantes em Dom Orani.  Além dos bens existentes na diocese, em seu tempo de bispado nesta diocese, construiu a nova cúria diocesana, prédio que concentra toda a administração da diocese e que abriga os departamentos: jurídico, administrativo, fiscal, e também pessoal para melhor atender as necessidades das paróquias, que segundo ele, “quem vê a cúria, deve ver a Igreja diocesana”. A sua preocupação sempre foi com o bom acolhimento das pessoas que fossem procurar esses serviços, para tal, além de investir na formação dos profissionais, ele celebrava a santa missa diariamente para os colaboradores, antes que eles iniciassem seus trabalhos. Outra importante obra deixada pelo bispo foi a construção da sonhada Casa do Clero, uma casa que abrigasse os padres ao final de seu ministério, ou os padres que precisassem de tratamentos. O suntuoso prédio conta com diversas instalações, inclusive com enfermaria para apoiar no tratamento e recuperação dos padres enfermos e uma excelente área de lazer, pois o local foi construído, também, para a integração e convivência fraterna do clero.

Certamente a maior característica do bispo Orani, que o projetou no cenário nacional, foi a Comunicação. Tanto é notória sua habilidade comunicativa, que ele era denominado “o bispo das comunicações”, e nesse âmbito dedicou-se plenamente em inserir a Igreja nos meios de comunicações sociais, uma vez que os documentos da Igreja apresentam a comunicação como geradora de fraternidade e comunhão. Como bispo, seu desejo era que a comunicação acontecesse de maneira clara e fosse expressão da evangelização. Uma de suas primeiras ações na diocese foi a constituição de uma coordenação diocesana da Pastoral da Comunicação (Pascom) com uma significativa participação de leigos advindos das várias regiões pastorais da diocese que receberam uma sólida formação, para implantar a Pascom nas diversas comunidades paroquiais.

Fato determinante para Dom Orani se lançar no cenário nacional como “bispo das comunicações“ foi seu ingresso no Conselho Superior do Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã (Inbrac), organização mantenedora da RedeVida de Televisão, com sede na diocese rio-pretense. Ele também se empenhou, junto ao Ministério das Comunicações, para conseguir várias concessões de rádios, dentre elas uma rádio educativa com frequência modulada. A emissora recebeu o nome de Interativa e até hoje é um dos principais meios de comunicação da diocese. O sistema de comunicação da diocese foi fortalecido por meio do site, “Jornal Diocese Hoje”, e por várias rádios, e essa rede comunicativa fez com que o bispo monge despontasse em nível nacional, assumindo, assim, o setor de comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e tornando-se maior autoridade no campo da comunicação da Igreja Católica.

Hoje, Dom Orani, como cardeal da Igreja, certamente é uma das maiores autoridades eclesiásticas do Brasil e do mundo, isso se dá pelo fato de seu inquieto coração, desejoso de fazer com que Jesus Cristo se faça presente em todos os rincões, seja nas periferias ou nos centros urbanos, e esperançoso de que a vida floresça cada vez mais nos corações dos fiéis. Celebrar seu Jubileu de Prata é para toda a Diocese de São José do Rio Preto um louvor a Deus pela vida desse incansável pastor que iniciou seu intenso e profícuo ministério apostólico nestas terras de São José.

 

 

Padre Gerson Carlos Cavalin

Presbítero da Diocese de São José do Rio Preto (SP)

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