Procissão do Encontro no Largo da Glória

Dentro das celebrações da Semana Santa, foi realizada a tradicional Procissão do Encontro, com as imagens de Nossa Senhora das Dores e de Jesus carregando a cruz, na noite do dia 5 de abril. A imagem de Jesus saiu da Catedral de São Sebastião, no Centro, e a de Nossa Senhora das Dores da Igreja Nossa Senhora da Divina Providência, no Catete. 

Entre os sacerdotes presentes, o pároco da Catedral, cônego Cláudio dos Santos, o pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Glória, padre Wanderson José Guedes, e os reitores dos seminários São José, cônego Leandro Câmara, e do Propedêutico Rainha dos Apóstolos, padre Adriano de Abreu Figueira.

O encontro das duas imagens aconteceu no Largo da Glória, em frente ao Palácio Episcopal São Joaquim, quando o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, transmitiu a mensagem abaixo, que segue na íntegra:

   

“Reunimo-nos nesta noite de quarta-feira da Semana Santa para contemplarmos um encontro singular: de Nosso Senhor e Redentor Jesus Cristo com a sua Mãe Santíssima, Nossa Senhora.

  1. Encontros e Desencontros.

            Jesus passou a sua infância e a maior parte de sua juventude no silêncio da humilde cidade de Nazaré, na convivência de seu pai adotivo, São José, e de sua Mãe, a Virgem Maria.

           Poucos o conheciam, pois Ele levava uma vida semelhante à dos outros moradores de Nazaré.

           Mas, consciente da missão que recebera do Pai, Jesus se põe na direção dos homens e das mulheres e com eles estabelece diversos tipos de encontro: encontro com as multidões; encontro com os pequenos grupos e encontro individual com as pessoas.

            Houve encontros prazenteiros, nos quais Jesus sentiu a boa vontade de seus ouvintes: um coração sensível aberto à graça e a disponibilidade para servir a Deus nos irmãos.

           Mas houve também encontros difíceis.

           Isso acontecia quando os ouvintes não aceitavam as palavras de Jesus, nem Seu projeto (de salvação), nem Sua pessoa.

            Encontros desse tipo (foram aqueles que Jesus manteve com as autoridades daquele tempo. Elas, além de não acatarem sua doutrina e o caminho de salvação proposto, procuravam, a todo momento, motivos para o matar)  são os que Jesus realizou com as autoridades de Seu tempo, que procuravam, de todo modo e maneira, um jeito para matá-Lo.

Nestes tempos de polarizações ou desencontros nas famílias, nas comunidades, na Igreja, hoje somos convidados a tomar atitudes de encontro de olhares que se compreendem mesmo na dor, como Jesus e Maria, cujas imagens estão aqui diante de nós.

  1. Encontro de Jesus com Maria.

            A Caminho do Calvário, um encontro especialíssimo que revivemos nesta noite santa: Jesus encontra-Se com Maria.

           O filho querido caminha em direção ao lugar do sacrifício, e no caminho encontra-Se com a mãe dolorosa.

           Encontro doloroso, mas para Ele confortador!

            Contemplemos. Como teria sido doloroso para a Mãe ver Seu Filho, que durante a vida toda só fez o bem, só deu exemplo de misericórdia e perdão. E agora, o vê ensanguentado, carregando uma imensa Cruz, única e exclusivamente, porque O entregaram à morte, por inveja e pela rejeição da doutrina do amor.

            Encontro de fé. Maria, apesar de toda dor, reconhece naqu’Ele condenado a pessoa de Seu Filho amado e vê naquele incompreensível martírio a vontade do Pai, que por amor de nós, entregou seu Filho à morte.

            Presença feliz da mãe, certeza da mão amiga, garantia da solidariedade para enfrentar a Sua missão que é a Paixão, Morte e Ressurreição.

            Maria, a mãe, faz o que pode.

          O momento não é para celebrações e muito menos para abraços.

            Encontro trágico e os encarregados de assassinar o Nazareno têm pressa de levá-Lo para o Patíbulo da Cruz, por isso é necessário afastar as “pessoas incômodas”.

