Atendendo às necessidades da Igreja universal, bem como a demanda da Santa Sé e da Pontifícia Academia Eclesiástica para que as dioceses ponham à disposição da missão universal da Igreja sacerdotes pertencentes ao seu presbitério, a fim de se dedicarem ao serviço diplomático, houve-se por bem colocar à disposição da Santa Sé o revmo. padre AntonioAugusto da Silva Bezerra para iniciar este novo percurso nesta missão universal a serviço do Sucessor de Pedro. E, para tanto, o colocamos à disposição da Secretaria de Estado e, assim, conforme todas as predisposições, poder tornar-se membro de seu corpo diplomático.
De pais católicos e de origem humilde, nascido em 18 de maio de 1987 no Rio de Janeiro, o revmo. padre Antonio Augusto da Silva Bezerra, na primeira parte de sua infância, foi criado na favela do Jacarezinho, onde foi batizado, em 25 de dezembro de 1987, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Anos mais tarde, sua família passou a residir no Complexo do Alemão, em Inhaúma, onde ele fez a catequese e recebeu a Primeira Eucaristia na Capela Bom Pastor, pertencente à Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe.
Ao longo da juventude, conservou o bom ânimo da fé, mantendo-se sempre ativo na vida da comunidade paroquial.
Apesar de pensar em ser sacerdote pela primeira vez logo após a sua Primeira Eucaristia, a juventude lhe trouxe outros anseios, como os da vocação matrimonial, bem como o de seguir a carreira jornalística, que o levou ao primeiro contato com os meios de comunicação, quando realizou estudos técnicos em TV, cinema e rádio durante o ensino médio. Contudo, buscando compreender melhor o chamado de Deus para a sua vida e descobrir a sua vocação, ingressou no GVS, em 2003, e no GVA, em 2004.
Em 2005, entrou para o Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos, e seguiu as etapas formativas do Seminário Arquidiocesano São José, a partir de 2006.
Foi ordenado diácono em 10 de dezembro de 2011, sendo posto a serviço da Paróquia São João Batista da Lagoa, em Botafogo. Em 6 de abril de 2013, foi ordenado sacerdote, tendo sido vigário paroquial na mesma paróquia. Em janeiro de 2014, foi nomeado administrador paroquial da Paróquia Santo Antônio dos Pobres, no Centro. Em janeiro de 2015, foi nomeado pároco pela primeira vez para a Paróquia Nossa Senhora das Graças, em Maria da Graça, onde exerceu o seu ministério até 10 de agosto de 2018, quando se ausentou da arquidiocese para iniciar os estudos em Roma.
A convite da direção, o revmo. padre Antonio Augusto também se dedicou recorrentemente aos meios de comunicação da Arquidiocese do Rio de Janeiro, desde julho de 2013, com a cobertura da programação oficial da JMJ Rio2013, ocasião na qual o Papa Francisco deu a primeira entrevista ao vivo de seu pontificado, conduzida pelo revmo. sacerdote. Nos anos seguintes, colaborou ainda com a WebTV Redentor e com a programação jornalística, oracional e de debates da Rádio Catedral.
Em setembro de 2018, deu início ao mestrado em comunicação social institucional pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma.
Em 2020, O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, tendo consultado e conversado com o monsenhor André Sampaio, que fez os estudos na academia diplomática e trabalhou no corpo diplomático da Santa Sé, e com os seus estreitos colaboradores do governo arquidiocesano, e mediante à proposta para iniciar o processo de sua candidatura e seleção para entrar na Pontifícia Academia Eclesiástica, o revmo. sacerdote recebeu a viva recomendação de aproveitar os estudos já realizados até então, e, em junho de 2021, concluiu o mestrado em comunicação com a dissertação: “A diplomacia na era digital e o poder da informação”.
Em razão da mentalidade jurídica necessária ao desempenho do serviço diplomático, foi designado para iniciar o mestrado em Direito Canônico, em outubro de 2021, na mesma universidade. Tendo sido consideradas todas as qualidades e aptidões do sacerdote e, após passar por um longo processo seletivo junto à Secretaria de Estado da Santa Sé, a Pontifícia Academia Eclesiástica admitiu o revmo. padre AntonioAugusto da Silva Bezerra para iniciar esta nova fase de sua vida ministerial a serviço da Igreja.
Os outros dois cariocas que fizeram a formação diplomática e atuaram foram o monsenhor Onofrio de Souza-Breves, que ingressou, em 1857, na academia diplomática da Santa Sé, e o monsenhor André Sampaio de Oliveira, que ingressou em 1998.
