Dom Antonio Catelan: ‘A Igreja existe no mundo para anunciar o amor de Deus’

O “Encontro missionário com as lideranças paroquiais” que será realizado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro no próximo dia 11 de março, das 8h às 12h, na Catedral de São Sebastião, no Centro, tem a finalidade de dinamizar o Ano Vocacional Missionário convocado pelo arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta.

O encontro missionário, segundo o bispo auxiliar Dom Antonio Luiz Catelan Ferreira, que também é referencial da Dimensão Missionária e da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral, é formar os coordenadores paroquiais sobre as Diretrizes da Ação Missionária na arquidiocese. Em entrevista ao jornal “Testemunho de Fé”, Dom Antonio Catelan explicou os objetivos do encontro. 

 

Testemunho de Fé – O Ano Vocacional Missionário está em sintonia com as Diretrizes da Igreja no Brasil? 

Dom Antonio Luiz Catelan Ferreira – Estamos vivendo no Brasil mais um Ano Vocacional. É a terceira vez que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em amplo acordo entre todos os bispos, dedica o ano todo ao aprofundamento do tema vocacional.

Como no nosso 13º Plano de Pastoral de Conjunto da Arquidiocese do Rio de Janeiro já era previsto que este ano de 2023 seria o ano dedicado ao pilar da ação missionária dentro do acolhimento das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, publicada pela CNBB, decidiu-se continuar em comunhão com a Igreja no Brasil e manteve-se a perspectiva da vocação e missão.

 

TF – Há necessidade de realizar um Ano Vocacional Missionário? 

Dom Antonio Catelan – O Ano Vocacional é em âmbito nacional, já a ação missionária é de, maneira especial, própria de nossa arquidiocese. É verdade que a vocação e a missão são coisas permanentes na Igreja. Todos somos chamados pelo Batismo a viver em comunhão com Deus, a viver como discípulos de Cristo e a partilhar a alegria da fé com outras pessoas. A vocação é permanente na Igreja. E a missão também. A Igreja existe para a missão, existe no mundo para anunciar o amor de Deus e testemunhá-lo. A natureza da Igreja é a missão. Missão não é uma atividade que a gente pode fazer ou não. A Igreja existe para a missão.

Então, o Ano Vocacional Missionário nos ajuda a tomar consciência de duas coisas permanentes, de dois elementos estruturais que fazem parte do DNA da Igreja, a vocação e a missão. 

 

TF – Qual é o ponto de partida do Ano Vocacional Missionário na arquidiocese?

Dom Antonio Catelan – Nosso arcebispo, Dom Orani, escreveu uma carta pastoral para orientar o nosso Ano Vocacional Missionário e deu a ela o título de “Vocacionados e enviados para a missão”. Na carta pastoral, ele nos apresenta não apenas reflexões e fundamentos teológicos, mas também orientações, exemplos e sugestões de como dinamizar a dimensão missionária e o trabalho vocacional na nossa arquidiocese.

O trabalho vocacional em nossa arquidiocese é bem organizado. Possivelmente é a arquidiocese no Brasil que mais tem seminaristas, diáconos permanentes, leigos e leigas trabalhando, dedicando suas vidas nos mais variados campos da evangelização. Imagino que se somássemos todos os que se dedicam explicitamente à ação pastoral e evangelizadora, nós teríamos um contingente imenso.

Mas nós precisamos crescer ainda mais na dimensão missionária. Há um apelo muito forte na Conferência de Aparecida (2007), no magistério do Papa Francisco e no estilo e pregação do nosso arcebispo. Dom Orani é um homem missionário, muito entusiasmado pela missão, e procura todos os meios para mostrar a proximidade da Igreja a todas as pessoas, em todos os lugares, em todas as situações.

 

TF – O que se espera deste Ano?

Dom Antonio Catelan – O legado do Ano Vocacional Missionário que pretendemos é que haja equipes e comissões missionárias bem organizadas nas paróquias, vicariatos e na arquidiocese. Que todas as comunidades, pequenas comunidades, novas comunidades e grupos eclesiais acentuem a dimensão missionária da ida ao encontro e do acolhimento das pessoas. O legado que se espera desse Ano Vocacional Missionário são comissões missionárias em todos os âmbitos da vida da Igreja e funcionando com entusiasmo na missão. É isso que se espera.

 

TF – Qual é a sintonia do Ano Vocacional Missionário da arquidiocese e da mensagem do Papa para o Dia Mundial das Missões?

Dom Antonio Catelan – O Papa Francisco, na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano de 2023, que será celebrado no dia 22 de outubro, escolheu como tema: “Corações ardentes, pés a caminho”, inspirado na passagem dos discípulos de Emaús, narrada por São Lucas no seu Evangelho (cf. 24, 13-35).

Os corações ardentes enquanto escutam a Palavra. O anúncio, o conhecimento e a intimidade com a Palavra de Deus é o modo como nós temos para conhecer o pensamento de Deus a nosso respeito e é o modo como o pensamento de Deus pode entrar em nós através da sua Palavra, que é a Bíblia. 

