Dom Orani em Petrópolis: ‘sentir as dores juntos’

“Confiamos à intercessão de Maria, a Senhora do Amor Divino, todas as vítimas da forte chuva que se abateu sobre a cidade de Petrópolis”

 

Num gesto de solidariedade e fraternidade cristã aos cidadãos de Petrópolis, o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, presidiu missa no dia 26 de fevereiro, na Paróquia Santo Antônio, situada no Alto da Serra, um dos locais que, junto com o bairro de Caxambu, foi assolado por fortes chuvas, no dia 15 de fevereiro, as quais provocaram deslizamentos nas encostas, desmoronamentos de casas e enxurradas pelas principais ruas da cidade, contabilizando dezenas de mortes, desaparecidos e desabrigados. 

O bispo da Diocese de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, logo no início da celebração, desejando “manifestar para todo o Brasil a solidariedade entre os irmãos do episcopado”, agradeceu a presença, a proximidade e a solidariedade de Dom Orani, que demonstrou “apoio desde o primeiro momento, fazendo contato com as mais diferentes pessoas para que não faltasse à Igreja de Petrópolis a possibilidade de atender, de forma emergencial, os irmãos que foram atingidos pela terrível tempestade”.

 

Dirigindo-se aos irmãos e irmãs que acompanhavam a missa “pela oração e pelo coração” através dos meios de comunicação, já que a transmissão gerada pela RedeVida era para todo o país, Dom Gregório destacou a importância da unidade e desejou que “toda lágrima seja transformada, assim como todo coração que sofre seja consolado pela presença do Altíssimo”. 

Que a celebração, acrescentou Dom Gregório, “seja marcada com o único desejo de começarmos a cada dia, tudo de novo, até que possamos ser verdadeiramente consolo para aqueles que mais necessitam”. 

 

Partilha dos dons 

Ainda no início da celebração, Dom Orani lembrou que a celebração estava sendo realizada na Paróquia Santo Antônio, no Alto da Serra: “À nossa frente vemos as imagens do Morro da Oficina que marcaram as notícias dos últimos dias em nosso país”. O arcebispo agradeceu a acolhida que recebeu por parte de Dom Gregório e também por ele permitir que a Arquidiocese do Rio de Janeiro pudesse partilhar seus dons com a Diocese de Petrópolis em suas necessidades. “Agradeço às pessoas que partilharam com generosidade seus bens e nos ajudaram a ajudar”, disse. No espaço de dez dias, a Cáritas Arquidiocesana enviou a quantia de R$ 100 mil. As doações em alimentos, água, roupas, produtos de higiene e de limpeza, entre outros, ficou próxima de mil toneladas. 

 

Presenças 

Foram concelebrantes, entre outros, o pároco, padre José Celestino Coelho, e o vigário episcopal do Vicariato Urbano, no Rio de Janeiro, padre Wagner Toledo, que estava como capelão militar do Corpo de Bombeiros, na equipe de buscas por desaparecidos. 

Entre as autoridades, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e sua esposa, Analine, e o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, e sua esposa, Luciane. 

 

Esperança e confiança em dias melhores 

Na homilia, ao refletir as leituras da Missa Votiva de Nossa Senhora – tradição da Igreja aos sábados –, com destaque ao episódio da visita de Maria a sua prima Isabel, Dom Orani recordou com carinho da padroeira da Diocese de Petrópolis, Nossa Senhora do Amor Divino, colocando sob sua proteção todas as famílias que sofrem por causa da tragédia das chuvas. 

“Confiamos à intercessão de Maria, sob o título de Nossa Senhora do Amor Divino, todas as vítimas da forte chuva que se abateu sobre a cidade de Petrópolis. Abraçamos todas as pessoas com suas dores e sofrimentos, que perderam entes queridos, casas e bens e, ao mesmo tempo, rezamos pelos que partiram, para que sejam acolhidos pelo Senhor”, disse o arcebispo do Rio. 

Dom Orani recordou que é preciso aprender com os acontecimentos. A pandemia, como a tragédia em Petrópolis, foi um convite para viver a solidariedade. 

“Própria da vida cristã, a solidariedade ainda se encontra no coração das pessoas, apesar da desconstrução que fazem em relação aos valores cristãos com tantas leis, julgamentos e pelos meios de comunicação”, disse. 

“A solidariedade do povo de rezar e sentir as dores junto também se traduziu em alimentos, água, roupas, e tantos outros produtos de primeira necessidade. Sou testemunha de quantas paróquias no Rio de Janeiro, das menores até as maiores, se mobilizaram para ajudar os irmãos e irmãs que passam pela tribulação”, completou. 