Monsenhor Sampaio iniciou sua formação em 1998 e, em 2001, foi enviado para realizar o seu diplomatic training na Nunciatura Apostólica da Tailândia. Após toda a formação diplomática, o mestrado e doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, e os cursos de idiomas (italiano, francês, inglês e espanhol), entrou no serviço diplomático da Santa Sé em julho de 2002, sendo nomeado pelo Papa João Paulo II como secretário da Nunciatura Apostólica, na Nigéria, onde serviu até junho de 2005. Depois foi nomeado pelo Papa João Paulo II secretário da Nunciatura Apostólica na Lituânia, Letônia e Estônia, onde permaneceu até 2006, quando, o Pontífice, Papa Bento XVI, o nomeou secretário da Nunciatura Apostólica, na Colômbia. Neste período, monsenhor André Sampaio foi nomeado observador da Santa Sé junto à Comissão Interamericana de Combate ao Terrorismo (Cicte), órgão da OEA. Lamentavelmente, teve de deixar o serviço diplomático da Santa Sé, em 2009, para ficar ao lado da sua mãe, que veio a falecer acometida por um câncer ósseo.
A FORMAÇÃO DE UM DIPLOMATA DA SANTA SÉ HOJE
Em visita à Pontifícia Academia Eclesiástica, em 2 de maio de 2014, o Romano Pontífice, Papa Francisco, traçou as prioridades da formação do futuro diplomata da Santa Sé. Segundo o Papa, há três elementos fundamentais que a apoiam: a competência (estudo aprofundado das problemáticas, evitando improvisação), a fraternidade (amizades sacerdotais que permitam vencer a ambição e os mexericos) e, sobretudo, a oração (além da oração litúrgica, o diálogo silencioso diante do tabernáculo, levando diante do Senhor as situações e os problemas que são vividos no ministério).
Ao Pontífice perguntaram, entre outras coisas, como é possível que um diplomata viva a profecia e a utopia do bem. O Papa respondeu que são necessárias três dimensões para ser profetas. Antes de tudo, a memória do passado: é a memória da fidelidade de Deus e da infidelidade do povo, que os profetas mantêm, como se vê no Antigo Testamento. Também quem é enviado como diplomata deve conhecer a história de Deus com o povo, onde é chamado a servir. Em segundo lugar, a capacidade de observar bem o presente. E este realismo do presente relaciona-se com a competência, o estudo e o conhecimento, para entender melhor qual é a situação de um país; significa estudar, conhecer, visitar e falar com as pessoas. Em terceiro lugar, a utopia do futuro. Qual é o caminho do futuro para esse povo? Nem todos os caminhos se podem percorrer: aqui é necessária a prudência.
Um profeta – continuou o Papa Francisco – deve basear-se em três pilares para pronunciar a palavra certa, cumprir o gesto justo que se elabora na oração. Quando se perde a memória, a memória do Evangelho, a da Igreja ou a da história de um povo, tudo acaba na ideologia. Para compreender a realidade devemos compreender o presente com um olhar de crente. Não existem hermenêuticas ascéticas: é uma ilusão pensar que se pode ler a realidade, prescindindo da nossa condição de discípulos de Jesus Cristo. A interpretação com a qual devemos compreender o presente, a hermenêutica cristã, são os olhos do discípulo. Eis aqui a ligação com a utopia do futuro. É a promessa: que nos promete Deus no futuro? A profecia é dizer a palavra certa, aquela que o Espírito sugere, após o esforço na oração, no estudo e na reflexão para fazer memória do passado, interpretar o presente e pronunciar uma palavra sobre o futuro.
Além disso, o Papa Francisco comentou algumas temáticas relacionadas com a vida nas nunciaturas, frisando por um lado a importância eclesial desse serviço e a necessidade de que os representantes pontifícios cultivem um clima de fraternidade com os bispos dos países nos quais vivem; por outro, evidenciou os perigos nos quais pode cair quem desempenha este ministério.
Durante a conversação, antes de jantar com a comunidade da academia, o Papa falou também sobre outros temas de atualidade na Igreja, como o compromisso da Igreja pela tutela da dignidade da vida humana, inclusive no plano internacional, as expectativas relativas ao próximo Sínodo dos Bispos sobre a família, a dimensão carismática de cada instituição eclesial. O Santo Padre ouviu com atenção os sacerdotes que se preparam para o serviço nas nunciaturas, indicando os aspectos da Humanidade, paternidade e proximidade, que constituem as características do seu modo de se relacionar com os outros e que são um modelo, não só para cada pastor, mas também para quem se prepara para representar o Papa junto das comunidades católicas e nos países de todo o mundo.
PONTIFÍCIA ACADEMIA ECLESIÁSTICA
A Pontifícia Academia Eclesiástica é hoje a instituição na qual se formam os sacerdotes diocesanos que se preparam para fazer parte do serviço diplomático da Santa Sé, nas Nunciaturas Apostólicas ou na Secretaria de Estado.
