O 30º aniversário da fundação da Faculdade de Teologia de Lugano (FTL) está sendo celebrado com uma série de eventos durante o ano letivo 2023/2024.
A Faculdade de Teologia de Lugano nasceu como Instituto Teológico de Lugano, no dia 27 de abril de 1992, por decreto de monsenhor Eugenio Corecco, bispo de Lugano de 1985 a 1995. O Instituto foi aprovado pela Santa Sé em 8 de maio do mesmo ano, e criado em 20 de novembro de 1993. Foi a primeira instituição universitária erigida no cantão do Ticino, na Suíça.
Entre as razões da sua fundação estão o aumento da investigação e do ensino da filosofia e da teologia no contexto da Suíça italiana, materializado em institutos de investigação, projetos, cursos de formação clássicos e inovadores, respondendo também às necessidades da atual sociedade suíça e europeia. Em 21 de abril de 2021, o Conselho de Estado da República e Cantão de Ticino ratificou a filiação da FTL à Universidade da Suíça Italiana (USI).
Entre os eventos organizados na comemoração do 30º aniversário da fundação da Faculdade de Teologia de Lugano, realizou-se a Conferência Internacional “Confrarias: entre desafios e oportunidades”, dos dias 21 a 23 de setembro de 2023, em Lugano. As atividades foram iniciadas com a celebração eucarística na Basílica do Sagrado Coração, no 21 de setembro de 2023, às 8h30, presidida pelo Cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo emérito de Gênova, e que também proferiu a aula magna. Para este evento foram convidados estudiosos de fama internacional.
Uma realidade viva da Igreja
Na definição do Cardeal Angelo Bagnasco, a sua atenção foi dupla: distinguir as práticas de caridade realizadas no seio das irmandades do humanitarismo filantrópico e, depois, poder enquadrá-las num contexto europeu mais amplo. “Depois de algum tempo, o mundo mudou e pode surgir a questão espontânea: essas agregações ainda fazem sentido ou são um legado do passado? A pergunta é compreensível, mas, para dizer algo, é necessário partir do mistério da Igreja, visto que as irmandades são realidades eclesiais. A Igreja é feita de homens, mas não por homens, é feita por Cristo. Isto também se aplica às confrarias: elas respondem à presença viva de Cristo,” afirmou.
Uma resposta ao secularismo
Hoje, na Europa, o cardeal comunicou que “há 27 mil irmandades, num total de mais de 6 milhões de membros. Mas a verdadeira questão é: por que no nosso continente?”. Bagnasco responde a esta questão de duas maneiras: “Encontramos atualmente pelo menos duas linhas de pensamento no Ocidente: o secularismo generalizado – se Deus existe, não me importa, como observou o filósofo e teólogo Cornelio Fabro no seu ensaio sobre o ateísmo – e o individualismo como atitude básica, que deriva da irrelevância da religião como vínculo (religo) com Deus. Não sabendo mais quem é, o homem não sabe mais quem é. Mas, se não pertenço a ninguém, não tenho interesse para ninguém.” Isto explica, portanto, a relevância atual, mas também o recente ressurgimento, segundo o cardeal, das irmandades e da sua persistência: “Têm uma longa história, mas também uma grande relevância, precisamente porque são grupos identificados. O mundo” – continuou Bagnasco – “ensina que a palavra identidade é uma palavra feia. Não é verdade! É uma palavra bonita e importante. Se não há identidade, a que posso pertencer?”.
No discurso seguinte, do reitor Roux, há o convite a “ir ao coração desta experiência existencial. Já não basta dizer que as irmandades são uma forma puramente folclórica: nelas há um coração. Por isso devemos estar atentos ao olhar com que olhamos para esta história. Para que não aconteça que um dom precioso do Espírito seja jogado fora por causa de uma narrativa estranha”.
Presença da Arquidiocese do Rio de Janeiro
O único especialista latino-americano convidado para este Congresso Internacional foi o monsenhor doutor André Sampaio de Oliveira, atual vigário episcopal do Vicariato Episcopal para as Associações de Fiéis ditas Irmandades, Confrarias, Ordens Terceiras e Devoções; delegado para os fiéis ligados ao Rito Romano Antigo; pároco da Paróquia pessoal da Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, para a comunidade de língua inglesa; promotor de Justiça no Tribunal da Causa dos Santos para os processos da Arquidiocese do Rio de Janeiro; membro da Comissão Arquidiocesana de Artes Sacras; membro da Comissão Arquidiocesana para aplicação do Motu Proprio Traditionis Custodes; capelão da Our Lady of Mercy Society; Capelão da OLM School; capelão da Confraria de Santiago de Compostela do Rio de Janeiro; e professor de Direito Oriental do Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico.
