Parece que foi ontem! Sim, foi há alguns anos. Apenas 40 anos, mais ou menos. Éramos jovens e sonhadores. Eu era um rapaz nos meus 20 anos e adorava jogar futebol aos domingos junto de amigos. Naquele tempo, o futebol ainda era diversão e todos se respeitavam e se alegravam sempre nos campos da vida.
E foi nesse tempo, indo para a faculdade, dentro do ônibus que eu fui convidado para participar de um encontro chamado TLC, que significa Treinamento de Liderança Cristã. Isso aconteceu em outubro de 1976. Gostei muito das palestras proferidas, porque era uma esperança de coisas novas para nós jovens. E o diretor espiritual era o padre formado há dois anos que se chamava Orani João Tempesta. Esse TLC foi realizado na minha cidade São José do Rio Pardo, interior de São Paulo, no Colégio Santa Maria.
Padre Orani era um monge cisterciense do Mosteiro Nossa Senhora de São Bernardo, que fica também nessa mesma cidade, anexo à Paróquia de São Roque. Era vigário dessa paróquia. Ele aparentava ser uma pessoa muito dinâmica e demonstrava um grande carinho pela Igreja. Foi aí que eu o conheci. Mais tarde, seríamos grandes amigos.
Saindo desse encontro fomos motivados a nos reunir aos domingos, às 14h, para darmos continuidade nos estudos e ter uma espiritualidade para aumentar a nossa fé. Foi formado um grupo de jovens e padre Orani era o nosso incentivador. Ele participava junto conosco e nos ajudava a dar pequenas palestras sobre temas fortes da Igreja, fé, esperança, amor, caridade etc. Essas reuniões eram feitas no porão do mesmo mosteiro. Ele nos indicava para estudar o Documento de Puebla e o Catecismo Holandês.
A partir daí, nosso grupo foi crescendo cada vez mais e “Orani”, assim como o chamávamos, sempre presente. Ele nos preparava para darmos catecismo na zona rural e, ao mesmo tempo, ajudávamos as famílias carentes, trabalhávamos em quermesse do padroeiro São Roque e fazíamos vigílias orientados por ele. Tínhamos diversão também: futebol, com muita alegria e participação. Nessa época, chegamos a 150 jovens participantes e todos com muito entusiasmo e perseverança. Éramos felizes e sabíamos disso, e esse grupo recebeu o nome carinhoso de TUCAF, que quer dizer Todos Unidos Como Amigos Felizes.
E deu tão certo que a maioria deles permanece até hoje engajada em algum movimento da Igreja. Ficamos muito amigos de padre Orani, eu particularmente sempre me confessava e conversava com ele. Sempre foi muito atencioso nunca reclamava ou mostrava cansaço. Padre Orani era um pai para mim e para todos os outros também. Meu irmão de coração.
Ainda nessa época, fui convidado pelo padre Orani para viajar para Mogi das Cruzes, onde havia mais um encontro diocesano de jovens, e algumas vezes almoçava com ele no mosteiro. Percebia sua simplicidade e humildade para com todos igualmente. Posso até contar uma passagem em que, um certo dia, eu entrei na cozinha do mosteiro e o vi comendo apenas arroz com jurubeba. Fiquei impressionado com sua humildade. Esse era o seu jeito verdadeiro de ser.
Depois de muitos encontros e reuniões, padre Orani sugeriu que fizéssemos um encontro chamado “Uma Luz no Meu Caminho”. Era realizado em julho nas férias escolares, no qual muitos jovens podiam participar. E, sim, eram arrebanhados muitos e muitos jovens! Chegando a contar com até 200 participantes. Essas reuniões eram toda noite durante uma semana e terminavam com uma missa no sábado, presidida por Dom Orani.
Eram proferidas palestras por nós mesmos que nos faziam estudar e passar nossas experiências e vivências para nos ajudar e a outros também. E assim sermos educados nessa fé de Cristo. Tudo isso com a supervisão do nosso querido amigo e irmão padre Orani.
