A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro viveu um domingo especial de fé e comunhão ao celebrar, no dia 9 de novembro, a Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão em união com a Primeira Festa da Santidade, realizada na Catedral Metropolitana.
A Basílica de Latrão, catedral do Papa e mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo, é sinal da unidade e da solidez da Igreja de Cristo. Nesse contexto litúrgico, celebrado universalmente, a Arquidiocese do Rio viveu um momento de intensa espiritualidade, reunindo centenas de fiéis para homenagear os Veneráveis e Servos de Deus cariocas que estão em processo de beatificação e canonização.
A iniciativa nasceu de um pedido do Papa Francisco, acolhido pela Santa Sé, para que todas as Igrejas particulares do mundo instituíssem um Dia da Santidade, dedicado à memória daqueles que testemunharam o Evangelho em seus próprios territórios. Segundo o Santo Padre, esse gesto pastoral convida cada diocese a reconhecer e valorizar a santidade que floresce em seu povo. Assim, no mesmo dia em que a Igreja universal renova sua comunhão com Roma, o Rio de Janeiro destacou seus exemplos de fé e virtude, reafirmando sua unidade com o Sucessor de Pedro e sua missão de ser uma Igreja viva, esperançosa e missionária.
A Santa Missa foi presidida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, e concelebrada pelos bispos auxiliares Dom Roque Costa Souza e Dom Joselito Ramalho Nogueira, pelo bispo emérito de Itaguaí, Dom José Ubiratan Lopes, e pelos sacerdotes Frei Dálvio José, ministro provincial da Província Nossa Senhora dos Anjos dos Frades Menores Capuchinhos, Cônego Marcos William Bernardo, pároco da Paróquia Imaculada Conceição, Cônego Cláudio dos Santos, pároco da Catedral Metropolitana, e Dom Roberto Lopes, assessor arquidiocesano para as Causas de Beatificação e Canonização.
“É um dia de gratidão a Deus pela santidade que brota em nossa terra e que nos inspira a viver com fé e amor concreto”, afirmou o Cardeal Orani ao abrir a celebração.
As atividades começaram ainda pela manhã, com momentos de oração e a inauguração de uma exposição com banners dos Veneráveis e Servos de Deus cujos processos estão em andamento na Arquidiocese. Cinco banners foram posicionados junto ao altar, representando as figuras que hoje são reconhecidas como expressões autênticas da santidade carioca. A iniciativa permitiu que os fiéis conhecessem mais profundamente as histórias desses homens e mulheres que, com suas virtudes e testemunhos, se tornaram sinais vivos do Evangelho.
Seis vidas, um testemunho comum
Atualmente, a Arquidiocese do Rio de Janeiro acompanha cinco processos de beatificação e canonização, envolvendo seis pessoas que representam diversos estados de vida na Igreja: leigos, religiosos, casados e jovens.
Entre eles está a Venerável Odette Vidal Cardoso, a Odetinha, que se tornou símbolo da pureza e da fé vivida na infância.
Outro venerável é o médico Guido Vidal França Schäffer, o “surfista de Deus”, que uniu o amor à medicina e à juventude à vida de oração e serviço.
A Serva de Deus Madre Maria José de Jesus, carmelita descalça, também foi lembrada por sua vida mística e pela difusão da espiritualidade de Santa Teresa e São João da Cruz.
O Servo de Deus Frei Nemésio Bernardi, frade capuchinho, foi lembrado por sua humildade e vida de serviço.
Por fim, foram recordados os Servos de Deus Zélia Pedreira Abreu Magalhães e Jerônimo de Castro Abreu Magalhães, casal que simboliza a santidade no matrimônio e na vida familiar.
Cardeal Orani João Tempesta: A cultura de morte será vencida pela força da vida em Cristo
O arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, em sua homilia destacou a importância da santidade no cotidiano e da fidelidade à missão evangelizadora da Igreja. “Ao celebrar a dedicação da Basílica de Latrão, reforçamos a nossa unidade com Pedro, na pessoa do Papa Francisco, manifestando a comunhão com o Santo Padre”, afirmou o Cardeal Orani.