Dom Orani observou que as pessoas estão machucadas por tantas situações de dor e sofrimento, e que desejam voltar à normalidade da vida. Em sua opinião, é preciso acreditar em Deus, que começa a transformar as realidades com pequenas coisas. O ‘sim’ de Maria a vontade de Deus, por exemplo, fez acontecer maravilhas. 

“Sofremos sim, choramos juntos, somos marcados por situações de dor e sofrimentos, mas somos chamados, centrando nossa vida em Jesus Cristo, a ter esperança no amanhã e confiança em dias melhores. Precisamos sonhar, fazer o bem às pessoas sem esmorecer e desanimar. Que o Senhor nos ajude a dar passos nas transformações sociais, de fazer a diferença na sociedade com ações de fraternidade, solidariedade e de responsabilidade”, disse. 

“Que Maria, a Senhora do Amor Divino, nos inspire para que possamos fazer a nossa parte, de abraçar e acolher as pessoas com as suas dores, de olhar para frente, para o futuro, com esperança e confiança e com o compromisso de fazer ações que marque a nossa vida e de nossas cidades”, completou. 

 

Cicatriz do amor

No final da celebração, ao contar a história de um garoto que era rejeitado na escola por causa de uma cicatriz no rosto, mas que teve a coragem de salvar a irmãzinha em uma tragédia semelhante, Dom Gregório Paixão lembrou que “muitos heróis nascerão dessa tragédia”, como os bombeiros, voluntários e os pais que não desistem de encontrar seus filhos que foram soterrados ou levados pela água. 

“Precisamos levantar a cabeça e olhar para a cicatriz do amor de quem lutou, sonhou e quis dias melhores, para que por meio desta unidade nós reconstruamos não apenas casas, mas sejamos capazes de reconstruir vidas dos que ainda ousam lutar e acreditar”, disse. 

“É por causa da nossa fé e unidos que vamos superar a dor que se abate nos corações dos que foram atingidos, mas também no nosso coração, que não deve esquecer a cicatriz do outro que chora e pede a presença de Deus, e Ele está entre nós, mas também pede de todos nós a responsabilidade de reconstruir vidas, reconstruir cidades, reconstruir justiça, amor e paz na sociedade em que nós vivemos. Que Deus nos abençoe e que a nossa memória nos faça lembrar a cada dia a missão que temos ao beijar a cicatriz do amor”, completou. 

 

Gratidão 

O pároco, padre José Celestino Coelho, agradeceu a presença de Dom Orani, pedindo a Deus que seu “ministério possa levar alegria para muitas pessoas”. 

Agradeceu a Dom Gregório “por ser um pai presente na paróquia desde o início da tragédia”. 

Afirmando que a “Igreja é um caminho de esperança, de vida plena e de vida eterna”, agradeceu também todas as pessoas que não medem esforços para ajudar, como as autoridades políticas, as forças militares e a comunidade do seminário diocesano. “Vemos que Jesus nos inspira a ajudar. Muito obrigado a todos do fundo do coração”, concluiu.

 

Olhar o futuro com esperança 

Na conclusão, antes da bênção, Dom Orani partilhou a conversa que teve com o pároco, padre José Celestino, que revelou a “dor pelo sofrimento de seus paroquianos, ou de quem perdeu a vida, que não são números, mas vidas, histórias”. 

Destacando a presença terna, próxima da Igreja e manifestando sua solidariedade, o arcebispo agradeceu, mais uma vez, todas as pessoas que partilharam seus bens, às que se colocaram à disposição para ajudar, como as forças militares, profissionais da saúde, voluntários de diversas classes e aqueles que recolheram e transportaram doações. Também os que estão de prontidão nas paróquias de Petrópolis acolhendo, alimentando e servindo as pessoas que precisam de algum tipo de necessidade. 

Além da responsabilidade das autoridades da cidade e do Estado do Rio de Janeiro, Dom Orani informou que, a partir do mês de março, a campanha SOS Petrópolis vai ser ampliada e estará sendo coordenada, junto com Dom Gregório, pela Cáritas Brasileira com o apoio da Cáritas do Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). 

“Tenho certeza que as pessoas de todo o Brasil que se comoveram com os acontecimentos estão solidárias e irão ser generosas com a campanha da Cáritas para reconstrução de vidas e de casas em Petrópolis. Agora é o momento de dar passos, de não só ver a dor do presente, mas olhar o futuro com esperança”, concluiu Dom Orani. 

 

Carlos Moioli

Foto: Gustavo de Oliveira

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