Rio de Janeiro recebeu grupo da subcomissão do Concílio de Niceia

Os membros da subcomissão do Concílio de Niceia, que faz parte da Comissão Teológica Internacional do Dicastério para a Doutrina da Fé, estiveram reunidos no Palácio Episcopal São Joaquim, no Rio de Janeiro, de 10 a 14 de junho.

Na pauta, estudos e aprofundamentos de alguns aspectos do Concílio de Niceia, que aconteceu no ano 325, d.C., na Turquia, acerca da natureza divina de Jesus Cristo. Foi o primeiro em âmbito ecumênico na história da Igreja. O último, o Concílio Vaticano II, é o de número 21, realizado em Roma, de 1962 a 1965.

O documento que a subcomissão preparou será apresentado em novembro deste ano para discussão na plenária do dicastério, a ser realizado no Vaticano. Os 1.700 anos do Concílio de Niceia faz parte das celebrações do Jubileu Ordinário do Ano Santo de 2025, convocado pelo Papa Francisco, que tem como tema: “Peregrinos da Esperança”.

 

Membros da Subcomissão do Concílio de Niceia

A subcomissão do Concílio de Niceia que se reuniu no Rio de Janeiro contou com a presença de nove membros, de sete países. São eles: padre Gaby Alfred Hachem, da Congregação Greco-Melquita dos missionários de São Paulo, com sede na cidade de Harissa, Líbano, monsenhor Maurizio Barba, italiano, oficial do Dicastério para a Doutrina da Fé e secretário adjunto da subcomissão,  Dom Antonio Luiz Catelan Ferreira, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, padre Philippe Vallin, professor da Universidade de Estrasburgo, na França, Dom Etienne Vetö, americano, bispo auxiliar em Reims, na França, monsenhor Piero Coda, professor no Instituto Universitário Sophia, em Loppiano, na Itália, e secretário geral da Comissão Teológica Internacional, padre Mario Ángel Flores Ramos,  professor e ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica do México, frei Fernando, capuchinho, português, poliglota, que faz as tradução linguística da comissão, e Robin Darling Young, professora na Pontifícia Universidade Católica de Washington, Estados Unidos.

 

Em entrevista concedida ao TF, Dom Antonio Catelan explicou o que são a Comissão Teológica Internacional, a subcomissão do Concílio de Niceia e os assuntos que foram discutidos no Rio de Janeiro.

 

Testemunho de Fé (TF) – O que é a Comissão Teológica Internacional e quais são suas funções?

Dom Antonio Catelan – A Comissão Teológica Internacional é um grupo de teólogos que foi criado após o Concílio Vaticano II, pelo Papa São Paulo VI, em 11 de abril de 1969, para ajudar e discutir questões importantes à vida da Igreja, de âmbito doutrinário e pastoral.

Instituída junto à Congregação (hoje, Dicastério) para a Doutrina da Fé, a serviço do Papa e da Igreja, a comissão reúne 30 teólogos de todos os continentes e se subdivide em três subcomissões, cujos mandatos duram cinco anos, renováveis para dois ou três quinquênios. Os nomes são indicados pelas conferências episcopais e aprovados pelo Papa. A Igreja no Brasil, desde a sua primeira composição, sempre teve um representante.

Devido à comemoração dos 50 anos da comissão, em 2019, os membros tiveram um ano a mais de mandato, em vez de cinco foram seis anos. Depois, demorou um ano para serem nomeados, por causa da pandemia. Estamos com mandato até 2026.

 

TF – O que cada subcomissão da Comissão Teológica Internacional discute no atual mandato?

Dom Antonio Catelan – Cada subcomissão trabalha um tema diferente necessário para o aprofundamento da vida da Igreja, e traz a pluralidade do pensamento teológico. Atualmente, são três temas que estão em debate: o Concílio de Niceia, que no próximo ano celebrará os 1.700 anos da sua realização; uma equipe aprofunda o tema da “Ecologia à luz da Teologia da Criação”; e outra equipe trabalha desafios antropológicos que se referem à pessoa humana no contexto cultural atual.