O arcebispo refletiu sobre o significado da Igreja, explicando que ela não é apenas uma construção física, mas o povo de Deus reunido e sustentado por Jesus Cristo. Ele comparou a fé a uma construção que precisa estar firmada sobre um alicerce sólido para resistir às tempestades. “Para sermos Igreja viva, povo de Deus, o fundamento, o alicerce, é Jesus Cristo, nosso Senhor. Ninguém pode construir a não ser nesse alicerce. É preciso saber construir bem, ser Igreja, povo de Deus que caminha no Senhor”, afirmou. Dom Orani lembrou que, assim como uma casa não pode ser edificada sobre areia movediça, a fé não pode se apoiar em valores instáveis, mas deve estar firmada em Cristo. “É preciso achar a base sólida lá embaixo, a terra firme, a pedra, para que a construção permaneça de pé. Assim é a nossa vida de fé: se está sobre o Senhor, resiste às tempestades”, completou.
Inspirando-se na leitura do profeta Ezequiel, o Cardeal arcebispo comparou a missão da Igreja a um rio de água viva que flui do templo e leva vida a todos os lugares. “A Igreja deve levar essa água viva que vem do Senhor Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, para todos os cantos”, explicou. Ele ressaltou que essa água, símbolo da graça divina, é capaz de transformar tudo o que toca: “Por onde passa, essa água transforma a morte em vida. Como nas margens do Rio Jordão e no Mar Morto, tudo se torna vivo. Assim também a Igreja é chamada a levar vida, desde a concepção até a morte natural, defendendo a dignidade humana em todos os aspectos.” Dom Orani ressaltou que a missão evangelizadora é permanente e que a Igreja deve continuar levando a esperança a um mundo ferido por tantas formas de morte e exclusão. “Vivemos em uma cultura de morte, marcada pela violência e por ideologias que negam o valor da vida, mas nós queremos anunciar sempre a vida e a salvação que é Jesus Cristo, nossa esperança que não decepciona”, afirmou.
O arcebispo dedicou parte de sua homilia a refletir sobre a realidade da cidade do Rio de Janeiro, reconhecendo suas dificuldades, mas também a presença de muitos exemplos de santidade. “Muitas vezes, meus irmãos e irmãs, pelas notícias que temos sobre o Rio de Janeiro, nas várias situações sociais e de segurança, não imaginamos que há tantos santos e santas nesta cidade — e muitos que já estão no céu”, disse. Ele ressaltou que a santidade é possível em qualquer contexto, inclusive nas grandes metrópoles, e que viver o Evangelho é o verdadeiro caminho de transformação. “É possível santificar-se nesta cidade, vivendo o Evangelho, colocando em prática a Palavra de Deus e caminhando com o Senhor”, afirmou.
O arcebispo do Rio de Janeiro recordou ainda o apelo do Papa São João Paulo II, que, em sua primeira viagem ao Brasil, disse que o país precisava de santos reconhecidos, não apenas daqueles que estão no céu, mas de pessoas beatificadas e canonizadas para que o povo pudesse conhecê-las e se inspirar nelas. “Esse apelo despertou muitos passos nas dioceses do Brasil e levou o Rio de Janeiro a ter hoje cinco causas em andamento”, destacou. Segundo ele, esses processos são sinais concretos de que a graça de Deus continua agindo na história e no coração do povo brasileiro.
Dom Orani explicou que os processos de beatificação e canonização começam sempre pelo clamor do povo de Deus, que reconhece nas pessoas o testemunho fiel do Evangelho. “Essas causas surgem quando o povo percebe que alguém viveu intensamente o Evangelho e morreu com fama de santidade”, observou. O arcebispo aproveitou para agradecer a Dom Roberto Lopes, assessor arquidiocesano para as Causas de Beatificação e Canonização, por seu empenho e dedicação. “Agradecemos a Dom Roberto por toda a missão de animar as associações e fazer esse trabalho tão importante. Cabe à Igreja examinar se viveram as virtudes em grau heroico, se seus escritos estão de acordo com a doutrina e se há sinais do alto, como os milagres, para avançar nas etapas seguintes”, disse.
