Obrigado, Ziraldo

Ziraldo Alves Pinto, mestre das cores e das palavras, foi para a eternidade no dia 6 de abril de 2024, aos 91 anos, após uma vida dedicada à arte e à cultura. Seu nome vem da combinação dos nomes de sua mãe, Zizinha, e o de seu pai, Geraldo.

Mineiro de Caratinga, cidade situada no Vale do Rio Doce e pertencente ao colar metropolitano do Vale do Aço, Ziraldo exerceu diversas atividades. Foi desenhista, cartunista, chargista, caricaturista, pintor, escritor, jornalista e dramaturgo. Em sua formação, obteve o título de bacharel de Direito. Publicou seu primeiro desenho aos 6 anos.

Ainda jovem mudou-se para o Rio de Janeiro, e começou a ficar conhecido por ter seus desenhos publicados em grandes jornais e revistas de circulação nacional.

Em 1954, começou a trabalhar no jornal “Folha da Manhã” (hoje, “Folha de São Paulo”), em 1957, na revista “O Cruzeiro”, e, em 1963, no “Jornal do Brasil”.

Ele tinha uma identidade gráfica bastante consistente, reconhecida por todos, além da vivacidade de cores, leveza e criatividade.

Em 1960, lançou a revista “Turma do Pererê”, a primeira em quadrinhos feita no país por um só autor. Em 1969, teve seu primeiro livro infantil, “Flicts”, que relata a história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo. Na obra, usou o máximo de cores e o mínimo de palavras.

Foi o fundador e diretor do tabloide “O Pasquim”, no qual usou o humor para driblar a censura durante o regime militar. Criou personagens famosos, como o Menino Maluquinho, adaptado para o cinema e a televisão, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de Literatura, em 1980. Aliás, Ziraldo fez diversos cartazes para o cinema nacional.

Desde 1961, quando o então bispo auxiliar do Rio de Janeiro Dom Helder Câmara fundou o Banco da Providência, Ziraldo contribuiu com cartazes para a Feira da Providência, cuja finalidade era angariar fundos para projetos que visavam à redução da desigualdade social na cidade. Em cada cartaz comunicava com o personagem Bocão, que tornou-se muito popular.

O envolvimento de Ziraldo em campanhas sociais e educacionais promovidas pela Arquidiocese do Rio de Janeiro não ficou restrito somente ao Banco da Providência. Com a sua criatividade, ele também foi o autor de capas dos livros de Ensino Religioso e criador do Geninho, mascote da Rádio Catedral. Ele também emoldurou o ônibus do programa “Passaporte da Cidadania”, da Pastoral do Menor, em 2013, que visa articular e potencializar as alternativas de atendimento às crianças e jovens em situação de rua, e participou da campanha de inscrições na Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro, em 2013.

 

Carlos Moioli

 

Benfeitor dedicado

“Ziraldo partilhou seus dons com quem não tinha acesso a sua arte. Fizeram parte do seu coração de artista as pessoas vulneráveis que precisavam de uma oportunidade por dias melhores. Ele participou ativamente com seus cartazes na divulgação de todas as edições da Feira da Providência, que sustentava os projetos sociais e de promoção humana do Banco da Providência, fundado há mais de 60 anos por Dom Helder Câmara. A leveza e a criatividade de seus cartazes, transformados em coleção, ajudaram no sucesso anual da Feira da Providência. Ele participou de outras iniciativas promovidas pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, que sempre o terá como um dedicado benfeitor. Que o Senhor o acolha na eternidade e que seus familiares sintam nossa unidade, oração e gratidão.”

Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro

 

Corações agradecidos

“Ziraldo, você estará sempre presente em nossos corações agradecidos, através do seu desenho, sua marca que envelopa todo ônibus “Passaporte da Cidadania”, que é a sedução para os jovens e adolescentes em situação de extrema vulnerabilidade que vagam pelas ruas de nossa cidade, e além de deixar escrito a frase impactante: “Cidadão carioca, você pode fazer uma criança feliz!”. Trata-se de um ônibus da Pastoral do Menor da Arquidiocese do Rio de Janeiro, preparado para acolher os jovens que perambulam abandonados pelas ruas de nossa cidade.”

