A celebração não é somente, ou principalmente, um conjunto de signos, gestos, ritos, ou ainda um acúmulo de palavras ou uma sucessão de cantos, mas é antes de tudo lugar onde se manifesta a presença do Espírito Santo, que aí é derramado em plenitude. A celebração litúrgica, sobretudo, comporta um conjunto de frutos do Espírito Santo, pois ela, em razão do próprio Espírito, é sempre eficaz para além das limitações trazidas pelos participantes. Neste sentido, a celebração é manifestação, ou mesmo epifania do Espírito Santo na sua globalidade porque é também nas suas partes. Com efeito, precisamente porque o Espírito Santo estava presente no fato histórico da salvação, Ele também está presente na sua celebração, ou seja, na sua atualização litúrgica. Mas não é somente o Espírito que se faz presente; Cristo também aí está presente e também aí age, visto que toda ação litúrgica é oferecida ao Pai por Cristo no Espírito Santo. Assim, a presença epifânica do Espírito Santo na celebração indica que esta é tanto mais sinérgica com a ação do Sacro Pneuma, quanto mais estiver em sintonia com Cristo; o que faz a ação articulada de todos os seus elementos (canto litúrgico, assembleia, leitores, presidência, e tudo o que compõe a estética litúrgica) fluir para a realização daquilo a que a celebração litúrgica se propõe, a saber, o encontro mais íntimo e elevado com o Ressuscitado, de modo a comprometer e transformar a vida das pessoas e por elas a vida do mundo, ou seja, a celebração litúrgica tem incidência direta na vida de todos aqueles que dela tomam parte, mas também tem uma dimensão missionária imprescindível.
Deste modo, a presença do Espírito Santo na celebração litúrgica faz com que ela seja um contínuo hoje salvífico em que o próprio Cristo se faz presente de modo atuante. Sendo assim, o Espírito na celebração torna presente Cristo, de modo que toda epifania do Espírito está em vista da epifania de Cristo e vice-versa. O Espírito Santo convoca a assembleia para a celebração, que por sua vez invoca o Espírito, evoca as maravilhas de Deus e provoca a mudança da realidade. Ora, se a celebração é epifania do Espírito Santo, Ele nela age distribuindo os seus dons e carismas a quem quer, de acordo com sua vontade e segundo a dilatação e capacidade da alma dos participantes. Não olha a dignidade da pessoa, mas dignifica aqueles que agracia. Não se retém na fragilidade ou na infidelidade da pessoa, mas cria o decoro e a beleza da alma, e promove a força dos espíritos. Ele que não necessita de meios para agir, precisa, porém, da colaboração humana. Assim, o Espírito Santo, que age sem nós, não é eficaz em nós sem nós.
Como Senhor e doador da vida, Ele deve ser o sopro que move, que anima, e que vivifica a Igreja para que ela seja de fato sacramento de encontro com o Ressuscitado, realidade divino-humana. Neste sentido, o Espírito é co-instituinte da Igreja, tornando possível a missão de Cristo e, assim, poder salvar todo o gênero humano.
É a partir do Espírito que a Igreja entende sua missão e o seu próprio ser. Pois se por um lado ela foi fundada historicamente por Cristo, a sua atuação sacramental em todos os momentos da história é fruto da ação do Espírito, que já em Pentecostes lança luz sobre a experiência apostólica anterior a tal evento e inicia a Igreja, lugar de encontro das pessoas com Cristo morto e ressuscitado. Contudo, o agente deste encontro é o Espírito.
Hoje, a Igreja manifesta solenemente através de seus inúmeros documentos a importância que o Espírito santo possui em sua vida e missão. Mas por muito tempo o protagonismo do Espírito foi esquecido, pois entendia a si mesma como uma realidade quase exclusivamente unida a obra de Cristo. Todavia, a realidade que a Escritura e a Tradição nos transmitem é bem mais equilibrada. E esta visão mais equilibrada, que é fruto das novas considerações da relação que há entre Cristo e o Espírito, e consequentemente entre o Espírito e a Igreja, estará presente no documento de Aparecida por ocasião da 5ª Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe.
Esta nova consideração presente na teologia da relação entre Cristo e Espírito, e por sua vez Espírito e Igreja, manifesta-se sim no Documento de Aparecida, porém não de forma explícita. Na verdade, o documento muito fala do discipulado e da missão dos que seguem a Jesus Cristo, contudo não destaca de forma notória a importância e a ação do Espírito Santo neste caminho de seguimento de Jesus. O documento reserva apenas um ponto do quarto capítulo, mais precisamente o último, para tratar da ação do Espírito no discipulado e na missão.
Penso que o documento muito destaca o discipulado a Jesus Cristo e lança pouca luz sobre a relação ou comunhão que há entre Ele e o Espírito. O que seria também de grande importância para a autocompreensão do discípulo-missionário como movido pelo Espírito de Jesus, levando-o a confiar nas reais possibilidades de unidade, apesar das diferenças que encontramos dentro do corpo eclesial, pois acima destas estão os carismas do Espírito que nos move, anima e vivifica.
Neste sentido, penso que seja imprescindível a instrução, ou a formação doutrinária dos fiéis para que possamos criar de fato uma mentalidade de unidade, de comunhão; o que por sua vez daria espaço para a criação de estruturas de participação nas quais todos se autocompreendam como membros de um corpo, cuja cabeça é o próprio Cristo, mas que é vivificado pelo Espírito. Com efeito, conscientes desta urgente necessidade para a Igreja de hoje, que procuramos promover e fortalecer a formação doutrinária e catequética dos leigos para que sejam cada vez mais conscientes de sua imprescindível missão e possam assumir o protagonismo que lhes cabe na vida da Igreja.
Padre Valtemario S. Frazão Jr.