Dom Orani também fez um apelo aos meios de comunicação católicos para que ajudem a divulgar as histórias dos Servos de Deus e Veneráveis da Arquidiocese. “Pedimos aos nossos meios de comunicação que divulguem cada vez mais esses processos, para que as pessoas conheçam as virtudes e os passos desses nossos candidatos à santidade”, afirmou. Ele ressaltou a importância de veículos como a Rádio Catedral FM, a WebTV Redentor, o jornal Testemunho de Fé e as mídias digitais da Arquidiocese na missão de apresentar ao público as vidas de Odetinha, Guido Schäffer, Madre Maria José de Jesus, Frei Nemésio Bernardi e o casal Zélia e Jerônimo Magalhães. “Há muitos detalhes e muitas histórias de vida que não cabem em uma celebração, mas que precisam ser contadas e conhecidas”, acrescentou.
Ao final, o arcebispo expressou gratidão pela presença dos fiéis e das comunidades ligadas aos Servos de Deus e Veneráveis. “O Rio de Janeiro tem seus problemas e suas violências, mas tem muita gente santa. Há santos no céu e muitos santos que vivem entre nós. Hoje celebramos este dia para mostrar o outro lado do Rio: a beleza e a santidade do seu povo”, declarou. Dom Orani lembrou que a celebração acontece dentro do contexto do Ano Jubilar da Arquidiocese, que marca os 450 anos da prelazia do Rio de Janeiro e o início das comemorações pelos 50 anos da Catedral Metropolitana de São Sebastião. “Vivemos este momento com gratidão e esperança. Que esta celebração nos ajude a sentir-nos Igreja, corresponsáveis e peregrinos de santidade, caminhando juntos rumo à plenitude da vida”, concluiu o Cardeal Orani, convidando todos os fiéis a continuarem o caminho da santidade com alegria e perseverança.
Dom Roberto Lopes: Cada bairro do Rio guarda uma semente de santidade
Ao final da Santa Missa da Primeira Festa da Santidade, o Dom Roberto Lopes, assessor arquidiocesano para as Causas de Beatificação e Canonização, tomou a palavra para agradecer, animar e inspirar os fiéis a continuarem colaborando com o processo de reconhecimento dos Servos de Deus e Veneráveis do Rio de Janeiro. Em um tom de profunda gratidão e esperança, Dom Roberto ressaltou a importância das associações ligadas a cada causa e recordou as histórias de fé e virtude dos candidatos à santidade que nasceram e viveram na cidade.
“Agradecemos a Deus por este dia e pela presença dos consagrados, das novas comunidades e das associações que colaboram conosco. Cada candidato tem uma associação, e a finalidade é divulgar, organizar materiais, livros e, evidentemente, captar recursos para o processo”, explicou.
Dom Roberto destacou que o caminho da santidade é um dom concedido a homens e mulheres que, em meio às realidades do Rio de Janeiro, viveram intensamente o Evangelho. Ele lembrou que cada bairro, cada comunidade, traz em sua história a marca de alguém que soube transformar a fé em testemunho. “Hoje é o dia de olharmos para os lugares onde nasceram e viveram os nossos candidatos. A beleza da nossa cidade está também na pluralidade de suas culturas, e isso se reflete nos nossos santos cariocas”, afirmou.
Entre os exemplos mencionados, Dom Roberto falou com carinho sobre Odetinha, Guido Schäffer, Madre Maria José de Jesus, Frei Nemésio Bernardi e o casal Jerônimo e Zélia Magalhães, destacando a singularidade e a força espiritual de cada um. Sobre Odetinha, o bispo lembrou sua maturidade espiritual precoce e a profundidade de sua formação cristã. “A maturidade de uma menina tão pequena, mas com uma fé tão sólida, é algo extraordinário. Odetinha é uma figura muito forte, reconhecida como mística, e desde 1930 sua vida inspira devoção no Cemitério São João Batista”, observou.
