O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, presidiu a Missa dos Santos Óleos, na Catedral de São Sebastião, na manhã de Quinta-Feira Santa, dia 14 de abril. A Missa dos Santos Óleos ou Missa do Crisma, também denominada de Missa da Unidade, reuniu os bispos auxiliares, o clero, seminaristas e representantes das comunidades paroquiais.
Nos ritos iniciais, Dom Orani alegrou-se pelo retorno das celebrações, após dois anos cumprindo com as exigências sanitárias da pandemia.
“Caríssimos irmãos e irmãs, é uma grande alegria estarmos reunidos nesta Missa da Unidade, em nossa Catedral Metropolitana. Saúdo os irmãos bispos presentes, membros do Cabido Metropolitano da Catedral, vigários episcopais, todos os padres que renovarão o compromisso sacerdotal, reitores, formadores e seminaristas, diáconos permanentes e destinados ao sacerdócio, religiosos e religiosas consagrados e consagradas, e representantes de cada paróquia”, acolheu.
Homilia
Durante a homilia, o arcebispo ratificou a oportunidade de comunhão, a unidade e o entusiasmo pela nossa vida.
“Caríssimos, irmãos e irmãs, durante os últimos dois anos, nós não tivemos essa alegria de estarmos juntos presencialmente aqui em nossa Igreja Mãe, a Catedral. No primeiro ano, inclusive, estavam apenas eu e alguns acólitos diante desse momento difícil que nós vivemos. É verdade que ainda nós não terminamos com esse momento de pandemia, mas com todas as prudências e, ao mesmo tempo, com todas as precauções, somos chamados a vivenciar, neste ano, e manifestar a nossa esperança e nossa confiança no Deus da vida”, regozijou.
Dom Orani chamou a atenção de todos quanto aos trágicos acontecimentos mundiais. Além desse momento difícil da doença global, o mundo vive guerras devastadoras, não só na Europa Oriental, como em vários outros países do mundo.
“As pessoas não sabem conviver umas com as outras na fraternidade, no respeito mútuo, de trabalhar para o bem comum, ou ainda dificilmente sentam-se à mesa para as negociações, para resolver os seus problemas. Optam por matar inocentes. Vivemos também, em época mundial, nacional e local, de grande polarização ideológica, em que as raivas, os ódios acontecem com muita facilidade. E nós, como Igreja, somos chamados a construir pontes e a viver a fraternidade. Vivemos em um mundo bastante dividido e separado, e com situações das mais complexas. E nós celebramos a Páscoa neste contexto, que também inclui outros contextos, como a pobreza, muitas necessidades com o aumento grande da população em situação de rua em nossa cidade do Rio de Janeiro”, ressaltou.
Após citar o aumento do número de desemprego e de pessoas que passam por várias necessidades, Dom Orani chamou a atenção de todos que, neste contexto de dificuldades, o povo de Deus é chamado a manifestar a vida.
“Como anunciar e testemunhar a vida em meio a tantas situações mundiais, nacionais e locais? Creio que o Tríduo Pascal será uma grande resposta. Mas eu gostaria que a celebração desta manhã da Quinta-Feira Santa já pudesse ser um anúncio dessa nossa esperança e de caminhos para a nossa própria vida, além do compromisso da nossa caminhada. Jesus no Evangelho cita Isaías, lido na primeira leitura, e fala que o Espírito está sobre Ele, e foi ungido para manifestar a boa notícia às pessoas”, exclamou.
À luz da segunda leitura, Dom Orani fez um chamado a todos os batizados, incluindo os presbíteros, e afirmou que o povo, levado pelo Espírito de Deus, é convidado a ser sinal de esperança e de confiança na grande cidade, incluindo os diversos contextos, como rotina das pessoas, os acontecimentos, e a luta diária. Em cada instante, o povo de Deus é indagado sobre o papel e a missão da Igreja em nossa sociedade.
“Aqui vai o nosso agradecimento a Deus pela presença profética dessa Igreja Particular do Rio de Janeiro. Nesses tempos difíceis pudemos viver a unidade, a comunhão, a preocupação com os mais necessitados, com quem não tinha o que comer e que fez parte da nossa vida e das preocupações de cada comunidade, de cada paróquia”, destacou.
