Governo e Santuário Cristo Redentor celebram protocolo de intenções

O centenário do lançamento da pedra fundamental do monumento do Cristo Redentor foi comemorado com missa em ação de graças presidida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, no dia 4 de abril. Entre os concelebrantes estavam o bispo auxiliar Dom Antonio Luiz Catelan Ferreira e o reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo.

A data também foi marcada, logo após a celebração eucarística, com a assinatura de um “Protocolo de Intenções” e de um “Acordo de Convivência” entre a Arquidiocese do Rio de Janeiro e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Para garantir a manutenção e acessibilidade no monumento por parte da arquidiocese, serão definidos um plano de trabalho, levando em consideração a função social do Parque Nacional da Tijuca na perspectiva ambiental, turística e sagrada.

A cerimônia, realizada aos pés do Cristo Redentor, teve a presença do presidente da República, Jair Bolsonaro, do governador do Estado do Rio, Cláudio Castro, do prefeito da cidade do Rio, Eduardo Paes, dos ministros do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e da Economia, Paulo Guedes, do presidente do ICMBio, Marcos de Castro Simanovic, entre outras autoridades, como pede o protocolo para este evento.

Os dois documentos assinados, com prazo de validade por dez anos, contemplam o interesse mútuo do ordenamento público do Parque Nacional da Tijuca, que recebe milhares de visitantes todos os anos.

O ICMBio, autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, tem a função de proteger a área da floresta, de domínio público da União. Por sua vez, a Arquidiocese do Rio de Janeiro é considerada parceira, por ser responsável pela plataforma do Cristo Redentor, situado no alto do Morro do Corcovado.

Considerado a maior floresta urbana do planeta e rica em biodiversidade com suas terras, flora, fauna, mananciais e belezas naturais integrantes da área, o Parque Nacional da Tijuca foi criado, em 6 de julho de 1961, no governo de Jânio Quadros, por meio do Decreto nº 50.923.

Já o monumento do Cristo Redentor foi inaugurado 30 anos antes da criação do Parque Nacional da Tijuca, no dia 12 de outubro de 1931 – data em que a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil –, cuja construção, liderada pelo arcebispo da época, Cardeal Sebastião Leme, contou com doações de fiéis de todo o país. O monumento, que em 2021 completou 90 anos de sua inauguração, é considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.

 

Entrevista

O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, em entrevista, explicou o motivo da assinatura dos documentos com o Ministério do Meio Ambiente, destacou a construção do Cristo Redentor, a sua importância para a Igreja como santuário arquidiocesano e para o país, no qual se tornou o seu maior símbolo.


– Qual foi a finalidade da assinatura do Protocolo de Intenções e do Acordo de Convivência entre a Arquidiocese e o ICMBio?

Dom Orani – O monumento do Cristo Redentor teve o lançamento da pedra fundamental há cem anos, e a sua inauguração aconteceu há 90 anos, no dia 12 de outubro de 1931. Na época, o então presidente da República, Epitácio Pessoa, autorizou e entregou à Igreja Católica a administração do Morro do Corcovado, justamente onde está situado o Cristo Redentor, a responsabilidade de conservação do monumento, o que tem sido feito até hoje. Recordamos com muito carinho a iniciativa e o empenho do Cardeal Sebastião Leme na construção do monumento, com a ajuda do povo de todo o Brasil.

É comum nos países a conservação dos parques nacionais. No nosso caso, o Brasil, os parques nacionais foram entregues aos cuidados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Um deles, o Parque Nacional da Tijuca, foi criado em 1961, justamente onde está situado o Santuário do Cristo Redentor.

Independentemente dos rumores veiculados na imprensa sobre as dificuldades de convivência, era necessário ter um acordo por escrito para que fossem asseguradas as celebrações e eventos que ocorrem no Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, muitos deles que marcam a história da Igreja, da cidade e do país. O documento foi concluído após seis meses de trabalhos entre os departamentos jurídicos da arquidiocese e do ICMBio. O acordo contempla os direitos da arquidiocese de ir e vir até ao Santuário do Cristo Redentor, como também, a responsabilidade do ICMBio de cuidar e proteger o Parque Nacional da Tijuca.

Agradecemos a Deus com todas as pessoas que se empenharam na assinatura deste acordo entre arquidiocese e o ICMBio, na qual tivemos a alegria de sermos testemunhas.

 

– Como surgiu a ideia da construção do Cristo Redentor por Dom Sebastião Leme, para consagrar o Brasil ao Sagrado Coração de Jesus?

Dom Orani – A ideia da construção de um monumento ao Cristo Redentor no alto do Morro do Corcovado já vinha do final do século XIX, até com sugestão da Princesa Isabel, mas foi o Cardeal Sebastião, na década de 1920, que deu andamento ao projeto. Na ocasião do lançamento da pedra fundamental, há cem anos, ainda não havia nenhum projeto aprovado. Havia discussões de como seria o monumento. Se pensou o Cristo Redentor com um globo na mão ou com a cruz às costas, até que chegou ao Cristo de braços abertos, que recorda tanto a cruz como o acolhimento.

A campanha de arrecadação de fundos levou um certo tempo, mas aconteceu em âmbito nacional, com a contribuição de milhares de pessoas. A construção, com as dificuldades da época, levou cinco anos. Era um lugar difícil e não tinha as facilidades que temos hoje.

As mãos e a cabeça do Cristo foram feitas na França, e o restante do corpo no Brasil. O monumento foi revestido de pedra-sabão, e o coração é o único lugar que o revestimento foi feito fora e dentro, para lembrar que ele é dedicado ao Coração de Jesus. Atrás de cada pedra há os nomes de pessoas que pensaram, rezaram e ajudaram que o monumento fosse uma realidade. Ao construir o monumento, Dom Sebastião Leme quis retratar a presença cristã que sempre marcou o país, e hoje ele é o símbolo do Brasil.

 

– Qual é a importância do Cristo Redentor para a Igreja e o Brasil?

Dom Orani – O monumento não é só um ponto turístico na cidade, nele se  encontra o Santuário Arquidiocesano do Cristo Redentor, tendo na sua base uma capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida, com a presença permanente do Santíssimo Sacramento. Nele, como acontece em todos os santuários espalhados no país, há celebrações, casamentos, batizados, vigílias e peregrinações.

Temos um carinho especial por todo o trabalho que é realizado, e agradecemos as empresas parceiras que tornam possível a conservação do monumento. Ele está sujeito a todo tipo de intempéries, como raios, chuva, sol e vento, e sua conservação é necessária e constante. A última obra foi a troca da iluminação, que precisa de tempos em tempos ser modernizada.

Ao ser colocado no alto do Morro do Corcovado, o monumento se tornou um sinal do Cristo Redentor, luz do mundo. Durante o dia podemos contemplar o monumento de várias regiões da cidade, também à noite, ao ser iluminado, às vezes, com a cores que lembram uma campanha de cunho social ou que homenageiam uma data especial. Mesmo que o tempo esteja nublado, sabemos que o monumento está lá no alto do morro, assim como temos a certeza que o Cristo está presente em nossas vidas, na nossa caminhada.

 

Carlos Moioli

Fotos: Gustavo de Oliveira

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