Papa Francisco cita São Jerônimo que diz que ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo. Nós não podemos conhecer Cristo por causa de uma aparição ou revelação, mesmo que sejam verdadeiras. 

O conhecimento de Cristo nós temos pela Escritura e pelo ensinamento da Igreja. Aparições e revelações particulares podem destacar um ou outro aspecto, mas não podem acrescentar absolutamente nada. O que nós temos do conhecimento de Deus é a Palavra divinamente inspirada e acolhida pela Igreja na Bíblia Sagrada, explicada pela Igreja no seu magistério e vivida pela Igreja na sua pastoral, na sua liturgia, e concretizada na vida dos santos.

Nós devemos expor a Palavra de tal maneira que o nosso coração possa arder pela comunicação de Deus conosco e nossa com Deus. 

 

TF – Quais são as características que alimentam a missão?

Dom Antonio Catelan – O segundo passo que o Papa Francisco destaca é que a Palavra leva a se reunir em torno da mesa. A Eucaristia é o reconhecimento de Jesus, aquele mesmo que fala na Palavra, que se dá no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Então, abastecidos pela Palavra e pela graça da presença de Cristo na Eucaristia, os discípulos de Emaús voltam a Jerusalém mesmo à noite, pés a caminho para anunciar aos outros a grande alegria do encontro com Cristo. 

Aí está a missão. A missão é alimentada pela Eucaristia, pela Palavra, pela vivência fraterna. É uma mensagem breve do Papa Francisco, como costuma ser, mas será de grande auxílio para nós compreendermos o que se espera de nós nesse Ano Vocacional Missionário.

 

TF – Como será o encontro missionário com as lideranças paroquiais?

Dom Antonio Catelan – Teremos na Arquidiocese do Rio de Janeiro um grande encontro na Catedral de São Sebastião, no Centro, no dia 11 de março, das 8 às 12h, com missa presidida pelo nosso arcebispo, Dom Orani, transmitida para todo o Brasil pela RedeVida de Televisão, Rádio Catedral e WebTV Redentor. 

Durante a celebração, Dom Orani vai fazer um anúncio importante que vai nos ajudar a ter mais entusiasmo pelo Ano Missionário. Vale a pena participar e ver o que ele tem a nos dizer. 

O encontro é destinado aos coordenadores de todas as paróquias, pastorais, movimentos eclesiais, novas comunidades e congregações religiosas que atuam na pastoral e na evangelização na nossa arquidiocese. Caso alguma paróquia não seja representada, como vai depois realizar alguma ação missionária sem a proposta da arquidiocese? É importante todos trabalharem em conjunto, com criatividade e liberdade, mas tendo um objetivo comum. É muito, muito importante que todos participem.

 

TF – Quais serão as atividades do primeiro semestre de 2023?

Dom Antonio Catelan – No primeiro semestre, está prevista a formação das equipes nas paróquias, motivadas com retiros missionários. Haverá ainda uma ação missionária direta com as pessoas que são atendidas nas ações da Caridade Social da arquidiocese. As famílias que são assistidas com cestas básicas e outras formas de assistência receberão prioritariamente a visita missionária, o anúncio do Kerygma para o aprofundamento da fé. 

 

TF – E as atividades do segundo semestre? 

Dom Antonio Catelan – No segundo semestre, teremos um grande mutirão, as missões populares nos meses de agosto, setembro e outubro. Nosso desejo é que todos os lares possam ser visitados e que tenha um momento de anúncio e de oração com todos. É o nosso desejo e objetivo. Queremos o máximo. Vamos ver como Deus nos ajuda e como nossa generosidade vai nos permitir. 

 

TF – O que se espera de concreto após as visitas? 

Dom Antonio Catelan – Os missionários deverão levar consigo convites para uma continuidade, um momento de oração e de celebração, além do espaço das paróquias.  

Nossa orientação aos padres é que celebrem missas no quarteirão, na praça, na quadra, no salão comunitário, no pilotis de um prédio ou num apartamento que uma pessoa queira receber os vizinhos.

As famílias visitadas também poderão participar da Novena de Natal, dos Círculos Bíblicos, ou de outros grupos, de tal maneira que, após ter recebido o anúncio missionário, tenha uma continuidade, a possibilidade do aprofundamento da fé. Esperamos que o Ano Vocacional Missionário na arquidiocese tenha a perspectiva de continuidade na missão que é permanente na vida da Igreja.

 

TF – Qual é a sintonia de São Jorge com o Ano Vocacional Missionário?

Dom Antonio Catelan – O ano de 2023 também é em nossa arquidiocese dedicado a São Jorge, que, junto com São Sebastião, é padroeiro do Estado do Rio de Janeiro. Nas visitas missionárias iremos entronizar a imagem de São Jorge, um santo popular que nós precisamos conhecer melhor. São Jorge é um santo cristão no qual o Evangelho de Jesus resplandece fortemente como testemunha de vida cristã.

 

Carlos Moioli

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