A Igreja celebrou a Festa do Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira da semana seguinte à Festa de Corpus Christi. O coração é mostrado na Escritura como símbolo do amor de Deus. No Calvário, o soldado abriu o lado de Cristo com a lança (Jo 19,34). Diz a Liturgia que “aberto o seu Coração divino, foi derramado sobre nós torrentes de graças e de misericórdia”. Jesus é a Encarnação viva do Amor de Deus, e seu Coração é o símbolo desse Amor. Por isso, encerrando um conjunto de grandes festas (Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi), a Liturgia nos leva a contemplar o Coração de Jesus.
O Sagrado Coração é a imagem do amor de Jesus por cada um de nós. É a expressão daquilo que São Paulo disse: “Eu vivi na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2,20). É o convite a que cada um de nós retribua a Jesus este amor, vivendo segundo a Sua vontade e trabalhando com a Igreja pela salvação das almas.
Esta solenidade nos remete a Jesus, que se entregou na Cruz, derramando o seu sangue para salvar a Humanidade. “A cruz é a identificação máxima de Deus por amor à Humanidade. Por isso é preciso contemplar a cruz de Jesus… Nosso processo de libertação hoje precisa ser esse olhar de adesão do nosso coração cheio de pecado para o coração rasgado de Cristo na cruz” (Santa Margarida Maria de Alacoque).
“O Coração de Jesus foi desejado desde a eternidade. Temos sede deste coração, porque foi criado à imagem e semelhança do amor eterno. Aquele soldado representava a Humanidade inteira… No silêncio da Cruz, quando o ser humano carimba o pecado, rasgando o Coração do Senhor, Deus revela o seu grito de amor. Daquele coração rasgado fluem sangue e água. Sangue da nova e eterna aliança, que celebramos em cada Eucaristia…” (Santa Margarida Maria de Alacoque).
Os Santos Padres muitas vezes falaram do coração de Cristo como símbolo de seu amor, tomando-o da Escritura: “Beberemos da água que brotaria de seu Coração… quando saiu sangue e água” (Jo 7,37 ;19,35).
Na Idade Média, começaram a considerá-lo como modelo de nosso amor, paciente por nossos pecados, a quem devemos reparar, entregando-lhe nosso coração (Santas Lutgarda, Matilde, Gertrudes a Grande, Margarida de Cortona, Angela de Foligno, São Boaventura etc).
No século XVII, estava muito expandida esta devoção, cujo culto litúrgico ao Sagrado Coração de Jesus começou com São João Eudes (1601-1680). A tentativa de colocar a nova devoção na liturgia encontrou grandes resistências, especialmente de natureza teológica, que perduraram nos séculos posteriores.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem a sua origem na própria Sagrada Escritura. O coração é um dos modos para falar do infinito amor de Deus por você. Este amor encontra seu ponto alto com a vinda de Jesus. A devoção ao Sagrado Coração, de um modo visível, aparece em dois acontecimentos fortes do Evangelho: o gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia (cf. Jo 13,23); e na Cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34). Em um temos o consolo pela dor da véspera de sua morte, e no outro, o sofrimento causado pelos pecados da Humanidade.
O Papa São João Paulo II sempre cultivou esta devoção, e a incentiva a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em 1980, no dia do Sagrado Coração, afirmou: “Na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno do mistério do Coração de Cristo. Quero hoje dirigir, juntamente convosco, o olhar dos nossos corações para o ministério desse Coração. Ele falou-me desde a minha juventude. A cada ano, volto a este mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja”.
Entre as muitas e ricas promessas que Jesus Cristo fez aos que fossem devotos de seu Sagrado Coração, sempre chamou a atenção a que fez aos que comungassem em sua honra nas nove primeiras sextas-feiras do mês seguidas. É tal, que todos a conhecem com o nome da Grande Promessa. Esta devoção, em sua forma atual, deve-se às revelações que o próprio Cristo fez a Santa Margarida Maria (1649-1690), sobretudo quando, em 16 de junho de 1657, descobrindo Seu Coração, disse-lhe: “Eis aqui este Coração que amou tanto aos homens, que não omitiu nada até esgotar-se e consumir-se para manifestar-lhes seu amor, e por todo reconhecimento, não recebe da maior parte mais que ingratidão, desprezo, irreverências e tibieza que têm para mim neste sacramento de amor”.
No Dia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, nós somos chamados a rezar pela santificação do clero. Rezemos pelo Papa Francisco, pelos bispos, padres e diáconos. Supliquemos a Deus que nos conceda sacerdotes santos, zelosos e distribuidores dos mistérios sagrados que carregamos em vasos de barro. Que o Divino Oleiro, o Sagrado Coração de Jesus, nos aqueça com a sua graça para sermos sacerdotes segundo o seu Coração. Rezemos, de modo particular, pelos padres doentes, perseguidos, marginalizados e privados de seu ministério. A todos manifestemos nosso afeto, gratidão e oração permanente!
Relembro a todos os fiéis da necessidade de retomarmos a entronização das imagens do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria nas salas de nossas casas, fazendo a nossa consagração e a de nossa família. Somos do Coração de Jesus! A Ele consagremos a nossa vida, missão, a Igreja, os seus ministros, nossos seminários, seminaristas, a vida religiosa e consagrada, o povo santo de Deus e nossas famílias!
Peçamos ao Sagrado Coração de Jesus, o Coração humano de Deus-Homem, está abrasado pela chama viva do Amor trinitário, que jamais se extingue e é fiel no seu amor pelos homens. Nós devemos aprender desse amor fiel. E, também, dirigir-nos a Maria: Virgem Maria Rogai por nós, Virgem fiel, rogai por nós, rogai por mim.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