              Maria se retira em dores.

              Afinal, aqu’Ele jovem desfigurado que vai ali carregando a Cruz é o seu filho.

             Maria não o perde de vista.

            E no meio do alvoroço de soldados e do povo, entre caçoadas e lágrimas, Maria acompanha o seu filho até o fim.

            Na mente e no coração da Virgem Santíssima repassa o nascimento, a infância e os anos de juventude do filho no doce lar de Nazaré.

           Relembra Maria, também, os encontros e desencontros dos homens com Jesus durante a sua vida pública: quantos o procuravam para melhor conhecer e amar? Quantos se dispõem a crer no amor a Deus e aos irmãos? Quantos querem segui-Lo e testemunhar a Sua presença e oração no mundo? Ele continua a nos dizer: ‘Fazei tudo o que Ele mandar’.           Entretanto: Outros se afastam de seu projeto de amor e de partilha e o consideram um inoportuno.

           Há quem O agride e fere, ao agredir e maltratar os irmãos.

          Muitos querem eliminá-Lo, sempre que matam alguém dentre seus fiéis seguidores.

            E eu vos pergunto nesta noite: De que lado nós estamos? Qual é a qualidade de nossos encontros com o Cristo? Em nossa família, como se realiza o encontro: do marido e a mulher? de pais e filhos? de irmãos entre si?

            Que tipo de pessoas não aceitamos em nossa convivência e em nossa comunidade paroquial? Pobres, doentes, bêbados, aidéticos e drogados?

            Que o encontro de Nossa Senhora das Dores, a Mater Dolorosa, com seu filho Jesus nos ensine e mova os nossos corações a realizar verdadeiros encontros com Deus e com os irmãos:

  • Encontros sinceros;
  • Encontros de mútua ajuda;
  • Encontros de perdão;
  • Encontros de paz;

E afaste de nós, por amor:

  • Encontros que rebaixam as pessoas;
  • Encontros que exploram;
  • Encontros para tramar a ruína dos outros;
  • Encontros para falar mal;
  • Encontros nos quais reinam a falsidade e o ódio;
  • Encontros para destruir.

Virgem Santíssima, Mãe das Dores, queremos contemplar o seu olhar para o Cristo e o olhar do Cristo para a senhora. Senhora Santíssima, queremos aprender de ti o modo de melhor tratar as pessoas.

Ensina-nos a acolher cada um do jeito que ele é, sem olhar para a sua condição social, sua raça, sua cor, seus defeitos e suas aparências.

           Concede-nos o olhar generoso e amoroso de acolher a Deus no irmão e na irmã, mesmo naqueles que nos perseguem.

Virgem Santíssima, Mãe das Dores, preparai e abri nossos corações para recebermos com amor as pessoas de nossa família: o esposo, a esposa, o pai, a mãe, os irmãos.

Ajudai-nos a receber com fé o que nos fala a Igreja através do Papa, do arcebispo e de nossos sacerdotes.

Alicerçados no amor, queremos estabelecer com todos uma convivência harmoniosa, de modo a cumprirmos na terra o projeto de amor e de fraternidade que nos deixou Teu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor!

Fixemos nosso olhar sobre Maria e Cristo. 

Que eles olhem por nós para que possamos agora fazer o encontro verdadeiro daqui na terra.

Se aqui estiverem os membros de sua família, vá ao encontro deles, lhes dê abraços amorosos e carinhosos e diga: Viva o Encontro de Jesus.

 Bendito Encontro de Maria, que nós nunca nos desanimemos diante da fadiga do dia e nos faça a todos seguidores do amor e da paz que brotam do olhar do Cristo por cada um de nós!

Que ao contemplarmos tantos encontros de Jesus, não nos esqueçamos jamais do encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima, mas que dessa contemplação saibamos reconhecer Cristo Jesus na pessoa do irmão sofredor, nos marginalizados, nos esquecidos, nos não amados.

Acompanhemos JESUS no caminho da cruz e sejamos, também, alento e alívio para o irmão que sofre, como o foi Maria para Jesus no caminho do Calvário.  Amém”.

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