 

TF – Por que o Rio de Janeiro foi escolhido para a reunião da subcomissão do Concílio de Niceia?

Dom Antonio Catelan Foi um convite do arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta, através de mim que sou membro da subcomissão. Inicialmente, o prefeito do dicastério, Cardeal Luis Francisco Ladaria Ferrer, estaria presente, mas por motivo de preparação do Sínodo sobre a Sinodalidade, em outubro, e de reuniões importantes, em Roma, não pôde participar.

Foi um encontro cheio de significado. No Rio de Janeiro, o Cristo Redentor é um símbolo da cidade, mas também é internacionalmente um símbolo do Brasil. O monumento é uma das sete maravilhas do mundo contemporâneo, portanto, é um símbolo da fé em Jesus Cristo, filho de Deus, nosso Redentor. Está sob a cidade do Rio de Janeiro, e com a visibilidade que ele tem, se ergue diante do mundo. É um símbolo mundial da fé em Jesus Cristo, filho de Deus, verdadeiro homem, nosso Salvador. Portanto, é um monumento ao dogma e credo de Niceia. O grupo inclusive celebrou uma missa na Capela Nossa Senhora Aparecida, que fica na base do monumento, no Santuário Cristo Redentor. Alguns membros subiram por dentro da imagem até o ombro do monumento, enfim. O Cristo Redentor é cheio de significado cultural e religioso para o Brasil e para o mundo.

 

TF – O que os membros da subcomissão do Concílio de Niceia discutiram nesta semana no Rio de Janeiro?

Dom Antonio Catelan No Concílio de Niceia houve a definição e afirmação de que Jesus Cristo, o Filho encarnado, é da igual substância que o Pai. Uma palavra grega foi usada para dar essa definição, ao mesmo tempo, gerou uma polêmica. Muitos bispos, embora considerassem que Jesus era igual em natureza, em substância ao Pai, não concordavam com o uso de uma palavra não bíblica, que era da filosofia. Essa polêmica se arrastou depois do Concílio de Niceia por muitos anos, e foi preciso que o seguinte, o Concílio de Constantinopla, retomasse a questão. Mesmo assim, ao longo dos séculos, alguns problemas na compreensão da natureza de Jesus Cristo continuaram a existir.

 

TF – Por que o assunto foi retomado 1.700 anos depois?

Dom Antonio Catelan Atualmente, em algumas partes do mundo, se faz uma interpretação de Jesus Cristo não propriamente como Deus, mas como símbolo de Deus. Não como mediador absoluto da salvação, mas como um mediador da salvação entre outros. Por conta disso, por exemplo, a Congregação da Doutrina da Fé publicou uma orientação, uma carta chamada “Dominus Iesus”, que é muito importante. Mas, mesmo assim, na teologia atual, em outras partes do mundo, tem essa interpretação de Jesus simplesmente como humano, como um profeta apenas de nível superior. Desse modo, a retomada do Concílio de Niceia pela Comissão Teológica Internacional, que em 2025 irá celebrar 1.700 anos de sua realização.

 

TF – Quais outras posições teológicas sobre a cristologia estão sendo discutidas atualmente?

Dom Antonio Catelan – A finalidade de retomar, discutir, avaliar posições teológicas sobre a cristologia atualmente. O concílio tratou não só de cristologia, mas também da organização eclesial, da relação entre as sedes de patriarcado, de arcebispos e metropolitas. Isso é importante para regular internamente a vida da Igreja. Foi discutido, por exemplo, unificar a celebração da Páscoa entre as várias tradições cristãs. As atas do concílio se perderam na história, e embora haja testemunhos e cartas escritos à época, ao que tudo indica, não houve plena concordância entre os participantes.

 

Carlos Moioli

 

 

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