Pastoral do Dízimo

O dízimo é aquela contribuição mensal que cada cristão deve fazer a sua paróquia para a manutenção da casa de Deus e das obras sociais que possa haver na sua comunidade. Tem fundamentos na Sagrada Escritura, como veremos adiante, e é de grande importância para a comunidade, pois a Igreja não sendo uma instituição com fins lucrativos, depende da colaboração dos fiéis para se manter.

Por essa razão, cada paróquia deve ter uma pastoral do dízimo bem estruturada não apenas para esclarecer aos fiéis das necessidades da comunidade, procurar inculcar neles a sua responsabilidade para com a Igreja enquanto cristãos que são, prestar contas periodicamente das despesas da paróquia e atender aos dizimistas a doadores da comunidade.

 

O dízimo na Bíblia

Vemos na Sagrada Escritura várias formas de o homem oferecer a Deus uma parte dos bens que dispõe. Essas formas aparecem sob a forma de “imposto religioso” de um sacrifício de ação de graças, pedido de um favor a Deus, pela expiação dos próprios pecados etc. Há um sentido nessa doação de bens do homem para com Deus, pois embora o nosso Deus não precise dos bens humanos, uma vez que Ele basta-se por si mesmo, mas é a oferenda do homem religioso que se desfaz de algum bem seu para oferecê-lo a Deus. O importante aqui já não é mais aquilo que se oferece, mas o sentido, o modo do que se dá e, sobretudo, “para quem se dá”.

Nos dias de hoje ocorre o mesmo. O homem que se propõe a contribuir com o dízimo na secretaria da paróquia está da mesma forma oferecendo um pouco do que é seu para a manutenção da casa de Deus e de sua obra na Terra. Essa importância ajudará a igreja de sua comunidade a manter-se, pois a mesma tem as suas taxas de iluminação, água e, consequentemente, sua missão junto à comunidade cristã.

Vejamos, agora, alguns exemplos bíblicos dos dízimos:

1 – Caim e Abel. Um se dedicava ao trabalho agrícola e o outro à criação de gado. Duas atividades produtivas essenciais. E ambos oferecem a Deus parte do fruto de seu trabalho (Gn 4, 3-4).

2 – Noé, representante de uma humanidade, após o dilúvio, oferece um sacrifício a Deus (Gn 8, 20) e Deus promete não mais amaldiçoar a terra (Gn 8, 21).

3 – Abraão vitorioso, após uma guerra, resolve entregar a “décima parte” do dízimo de tudo a Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, que acabava de abençoar a Abraão. (Gn 14, 18-20).

4 – Também o patriarca Jacó, antes de empreender sua viagem à Mesopotâmia, onde se enriqueceria enormemente (Gn 30, 43 e 31, 1) e de onde retornaria incólume, apesar de muitas peripécias e perigos, tem uma visão de Deus em Betel e ali funda um santuário, ungido uma pedra sagrada e prometido se tudo lhe for bem, “pagar o dízimo de tudo o que Deus lhe desse naquele empreendimento” (Gn 28, 22) e, com efeito, ao voltar cumpre a promessa que tinha feito (Gn 35, 1-8).

5 – Um exemplo de contribuição espontânea ocorre quando Moisés vai construir o tabernáculo para o culto de Deus e recolhe doações de bens materiais feitos pelo povo hebreu. (Ex 25, 1-9).

6 – No Capítulo 31 do Segundo Livro das Crônicas vemos como o rei Exéquias, em sua forma geral do culto, revigora a instituição do dízimo (décima parte) para que assim os sacerdotes e levitas pudessem melhor se dedicar às suas funções no templo.

7 – Também Neemias, depois do exílio de Babilônia, reorganiza, entre outras coisas, também o dízimo (Ne 10, 36 ss.)

8 – Também vemos nos profetas a preocupação com o dízimo: os perigos ligados ao dízimo (Amós 4, 4), a falta de pagamento do dízimo sendo considerada como “um roubo a Deus” (Malaquias 3, 8 ss.). Também vemos no Livro de Tobias 1, 6-8 que ele era um homem justo e consciencioso no dever do dízimo nas suas várias formas.

No Novo Testamento vemos ainda algumas citações acerca do dízimo, como em Mt 23, 23, onde se fala do dízimo das especiarias (hortelã, anis etc.), todos os legumes, e, no entanto, descurais a justiça e o amor do próximo e de Deus, essencial sem esquecer o amor a Deus e ao próximo.

Outros exemplos de dízimo no Novo Testamento: Lc 18, 2; At 11, 27-30; Gl 6, 6 Mc 12, 13-17.