Maria Christina Noronha de Sá, fundadora e conselheira da Pastoral do Menor da Arquidiocese do Rio de Janeiro

 

Promotor da cultura

“A nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro é grata ao testemunho do Ziraldo pela integração que ele conseguiu fazer entre arte, cultura, caridade e assistência social. Esse testemunho foi dado através de sua parceria com o Banco da Providência e com a Pastoral do Menor. Daí vem a nossa gratidão, o nosso respeito ao seu trabalho, colocado à disposição daqueles que mais necessitavam. A ele fica a nossa reverência e tenho certeza de que, por muitas gerações, ele será lembrado como um artista que foi e que continuará sendo um grande promotor da cultura e, acima de tudo, um grande cidadão que se preocupou com seu semelhante. Muito obrigado, amigo Ziraldo.”

Marcos William Bernardo, vigário episcopal para a Cultura

 

Homem de fé

“Ziraldo foi um grande artista, desenhista, autor, mas também um homem de fé e, ao unir a sua expressão de fé com a sua expressão artística, ele gentilmente realizou e cedeu as ilustrações que compuseram a obra do material didático de ensino religioso católico, que foi idealizada e publicada pelo Departamento de Ensino Religioso da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Agradecemos a sua vida, obra e memória, e rogamos ao bom Deus que conceda a ele o descanso e a luz eterna, que possa agora estar verdadeiramente contemplando a face do Criador de todas as coisas.”

Padre Thiago Azevedo Pereira, vigário episcopal para a Educação

 

Uma pessoa alegre, perspicaz e inteligente

“Ao iniciar minhas atividades no Banco da Providência, encontrei o Ziraldo como uma pessoa profundamente ativa na área de divulgação da realidade da Feira da Providência. Todo ano, ele fazia o cartaz que era a motivação de propaganda e que ficava espalhado por toda a cidade do Rio de Janeiro. Pude perceber nessa atitude um profundo carinho, afeto e envolvimento dele com as questões que o próprio Banco da Providência desenvolvia.

Quando o banco estava para ser criado por Dom Helder Câmara, no final da década de 1950, Ziraldo foi convidado como elemento que ajudasse na divulgação do marketing do próprio Banco da Providência e da Feira da Providência. A feira foi criada para financiar os projetos sociais do banco, e ele ficou responsável por divulgar junto à sociedade do Rio de Janeiro.  Ele é a imagem do profissional que viveu uma relação profunda com a Igreja Católica do Rio de Janeiro, a partir dos anos 1960.

Meu contato aumentou quando comecei a fazer parte da diretoria do banco, porque toda vez que tinha a abertura da feira, ele estava presente. Ele era pessoa interessante, alegre, perspicaz e inteligente.

Quando fui transferido para a Paróquia Santa Margarida Maria, na Lagoa, acabei descobrindo que ele era paroquiano. Toda semana ele passava pela igreja para rezar diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima. No fundo, ele tinha uma dimensão religiosa que transpassava a vida dele. Ele via aquele agir junto ao banco como uma maneira de expressar essa relação com a Igreja que o tinha convidado para ajudar.

Em uma das edições da feira, fizemos uma exposição de todos os cartazes que ele produziu, que explicou cada um deles e de onde vinham os seus detalhes. Pude perceber a sensibilidade humana que ele carregava e a preocupação que ele tinha para viver, manifestar e ajudar. Ele sabia que aquele cartaz tinha uma finalidade, que era divulgar o Banco da Providência, através da feira, para ajudar os mais pobres, os mais carentes, que precisavam de ajuda.”

Monsenhor Manuel de Oliveira Manangão, vigário episcopal para a Caridade Social

 

 

 

 

 

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