Uma intercessora das vocações

“Quem perder a sua vida por causa de mim a encontrará” (Mt 16, 25). Esse dito de Nosso Senhor parece muito bem resumir o que foi a vida de Catarina Ponciano de Lima, que durante mais de 50 anos dedicou sua vida, desde a juventude, a servir ao Senhor no cuidado das vocações sacerdotais no Seminário São José. De fato, se aos olhos humanos sua vida de serviço e entrega parece uma perda, foi no amor pelo sacerdócio e pelo dom de si que ela encontrou a verdadeira alegria com que viveu todos esses anos. Gerações de sacerdotes formados no Seminário Arquidiocesano de São José se recordam com grande afeto e carinho dessa figura que se tornou quase que um símbolo em nossa arquidiocese de quem abre mão da própria vida para viver em prol do próximo.

A notícia de seu falecimento, acontecido em 27 de setembro passado, memória de São Vicente de Paulo, Apóstolo da Caridade, chegou em meio às despedidas também de outro grande nome dedicado às vocações, monsenhor José Maria Vasconcellos. Deve ser para nós um significativo dom do Senhor, aos nos apontar o fim da vida de duas pessoas que se dedicaram ao serviço das vocações, cada um no seu próprio estado de vida. Monsenhor José Maria, enquanto reitor, Catarina enquanto leiga, que fez do trabalho no seminário uma consagração da vida.

Para ilustrarmos a importância do trabalho – ou melhor, um verdadeiro apostolado – desempenhado por Catarina no Seminário São José, deixamos aqui quatro testemunhos muito significativos de quem a conheceu de perto: D. Assis, que a conheceu ainda seminarista na década de 50, e depois enquanto reitor; D. Roque, também seminarista e depois reitor, e agora bispo referencial para os seminários; irmã Raquel Moreira, religiosa do Instituto de Nossa Senhora do Bom Conselho, que durante mais de 20 anos serviu no seminário, juntamente com Catarina; e do cônego Leandro Câmara, atual reitor do Seminário São José.

“A Catarina foi uma figura singular no nosso seminário, e porque não dizer na formação de grandes grupos que por aqui passaram. Trabalhava em diversas atividades, nas coisas mais simples, começando pela lavanderia, com uma dedicação ímpar, sendo como uma mãe para todos os seminaristas. Ela também cuidou de modo muito especial de monsenhor Ávila, que foi reitor do seminário, depois bispo auxiliar, com um cuidado e um carinho muito grande. Dedicou a sua vida praticamente ao seminário. Aqui ela viveu e realizou a sua vocação de estar a serviço do Senhor, numa comunidade onde os jovens se preparam para servir ao Senhor. Fica aqui meu agradecimento como reitor que fui, mas também como seminarista: quando aqui cheguei no seminário menor, Catarina já estava, em 1956. Que Deus a recompense por tudo aquilo que ela realizou em nosso seminário” (D. Assis Lopes, bispo auxiliar emérito).

“Conheci a Catarina em 1991, quando comecei a trabalhar no seminário. Ela acolheu as irmãs muito bem. Eu fiz parte da primeira comunidade dos irmãos do Bom Conselho que foi trabalhar no seminário e nos sentimos carinhosamente acolhidas pela Catarina. Ela tinha tanto carinho, tanto amor e tanto zelo por nós que  chegava até a exagerar um pouco. Se ela imaginasse que podíamos estar pensando em adquirir alguma coisa, ela fazia tudo para adquirir aquilo para a gente, mesmo que custasse para ela. Muito dedicado ao trabalho, não media esforços, a qualquer hora do dia ou da noite, em dar conta do trabalho e tinha um zelo muito grande pelos sacerdotes doentes. Era impressionante ver nela a caridade pelos padres, seminaristas e suas famílias, assim como em relação aos funcionários. Uma pessoa muito acolhedora e incansável. Nunca ouvi Catarina dizer que estava cansada por algum motivo. Era sempre a mesma, naquele jeito solícito e alegre. Sentia prazer mesmo em ajudar” (Irmã Raquel Moreira).

“Há 34 anos, fui apresentado a Dona Catarina no Seminário São José. Ela me deu o número 20 para marcar as minhas roupas e me disse que eu seria padre. Seguindo a tradição, tive a alegria de que ela participasse da procissão do ofertório na minha ordenação episcopal. Uma mulher que parecia frágil, mas que conduzia a sua missão com muita determinação e amor. Que nossa querida irmã Catarina descanse na Paz e na Glória da Santíssima Trindade” (D. Roque Costa Souza).

O cônego Leandro Câmara, reitor do Seminário São José, conta uma experiência que o marcou, na ocasião da JMJ 2013: “Recordo vivamente a emoção dela quando lhe disse que a levaria para saudar o Santo Padre. Ela chorando me disse: ‘Meu filho, NN, me disse que eu jamais conseguiria ver o Papa de perto porque não tinha aquele crachá…’ Ao que lhe disse: ‘A senhora nunca vai precisar de crachá para ver o Papa. Na verdade, a senhora não vai somente ver o Papa, mas vai beijar a sua mão e receber uma benção…’. Daí que quando ela esteve diante do Papa, eu disse: ‘Santo Padre, essa é Catarina, vive em função das vocações.’ Ele sorriu pra ela e a abençoou. Outra situação que me recordo foi quando eu celebrava uma Vigília de Pentecostes em uma paróquia e soube que a Catarina estava passando mal e precisei ir correndo até o seminário ao seu encontro para levá-la ao hospital, e ela me recebeu olhando nos meus olhos e disse: ‘Meu filho, eu sabia que você viria…’.” completou o cônego Leandro.

Esses testemunhos são eloquentes o bastante para traçar um pouco da importância de Catarina na formação sacerdotal de nossa arquidiocese. Diante de sua passagem para a eternidade, só podemos fazer coro às palavras do reitor, cônego Leandro Câmara: “Que Nosso Senhor acolha em seu Reino a nossa irmã Catarina Ponciano e lhe torne, junto a Virgem Maria e seu esposo São José, uma grande intercessora das vocações sacerdotais, tão incansável quanto foi em sua passagem neste mundo”.

 

Pascom – Seminário São José

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