O dízimo no decorrer da História

Nos primórdios da Igreja, os primeiros pastores não pensaram, a princípios, em impor aos cristãos o pagamento do dízimo. No entanto, escritos antigos relatam que as autoridades eclesiásticas exortavam aos fiéis a oferecerem algo de seus haveres ou de suas colheitas em favor dos ministros do Senhor para a manutenção do templo e em favor dos ministros do Senhor para a manutenção do templo e em favor dos mais necessitados. Tais obrigações não deveriam surgir de uma imposição jurídica, mas sim proceder livremente da caridade dos fiéis.

Vejamos alguns casos:

Na Didaqué vemos um exemplo ocorrido da Síria por volta do ano 100: “Todo profeta que a se estabelecer entre vós é digno de seu alimento”.

Santo Irineu enfatizava bastante o conselho evangélico de se dar os bens aos pobres.

Na África Setentrional, Tertuliano (que morreu após 220) afirmava que as contribuições usuais entre cristãos eram de todo espontâneas e nunca obrigatórias.

Já em 380, as constituições Apostólicas da Síria mencionavam o dízimo. Nos últimos anos do século IV (após 392), São Jerônimo em seu comentário sobre Malaquias incute o dever das contribuições aos fiéis de forma mais enfática.

Como podemos observar, no início da Igreja os primeiros pastores procuram exortar os fiéis à contribuição espontânea sem impor o dízimo. Mas com o decorrer do tempo esses apelos vão se intensificando até São Jerônimo, no final do século IV, recorrer a um apelo mais veemente. Até o século V foi assim que a Igreja agiu com relação ao dízimo.

A praxe de contribuir com a Igreja ia se difundindo no Ocidente. Em vista disso os Concílios foram intervindo neste setor. O Sínodo Regional de Tours, na França, em 567, fez a primeira recomendação acerca do dízimo aos fiéis. Outro passo foi dado no Concílio de Mâcom (França), em 585, quando os padres conciliares impuseram de vez o pagamento do dízimo aos fiéis, retornando assim às obrigações bíblicas do dízimo.

Contudo, apesar de ser uma obrigação da Bíblia, a Igreja sempre deixa à consciência dos fiéis a liberdade de contribuírem da forma que puderem para a manutenção da casa de Deus. Ela não estabelece que seja dez por centro, mas que cada um colabore segundo sua possibilidade. Também não há punição para os faltados, pois na liberdade de filhos de Deus cada qual deve estar ciente de seu compromisso para com a comunidade e para com Deus.

É importante ainda observar que as espórtulas não devem ser confundidas com o dízimo. As espórtulas são aquelas taxas que são aplicadas em alguns casos como missas, batizados, crismas, casamentos etc. … Elas não se destinam a proporcionar lucros aos presbíteros, mas permitir que sejam  benfeitores por profissão e não de maneira acidental, proporcionando meios de substância a fim de consagrar suas vidas e suas forças ao serviço do próximo. São Tomás de Aquino nos lembra na sua Suma Teológica II /II q. 100 art. 2; “O presbítero não recebe dinheiro como preço da consagração da Eucaristia, mas como sustentáculo da sua substância”,

É muito importante que cada paróquia monte sua pastoral do dízimo. Basta uma simples equipe de responsáveis que se comprometam a trabalhar com a comunidade. Deve ser uma comissão dentro do conselho paroquial. Essa equipe deve prestar seu serviço da seguinte maneira:

1 – Conscientizando os fiéis acerca da importância de serem dizimistas

2 – Fazendo a arrecadação e cadastrando os dizimistas

3 – Contatos, relações e comunicações

4 – Prestando contas regularmente de suas atividades

A forma de contribuição pode ser feita em envelopes, fichas na secretaria ou em carnês com folhas que se destacam com o canhoto, ficando na paróquia para o controle.

O sistema de arrecadação pode ser variado, podendo ser feito na própria paróquia aos finais de semana após as missas (prática mais comum), nas casas através dos cobradores encarregados pela equipe ou pelos bancos onde os dizimistas autorizam depositar mensalmente suas contribuições em nome da paróquia.

Muitas vezes a contribuição pode ser feita trimestralmente ou até mesmo semestralmente. Depende do contribuinte e de suas possibilidades ou oportunidade, contudo a forma como deve ser feita deve partir sempre livremente da parte do dizimista. Há aqueles que no início do ano preferem, pagar logo o ano todo. Todos ficam livres para fazer de maneira que suas obrigações para com sua igreja e sua comunidade sejam cumpridas.

É dever de cada cristão caminhar com seus irmãos numa caminhada de fé na Igreja que marcha nesta terra rumo ao céu, na oração, no trabalho na colaboração e no esforço do crescimento e da grandeza do Reino.

 

Diácono Claudino Affonso Esteves Filho

Coordenador Arquidiocesano da Pastoral do Dízimo

 

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