Outro acontecimento importantíssimo também, o qual não poderia deixar de mencionar, foi a gincana entre jovens de nossa Paróquia São Roque junto com todas as outras paróquias da cidade. Movimentou não só nós que participávamos, mas uma cidade inteira. Foi tão grande esse evento que fomos para a praça central na escadaria da Matriz São José, e foi um grande sinal para a juventude. Todos se perguntavam “De onde vem toda essa alegria dessa moçada em participar de gincana cristã”, e esse foi um legado que aquela turma da década de 1970 deixava para uma pequena cidade do interior.
Uma alegria imensa de fazer parte dessa turma e desse tempo. Nunca mais esqueceremos a sensação de amor e de amizade que tínhamos alcançado. Todos aqueles anos foram de muito aprendizado de fé, mas de convívio social também.
Muitos de nós, ou melhor, todos somos amigos até hoje, namoramos, casamos, fomos compadres e temos até um grupo de WhatsApp, juntamente com o Cardeal Orani João Tempesta. E ainda, de vez em quando, nos reunimos para matar a saudade e pôr a conversa em dia.
E falando nisso, alguns de nós conheceram seus namorados (as) aqui. Outros descobriram a vocação do sacerdócio, outros ainda de irmãos leigos consagrados e assim por diante. Foi muito produtivo todo esse tempo e deu muitos frutos até nos dias atuais.
Eu mesmo conheci minha esposa nesse grupo. Eu já participava e ela veio depois. Dom Orani sempre na nossa retaguarda, nos aconselhando e foi meu grande mestre para poder seguir meu caminho. Ele foi abençoar meu noivado, fez meu casamento e batizou meus três filhos.
Sou muito agradecido a Deus por ter me colocado nesse caminho e junto de Dom Orani. Ele foi meu alicerce para a vida adulta.
É bom lembrar que tudo que fazíamos era supervisionado por Dom Orani que nos ajudava, mas ao mesmo tempo nos deixava trabalhar e aprofundarmos na fé. Ensinava a pescar e ficava sempre do nosso lado. Qualquer queda ou desvio de caminho lá estava ele. Sempre pronto a nos guiar, por isso éramos seguros no que fazíamos, porque tínhamos a certeza de ter um amigo e um protetor.
Tenho que contar um outro acontecimento em minha vida ligado diretamente com Dom Orani. Estava eu ajudando numa quermesse, juntamente com vários outros jovens, quando um certo indivíduo se equivocou comigo por causa de uma cadeira, na qual eu estava arrumando para essa festa. Houve uma discussão e por pouco não chegou aos tapas. Fiquei muito chateado, porque eu era um jovem que estava dentro da Igreja e não poderia ter acontecido isso. Mas por que estou falando disso, o que tem a haver com Dom Orani. Exatamente, tem tudo a ver, pois quando eu esperava receber uma chamada de atenção por parte dele, uma punição ou até mesmo um gesto de reprovação sua, ele me acalmou e com um sorriso me disse apenas: “Foi bom acontecer para mostrar a você que não é um santo!!!!”.
Pois é, todas essas vivências foram nos modelando e educando para a vida!
E assim o tempo passou e esse padre querido fez tão bem sua missão que foi escolhido para ser bispo na cidade de São José do Rio Preto. Ficamos muito felizes por ele, pois seu trabalho de evangelizador foi reconhecido e edificado. Mas ao mesmo tempo ficamos tristes, pois “perdemos” nosso padre, nosso grande amigo e irmão. Porém, Deus sabe o que faz e faz bem feito que chegou até o cardinalato. Ele mereceu e merece tudo isso. Louvado seja Deus e viva o nosso Cardeal Orani João Tempesta!
Hoje, vejo que tudo que passou foi um grande acontecimento nas nossas vidas, tudo por causa daquele padre simples e carismático. Sem perceber ele nos educou e mostrou o verdadeiro caminho que nos leva a Deus.
E assim com seus exemplos e modo de viver foi nos levando a procurar uma fé adulta e que naquele tempo, muitos jovens começaram a participar do Caminho Neocatecumenal. Posso finalizar dizendo que ele foi nossa estrela guia, o nosso porto seguro e até hoje permanece no nosso coração. Como padre, como bispo, com cardeal e quem sabe Papa, pois nossa querida serva de Deus Lurdinha Fontão já falava dele: “Esse Menino vai longe. Vai ser Papa”!
Nossos parabéns pelos 25 anos de sua ordenação episcopal.
Denis José Lodovichi, membro do Caminho Neocatecumenal