A Igreja particular de São Sebastião no Rio de Janeiro
Ao desenvolver o tema “As Associações de fiéis na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro: velhos e novos desafios”, monsenhor Sampaio apresentou a Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Caminhando para o jubileu dos seus 450 anos de existência, a Igreja Particular de São Sebastião do Rio de Janeiro traz consigo um patrimônio histórico eclesiástico intimamente ligado não só à história da cidade do Rio de Janeiro, mas também à história do Brasil. Isso pela extensão territorial que possuía, tendo sido capital colonial do Império Português, do Império Brasileiro e, posteriormente, também da República Brasileira. Pela atividade pastoral que desenvolveu ao longo dos séculos, a Igreja do Rio de Janeiro deu origem a uma série de paróquias e dioceses históricas que estão na origem da preocupação pastoral da Igreja, pelo que hoje constituem as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil.
A Arquidiocese de São Sebastião conta atualmente com 292 paróquias, 1.103 locais de culto, 510 sacerdotes diocesanos, 250 sacerdotes de institutos religiosos e sociedades de vida apostólica, 288 diáconos permanentes, 154 seminaristas, 8 bispos auxiliares e o cardeal-arcebispo. O território está dividido em 12 vicariatos territoriais e 9 vicariatos não territoriais, incluindo o Vicariato Episcopal para as Associações de Fiéis denominadas Confrarias, Ordens Terceiras e Devoções. Ao longo de seus quase 450 anos de história, a Igreja privada de São Sebastião, no Rio de Janeiro, foi governada pastoralmente pelos seguintes ordinários: 8 prelados administrativos, 11 bispos diocesanos e 7 arcebispos metropolitanos. Destacamos os três últimos cardeais arcebispos: Dom Eugenio, Cardeal de Araújo Sales (1971 a 2001); Dom Eusébio Oscar, Cardeal Scheid, SCJ (2001 a 2009); Dom Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist. (2009 até hoje).
Um Vicariato para as associações públicas e privadas de fiéis
Após apresentar um breve histórico das confrarias da arquidiocese, explicou a criação do Vicariato para as Associações de Fiéis ditas Irmandades, Ordens Terceiras e Devoções. O vicariato visa evidenciar o protagonismo dos leigos na vida e na atividade da Igreja, sendo necessário reconhecer que estas associações públicas de fiéis se distinguem pelo seu protagonismo religioso e social em terras brasileiras desde o século XVI. Em momentos críticos da nossa história religiosa, quando o número de sacerdotes foi seriamente reduzido, foram essas entidades que promoveram o exercício da caridade, incentivaram as devoções, aumentaram o culto público e construíram templos.
Um trabalho importante é a colaboração do Vicariato e da Comissão de Conservação do Patrimônio Histórico e Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro, especialmente no que diz respeito à preservação do patrimônio das Irmandades, Ordens Terceiras e Devoções, titulares de um vasto acervo artístico e cultural e que abriga importantes relíquias históricas e religiosas. Outro papel fundamental é integrar a Arquidiocese, as Irmandades e demais atores envolvidos na conservação do patrimônio cultural, a saber: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Ministério Público, entre outros, uma vez que os desafios da conservação e manutenção do património cultural são múltiplos e só com o envolvimento de todos serão conseguidos resultados mais positivos.
Outra questão importante é a assessoria jurídica que o Vicariato tem oferecido para adaptar os estatutos civis e canônicos destas associações. Às vezes, os seus estatutos estão ultrapassados e já não respondem às necessidades do nosso tempo. Para tal, o vicariato realiza uma ampla revisão estatutária, sugerindo adaptações e melhorias civis e canônicas que possam alinhar estas associações com as mais recentes regulamentações civis e eclesiásticas. Em suma, a estrutura do Vicariato é um órgão eclesiástico à disposição destas associações de fiéis para promover a colaboração e a ligação com a arquidiocese, tendo como missão principal, de uma Igreja ‘em saída’, levar a Boa Nova de Cristo a todos!
Organização da Conferência
O reverendo padre reitor, doutor professor René Roux, concluiu magistralmente a conferência internacional “Confrarias: entre desafios e oportunidades”, por ocasião do 30º aniversário da fundação da Faculdade de Teologia de Lugano, onde se ressaltou a grandiosidade e relevância do tema na vida da Igreja. Cabe ressaltar o trabalho do padre Marcelo José da Silva Sampaio, Lic.Iur.Can, Lic.Theol, e assistente do reitor, em toda a logística do evento. A publicação está no Anuário de História Religiosa da Suíça Italiana da Faculdade de Teologia de Lugano.
Da Redação