Centro Dom Vital celebra centenário de fundação

Uma missa em ação de graças na Paróquia Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no Centro, presidida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, no dia 12 de maio, marcou o centenário de fundação do Centro Dom Vital.

Como associação de leigos católicos, o Centro Dom Vital foi fundado no Rio de Janeiro, em 1922, pelo advogado e jornalista Jackson de Figueiredo, por iniciativa de Dom Sebastião Leme, com o objetivo de reunir a intelectualidade católica numa época em que o país precisava assegurar sua identidade cristã.

“O ano de 1922 foi marcante por vários acontecimentos no país e, em especial, na cidade do Rio de Janeiro, a então capital federal. Entre eles, a fundação do Centro Dom Vital, que nasceu sob as bênçãos de Dom Sebastião Leme. Por meio do laicato, a Igreja marcou presença no meio intelectual como um espaço de diálogo com a sociedade”, destacou o arcebispo, que lembrou: “Estamos aqui para agradecer a Deus pelos dons recebidos, rezar pelos que nos precederam e por todos que hoje continuam com a mesma missão”.

O clero e os fiéis foram acolhidos pelo pároco, padre Silmar Alves Fernandes. A missa também foi concelebrada pelo bispo da Diocese de Duque de Caxias, Dom Tarcísio Nascentes dos Santos, pelo vigário episcopal para a Cultura, cônego Marcos William Bernardo, pelo pároco da Paróquia São Bonifácio, em Botafogo, padre Pedro Paulo Alves dos Santos, e pelo recém ordenado padre Alexandre Carvalho Lima Pinheiro.

Entre os diretores e membros do Centro Dom Vital estavam presentes o presidente, Renato Beneduzi, e o presidente benemérito, Ricardo Cravo Albin. A Família Imperial foi representada por Dom Antônio de Orleans e Bragança.

Leigos comprometidos com os valores do Evangelho

Na homilia, Dom Orani recordou que a fundação do Centro Dom Vital, em 1922, estava inserida dentro da organização da hierarquia eclesiástica no Brasil, que aconteceu após a separação entre a Igreja e o Estado, com o fim do regime do padroado.

“Em 1892, portanto há 130 anos, o Papa Leão XIII criou a Arquidiocese do Rio de Janeiro, a segunda do país, inaugurando um novo tempo, quando a Igreja passou a ter autonomia para criar novas dioceses e paróquias e a formação de seus presbíteros. Por sua vez, a Igreja no Rio de Janeiro foi protagonista em momentos importantes da história do país e dela nasceram diversas dioceses brasileiras”, disse o arcebispo.

De modo especial, Dom Orani fez memória de seus predecessores, iniciando com Dom Joaquim Arcoverde, o primeiro cardeal da América Latina, depois com Dom Sebastião Leme, que trabalhou para a visibilização da Igreja, com a fundação do Centro Dom Vital, a realização do Congresso Eucarístico em âmbito nacional para comemorar o centenário da Independência, a instalação do Santuário de Adoração Perpétua, a construção do monumento do Cristo Redentor e a inauguração da Pontifícia Universidade Católica, a PUC-Rio.

“Com leigos entusiasmados e comprometidos com os valores do Evangelho, sob a liderança de Jackson de Figueiredo, depois com Alceu Amoroso Lima, Dom Sebastião Leme pôde reavivar e consolidar nos corações que o Brasil nasceu, e de fato, era cristão. O Centro Dom Vital e, por consequência, a revista ‘A Ordem’, foram os canais da difusão do pensamento cristão, que continua até em nossos dias. Louvamos e agradecemos ao Senhor por toda a ação do Espírito Santo que conduziu aqueles que nos precederam e que encaminhou a história para este tempo novo”, disse o arcebispo.

Dom Orani observou a necessidade de agradecer as iniciativas e glórias do passado, mas que o mundo, por sua pluralidade, precisa de leigos e leigas que caminhem com a Igreja e como Igreja, unidos a Jesus Cristo, vivendo a fé cristã e católica.

“Somos chamados e impulsionados a olhar para o futuro, encontrar caminhos e fazer no presente a nossa parte, com coração vibrante de quem encontrou-se com Jesus Cristo na sua vida e caminha como Igreja. Com novos métodos, mas com o mesmo entusiasmo de todos que nos precederam, devemos dialogar com a cultura e propor um novo tempo diante de um mundo plural em que vivemos. De cumprir nossa missão de cristãos batizados evangelizados e evangelizadores, de plantar as sementes do bem, da fraternidade e da paz”, finalizou o arcebispo.