Falando de Madre Maria José de Jesus, carmelita descalça de Vila Isabel, Dom Roberto relatou o momento de conversão que marcou sua trajetória. “Estava em um baile na Lapa quando teve uma intuição que transformou completamente sua vida. Tornou-se uma grande mística, tradutora e poetisa, e difundiu a espiritualidade carmelitana de Santa Teresa e São João da Cruz. Seu processo já está na fase final em Roma, e acreditamos que em breve suas virtudes heroicas serão proclamadas”, anunciou.
O casal Jerônimo e Zélia Magalhães, Servos de Deus, foi lembrado como um exemplo luminoso de santidade conjugal. “Num tempo em que a vida matrimonial enfrenta tantas crises, eles são um ícone belíssimo. Zélia foi uma grande formadora e missionária, catequista dos filhos e de muitos outros, e Jerônimo, um engenheiro silencioso e profundamente mariano, construiu a Igreja de Nossa Senhora do Carmo na cidade do Carmo (RJ) e instituiu o Apostolado da Oração. Eles colocaram Cristo no centro da vida familiar”, contou. Dom Roberto acrescentou que o processo do casal está na fase histórica e deverá seguir em breve para Roma.
O Delegado Episcopal para as Causas dos Santos também falou sobre o Frei Nemésio Bernardi, frade capuchinho conhecido por sua simplicidade, bom humor e vida de serviço. “Frei Nemésio foi um homem profundamente humilde, obediente e casto, que gastou a vida no cuidado pastoral do povo de Deus. Viveu na Tijuca, na Basílica Santuário de São Sebastião, desde a década de 1960, e muitos o chamavam de ‘frade do povo’. Tinha um ritmo de trabalho tão intenso que parecia estar em dois lugares ao mesmo tempo. Acredito que ele tinha o dom da bilocação”, disse Dom Roberto, entre sorrisos e aplausos dos presentes.
Ao mencionar Guido Schäffer, jovem médico e surfista conhecido como “o surfista de Deus”, Dom Roberto lembrou sua alegria contagiante e seu amor por Cristo. “Guido dizia que gostava de ‘surfar do Antigo para o Novo Testamento’. Era um jovem apaixonado por Deus, pela Eucaristia e pelo serviço aos pobres. Sua vida nos mostra que é possível ser santo em meio à juventude e às ondas do mar da vida”, afirmou.
Com emoção, Dom Roberto agradeceu o apoio constante do Cardeal Orani João Tempesta e o empenho das equipes pastorais e das associações que mantêm viva a memória e a divulgação das causas. “Agradeço ao nosso Cardeal, que sempre deu muito apoio e estímulo para que tudo isso pudesse se concretizar. E acredito que a Arquidiocese do Rio de Janeiro não ficará apenas com esses cinco processos; certamente virão outros, porque temos muitas figuras apaixonantes, que viveram com amor e fé”, declarou.
Ele lembrou que, além dos processos em andamento na Arquidiocese do Rio, há também causas de cariocas sendo conduzidas em outras dioceses do país, como a de Dom Othon Motta, na Diocese de Campanha (MG); Dom Luciano Mendes de Almeida, na Arquidiocese de Mariana (MG); e Dom Hélder Câmara, na Arquidiocese de Olinda e Recife (PE). “São bispos ligados à história do Rio, cujas causas tramitam onde exerceram seu ministério episcopal. Eles também são sinais da santidade que brota do nosso povo. Além desses, há tantos outros homens e mulheres, jovens e adultos, que viveram o Evangelho e estão sendo estudados em outras regiões”, destacou.
Ao final, Dom Roberto reforçou o papel da comunicação na promoção das causas. “É essencial divulgar as histórias desses nossos candidatos à santidade. Como dizia o Papa São João Paulo II, o Brasil precisa de santos, e nós temos aqui, no Rio, muitos a caminho da santidade. Por isso, pedimos aos nossos meios de comunicação que ajudem a fazer conhecer as virtudes e as vidas desses homens e mulheres de Deus”, afirmou.
Entre aplausos e preces, o momento foi encerrado com um clima de esperança e alegria. A fala de Dom Roberto lembrou que a santidade não é distante nem inatingível, mas uma realidade possível, vivida nas ruas, nas famílias e nas comunidades do Rio de Janeiro. “O nosso povo é um povo santo, e Deus continua suscitando exemplos entre nós”, concluiu.