Não é fácil precisar a história da celebração litúrgica do Advento; além disso, as notícias sobre suas verdadeiras origens são parcas. É necessário distinguir elementos que dizem respeito a práticas ascéticas e a outras, de caráter estritamente litúrgico; um Advento que é preparação para o Natal e um Advento que celebra a vinda gloriosa de Cristo (Advento escatológico).
O Advento é próprio do Ocidente. O testemunho mais antigo encontra-se em uma passagem de Santo Hilário (por volta de 366) que diz: “Sancta Mater Ecclesia Salvatoris adventos annuo recursu per trium septimanarum sacretum spatium sivi indicavit” (CSEL,65,16) “A Santa Mãe Igreja oferece um espaço sagrado de três semanas por ano para a vinda do Salvador”.
O duplo caráter do Advento, que celebra a espera do Salvador na glória e a sua vinda na carne, emerge das leituras bíblicas festivas. O primeiro domingo orienta para a Parusia final. O segundo e o terceiro chamam a atenção para a vinda cotidiana do Senhor; o quarto domingo prepara-nos para a natividade de Cristo, ao mesmo tempo fazendo dela a teologia e a história. Portanto, a liturgia contempla ambas as vindas de Cristo, em íntima relação entre si.
Toda a liturgia do Advento é apelo para se viver alguns comportamentos essenciais do cristão: a expectativa vigilante e alegre, a esperança, a conversão, a pobreza. A expectativa vigilante e alegre caracteriza sempre o cristão e a Igreja, porque o Deus da revelação é o Deus da promessa, que manifestou em Cristo toda a sua fidelidade ao homem: “Todas as promessas de Deus encontram n’Ele seu sim” (2 Cor 1,20). A esperança da Igreja é a mesma esperança de Israel, mas, para nós, já realizada em Cristo.
O Advento é tempo de expectativa alegre porque aquilo que se espera certamente acontecerá. Deus é fiel. A vinda do Salvador cria um clima de alegria que a liturgia do Advento não só relembra, mas quer que seja vivida. O Batista, diante de Cristo presente em Maria, salta de alegria no seio da mãe. O nascimento de Jesus é uma festa alegre para os anjos e para os homens que Ele vem salvar (Lc 1, 44.46-47; 2, 10.13-14).
No Advento, toda a Igreja vive a sua grande esperança. O Deus da revelação tem um nome: “Deus da esperança” (Rm15,13). Não é o único nome do Deus vivo, mas é um nome que o identifica como “Deus para conosco”. O Advento é o tempo da grande educação à esperança: uma esperança forte e paciente; uma esperança que aceita a hora da provação, da perseguição e da lentidão no desenvolvimento do Reino; uma esperança que confia no Senhor e liberta das impaciências subjetivistas e do frenesi do futuro programado pelo homem. Na convocação ao testemunho da esperança, a Igreja, no Advento, é confortada pela figura de Maria, a Mãe de Jesus. Ela que “no céu, glorificada em corpo e alma, é a imagem e a primícia da Igreja… brilha também na terra como sinal de segura esperança e de consolação para o povo de Deus a caminho, até que chegue o dia do Senhor” (2 Pd 3,10).
O Advento, tempo de conversão. Não existe possibilidade de esperança e de alegria sem retornar ao Senhor de todo coração, na expectativa da sua volta. A vigilância requer luta contra o torpor e a negligência; requer prontidão e, portanto, desapego dos prazeres e bens terrenos. O cristão, convertido a Deus, é filho da luz e, por isso, permanecerá acordado e resistirá às trevas, símbolo do mal, pois do contrário corre o risco de ser surpreendido pela Parusia.
Dentro da teologia e espiritualidade do Advento, os textos bíblicos falam da dupla vinda de Cristo: a primeira, no Natal, e a segunda, na Parusia, o fim dos tempos. A vinda de Cristo é esperada pela Igreja com oração e vigilância: “Vem, Senhor Jesus”, como São Paulo nos fala. A espera de Cristo é uma das promessas messiânicas já cumprida parcialmente. Nossos pais na fé esperaram e não alcançaram, mas ouviram por Isaias que um tempo novo de esperança e de paz chegaria. Todo o Antigo Testamento está voltado, pelo anúncio dos profetas, para o mistério do Cristo que virá. Para nós hoje é viver na Igreja toda esta centralidade de Cristo na história da salvação, celebrando o grande mistério: vem a nós o esperado das nações, o anunciado pelos profetas, o revelado por seu Pai.
Nessa caminhada do Advento, além de Isaías e João Batista, a Liturgia apresenta outra figura importante: Maria. O Evangelho de Lucas narra a anunciação, quando Maria diz “sim” ao convite de Deus e aceita ser mãe de Jesus que se encarna em seu seio e passa a “habitar entre nós”. Maria é celebrada no dia 8 de dezembro, na Solenidade de sua Imaculada Conceição. A Virgem Imaculada diz “sim” e vive o seu silêncio na escuta do próprio Deus que chega. Do dia 17 a 24 de dezembro, a Liturgia nos marca bem a figura de Maria, a “cheia de graça”, a “bendita entre todas as mulheres”, a “nova Eva”.
O Advento é um tempo de espiritualidade que deve nos comprometer na tarefa pela construção de “novos céus e novas terras”. A Igreja nos exorta a vivermos em vigília e oração, para que esse tempo da graça seja proveitoso para nós, realizando-se o que reza a Liturgia: “Ó céus, que chova sobre nós, que suas nuvens derramem a justiça. Abra-se a terra e brote para nós a salvação.”
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