A nossa Igreja do Rio de Janeiro está em festa, porque estamos celebrando, desde o último dia 7 de janeiro, a Trezena em honra ao padroeiro São Sebastião. Jubilosamente, celebrar o padroeiro principal, São Sebastião, significa a necessária proteção e a suprema lição da dádiva da vida. Jesus Cristo foi a sua verdadeira razão de viver e de morrer. A sua luz foi intensa, o seu testemunho imenso e claro no meio do império romano ensonado e coroado pelos ídolos. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte, não se pode apagar o horizonte, não se acende uma luz para a colocar debaixo da ponte. De qualquer lugar se via, em qualquer lugar se via, que Sebastião trazia Cristo a arder no coração. Não o escondia.
Por isso, o imperador romano, Diocleciano, quis fazer desaparecer este soldado de Cristo. Por isso, o fez morrer na grande perseguição desencadeada nos primeiros anos do século IV. Mas já o bom perfume do fiel soldado de Cristo se tinha espalhado pelo mundo inteiro, e frutificava em novas comunidades, de acordo com o célebre aforismo de Tertuliano: “Sangue de mártires, semente de cristãos”. E frutificava cada vez mais, sobretudo, em circunstâncias difíceis, quando a fome, a peste e a guerra assolavam as populações.
Ânimo, irmãos, não tenham medo! Coragem! Tem confiança! O Senhor nos chama à comunhão! E nos diz, no Evangelho (Mateus 10,28- 33), que valemos mais do que muitos passarinhos. Do menor para o maior: se Deus, nosso Pai, cuida da vida dos passarinhos, que não trabalham nem ceifam, com quanto mais carinho cuidará de nós! Como a vida do Mártir São Sebastião, também a nossa está segura nas mãos de Deus (Sabedoria 3,1), tatuada nas palmas das mãos de Deus (Isaías 49,16). Como a dos sete jovens irmãos Macabeus e a do velhinho Eleazar, de 90 anos, como nos mostra a história edificante e exemplar do Segundo Livro dos Macabeus, capítulos 6 e 7. Portanto, levanta-te, Rio de Janeiro, Igreja amada, acariciada, não abandonada (Isaías 62).
E a lição da Primeira Carta de São Pedro (3,14-17) ensina-nos bem: “Estai sempre prontos, preparados, para dar, a quem vos pedir, a razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3,15). Dá-se a razão, como se dá o pão. Sem argu – m e n t a ç ã o . Ma s co m a mão e o coração. Não é em vão que a lição da Carta de São Pedro diz “razão” com o termo grego lógos. Está bom de ver que o lógos bíblico não é nada nosso, não são os nossos raciocínios teóricos e abstratos, fáceis, que não doem. A razão que somos chamados a dar não é um objeto do nosso pensamento, mas uma pessoa a nós dada: Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido de Maria, “feito Homem como nós e que veio habitar no meio de nós” (João 1,14). É Ele a razão, o Lógos, “pelo qual tudo foi feito, e sem Ele nada foi feito” (Jo 1,3). Estar prontos, preparados, para dar a razão, o lógos, da nossa esperança, é estar prontos a dar a este mundo, Jesus Cristo!
É de Jesus Cristo que nós precisamos e de que este mundo precisa. É Jesus Cristo que as pessoas nos pedem. Foi Jesus Cristo que São Sebastião deu ao mundo no seu tempo. É Jesus Cristo que São Sebastião, padroeiro da nossa arquidiocese, nos aponta pela vida e entrega pela sua intercessão neste tempo. Não como um valor a conservar e guardar com todas as cautelas em alguma gaveta ou cofre-forte. Mas para nós o entregarmos generosamente aos nossos irmãos. Quando celebramos um mártir, não sobra lugar para o acidental. É Jesus Cristo que um mártir tem nos olhos e no coração. É esta herança do essencial, sem estratégias ou malabarismos, que recebemos do nosso padroeiro.
Jovem soldado, jovem mártir, São Sebastião, ensina a tua Igreja do Rio de Janeiro, que proteges, a estar sempre pronta, preparada e diligente para dar Jesus Cristo aos nossos irmãos que nos pedem.
ORANI JOÃO, CARDEAL TEMPESTA, O. CIST. ARCEBISPO METROPOLITANO DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO, RJ
Foto: Gustavo de Oliveira