O arcebispo recordou os múltiplos trabalhos sociais realizados na arquidiocese em tempos de pandemia, que salvaram as vidas de muitas pessoas; e demostrou gratidão por todas as disponibilidades dos fiéis, dos presbíteros, líderes de comunidades, de cada paróquia, a serem presenças nas ações caritativas, que todos se empenharam a doar nos momentos mais difíceis que a sociedade mundial viveu nos últimos dois anos.
O arcebispo ainda lembrou que, apesar das divisões, o povo de Deus continuou unido, sendo uma resposta positiva através da vida.
“Em torno desses três vasos de óleos em que nós abençoamos e consagramos, nós olhamos toda a nossa arquidiocese, sabendo que daqui sai todo o espírito de santificação e espírito do Senhor, que é chamado a santificar o nosso povo no Batismo, no Crisma, na Unção dos Enfermos, na consagração do altar e dedicação da Igreja, na ordenação presbiteral e episcopal quando é o caso. Vemos todo esse momento de comunhão. Unidos no mesmo espírito, na mesma fé, na santificação do povo de Deus, vai também a nossa preocupação com aquele irmão ou irmã que, ao nosso lado, passa por tribulação e dificuldade. Escutar as pessoas é realmente um grande aprendizado, é algo importante para que não sejam pessoas desconhecidas ou simplesmente invisíveis, como alguns reclamam. Mas saiba que são queridos e amados por Cristo que fala através da Igreja”, exclamou.
Dom Orani sublinhou que a celebração nos faz ir além, convida toda a Igreja à comunhão. E exemplificou com os diversos testemunhos vividos durante a pandemia. O arcebispo louvou a Deus por cada declaração e disposição das pessoas, que viveram em unidade diante de várias circunstâncias difíceis.
“Juntos nós pudemos desempenhar a nossa missão e, muitas vezes sem precisar, agir espontaneamente ou pela graça de Deus no serviço de chegar às várias situações de necessidade do nosso povo. Nós, meus irmãos e irmãs, queremos nessa celebração pedir ao Senhor esse dom da comunhão e da fidelidade. Que nós não deixemos nos dividir e separar por tantas circunstâncias que, muitas vezes, batem as nossas portas”.
Dom Orani continuou: “Nós podemos, enquanto povo de Deus, sermos unidade na diversidade. Sabemos de tantas situações diferentes em nossa grande cidade, mas queremos caminhar na comunhão e na unidade, como nós fizemos até agora, e que possamos sentir no coração. Nos últimos anos, nós aprofundamos e aprendemos a viver muito mais o escutar ao outro, o preocupar-se com o outro, chorar com o outro, alegrarmo-nos com o outro. E, ao mesmo tempo nesse Espírito de Deus presente em nossas vidas, anunciamos as boas notícias ditas por Isaías, que depois Jesus leu na sinagoga”, finalizou.
Bênçãos dos Santos Óleos
Após a Liturgia da Palavra, a mistura dos bálsamos foi apresentada ao arcebispo, que realizou a bênção dos Santos Óleos dos Catecúmenos, dos Enfermos, e fez a consagração do Óleo do Crisma. E, como sinal do Espírito Santo Paráclito, santificou com o sopro episcopal.
Renovação das promessas sacerdotais
A celebração também se caracterizou como uma grande ação de graças pela instituição do ministério sacerdotal na Igreja, na qual os presbíteros presentes renovaram promessas sacerdotais. O reitor do Seminário Arquidiocesano São José, cônego Leandro Câmara, louvou a Deus pelos jovens diáconos destinados ao sacerdócio ministerial que, no próximo ano, serão ordenados sacerdotes.
“Estes, meus irmãos e irmãs, são os frutos da oração, do trabalho vocacional realizado por todos os agentes envolvidos na Pastoral Vocacional e na formação dos nossos futuros presbíteros. Renovemos, hoje, diante dessa bênção, 16 novos presbíteros para a Igreja e o nosso compromisso de oração e de trabalho pelas vocações sacerdotais”, invocou.
O arcebispo e toda a assembleia fizeram oração especial a todos os padres falecidos. Ao final, como gesto de gratidão, entregou uma lembrança a todos os bispos, presbíteros, diáconos e seminaristas. E como gesto simbólico, distribuiu os Santos Óleos aos vigários episcopais representantes de cada vicariato.
Rita Vasconcelos