 

Participação consciente

No final da celebração, o presidente do Centro Dom Vital, Renato Beneduzi, na sua mensagem, fez vários agradecimentos. Fez memória a Dom Sebastião Leme, a pessoa que tornou possível a fundação do Centro Vital, e agradeceu o apoio e o carinho que tem recebido de Dom Orani e de diversos sacerdotes do clero carioca. Também recordou seus predecessores e agradeceu o empenho dos atuais membros do Centro Dom Vital.

“Temos que nos orgulhar da história do Centro Dom Vital, que comemora o centenário de fundação, mas não é só o momento de lembrar do passado. O Centro Dom Vital não é um museu, embora ele tenha uma história viva e o símbolo dá ideia de que nós católicos temos o direito de participar das grandes discussões que interessam a todos. Temos não só o direito, mas o dever de participar das grandes discussões, sempre de maneira respeitosa, sem querer impor uma versão de ideias sobre os outros. Talvez nós católicos não participemos o suficiente e quem perde é a sociedade. O Centro Dom Vital precisa dar sua contribuição como um espaço de diálogo dentro da Igreja”, disse o presidente.

 

Contribuição intelectual

Na sua mensagem, o vigário episcopal para a Cultura, cônego Marcos William Bernardo, destacou que o Centro Dom Vital é um espaço de pensadores intelectuais que faz jus ao patrono.

“Dom Vital teve que enfrentar a Questão Religiosa na década de 1870, afirmando, já no seu tempo, a identidade e a autonomia da Igreja diante de outras instituições. Por essa razão, o Centro Dom Vital, fazendo juz ao seu patrono, é um sinal de reunião de pessoas que querem pensar e refletir, inclusive de diferentes credos, pois sempre há o respeito à liberdade religiosa”, disse.

Cônego Marcos William lembrou a responsabilidade, como cidadãos, pela construção de uma verdadeira identidade. “Embora o país tenha passado pela influência europeia, faz-se necessário cultivar a identidade brasileira”, disse.

“O Centro Dom Vital é um lugar de encontro dos pensadores que têm o mesmo elã que impulsionou os fundadores e os continuadores. Nós temos a responsabilidade intelectual de marcar nossa identidade sem nos separar do resto do mundo, mas estarmos sim conectados ao mundo dentro do atual processo de globalização, sem medo de mostrarmos quem somos”, disse o vigário episcopal para a Cultura.

Ao dar parabéns pelo centenário do Centro Dom Vital, cônego Marcos William desejou que ele tenha vida longa para a consolidação de uma cultura aberta ao diálogo, o respeito e a aceitação das diferenças.

“Como instituição católica precisamos melhorar, para que outras instituições também façam o mesmo, e assim a Humanidade acredite que é possível a chegada de dias melhores e de nações cujos valores dignifiquem a raça humana num contexto contemporâneo integrado, ao que chamamos de vida ambiental”, disse.

Ainda na sua mensagem, cônego Marcos William fez votos para que os dirigentes do Centro Dom Vital “se sintam cada vez mais impelidos e seduzidos pela lógica da argumentação, e deem as suas contribuições intelectuais, de forma democrática, para que mais pessoas possam se comprometer com uma nação melhor”.

“Precisamos vestir a roupagem do tempo, e nós precisamos vestir a roupagem deste tempo. Não podemos falar para dentro do ‘aquário’, mas ir em frente. O Papa Francisco nos pede uma ‘Igreja em saída’, então o Centro Dom Vital precisa estar em saída para ouvir, dialogar e responder, chamando todos à paz e à harmonia, pois é isso que o Cristo Senhor espera que façamos”, finalizou.

Ao concluir, o cônego Marcos William recordou de todas as pessoas que fizeram e fazem parte da instituição. De modo especial, pediu uma salva de palmas para a secretária Modesta Costa do Nascimento, que há mais de 30 anos acompanha com dedicação o Centro Dom Vital, auxiliando os diretores na condução da instituição.

Carlos Moioli

Foto: Carlos Moioli 

 

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