Fundada em Roma, em 1701, pelo abade Pietro Garagni, a conselho do beato Sebastiano Valfrè, do Oratório de S. FilippoNeri de Turim, seu primeiro nome era Accademia dei Nobili Ecclesiastici. Segundo a intenção do fundador, era para se espalhar também para outras dioceses. Sua primeira sede foi o Palazzo Gabrielli, em Monte Giordano, hoje Palazzo Taverna. Desde o início, a academia teve o apoio e a aprovação do Papa Clemente XI e, apenas 20 anos após a sua fundação, já tinha mais de 150 alunos.
O governo da academia foi confiado a um superior, escolhido entre os internos, com idade não inferior a 30 anos. Na escolha, foi dada atenção à maior experiência, aptidão e espírito eclesiástico do candidato.
Em 1703, o Papa Clemente XI decidiu cuidar imediatamente da academia e ordenou que fosse transferida para o PalazzoGottofredi, na Piazza Venezia. Então, em 2 de junho de 1706, a academia mudou-se para o antigo Palazzo Severoli, na Piazza della Minerva, sua sede ainda hoje.
Com a morte de Clemente XI e do Cardeal Imperiali, protetor da academia, ela se viu em uma situação econômica muito difícil. Além disso, os padres da missão, aos quais havia sido confiada a direção do instituto, deixaram o cargo em 1739.
Tendo-se tornado Papa, com o nome de Clemente XIII, o Cardeal Rezzonico, que tinha sido aluno da academia, tentou reanimá-la, mas – como relata o cronista da época – preferiu então suspender a atividade do instituto para retomar em circunstâncias melhores, que se esperava não muito longe. Infelizmente, durante os 11 anos em que a academia foi fechada, um administrador, sem escrúpulos, tomou posse dos bens restantes. O prédio tornou-se uma espécie de alojamento público, e um grupo de dez inquilinos se apropriou do que era necessário conforme sua conveniência e até cedeu os quartos para particulares e comerciantes. A academia foi reduzida, ‘pior para não dizer de uma pousada, a um estábulo’, escreve o cronista.
No Conclave de 1775, foi levantada a questão da reabertura da academia. Assim que o Papa Pio VI foi eleito, a academia foi reaberta, em novembro do mesmo ano, e o padre Paolo Antonio Paoli, procurador geral da Congregação da Mãe de Deus, em Campitelli. No ano seguinte, o Pontífice quis visitar pessoalmente a academia. Além disso, durante seu pontificado era costume que um aluno da academia fizesse um discurso na presença do Santo Padre na festa da Cátedra de São Pedro.
A Mal’Accademia foi beneficiada por Pio VI, sobretudo do ponto de vista econômico. De fato, após a extinção da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Antônio de Viena, absorvida pela Ordem de Malta, os bens pertencentes aos referidos cônegos regulares que estavam localizados dentro das fronteiras dos Estados Pontifícios foram devolvidos à academia, com breve pontifício de 17 de dezembro de 1777. E como Santo Antônio Abade era o protetor da extinta Ordem, o próprio Papa Pio VI o declarou Patrono da Academia ‘l’propter dictam Unionem Bonorum’. Com essas doações, houve um período de sorte para a academia, visitada pelo Papa pela segunda vez, em março de 1778. Justamente neste período, ele foi aluno da Accademia Annibale della Genga, e, em 1823, foi eleito ao trono de Pedro com o nome de Leão XII.
Com a revolução de 1798, a academia também foi sobrecarregada e forçada a permanecer fechada novamente por um período de cinco anos. Reaberta em 1803, por decisão do Papa Pio VII, tornou-se um instituto eclesiástico com cursos normais de teologia e Direito, e com o privilégio de apresentar dois alunos todos os anos à Universidade de Sapienza, para obterem os diplomas, respectivamente, em teologia e em Direito. Infelizmente, especialmente para um relaxamento na disciplina, a academia caiu em qualidade e formação.
Preocupado com o mau desempenho do instituto, desde o início do seu pontificado, o Beato Pio IX criou uma comissão especial de cardeais, à qual confiou a tarefa de tomar as medidas necessárias para repor a academia. Os cardeais decidiram fechá-la indefinidamente. Todos os alunos foram, de fato, despedidos, no final do ano letivo de 1847. Nas instalações da academia, na sequência da agitação popular de 1848 e 1849, foi estabelecido o Ministério da Guerra e da Marinha da República Romana e alguns dos seus bens foram, mais tarde, confiscados pelas tropas francesas.
Em 1850, a academia conseguiu finalmente retomar a sua atividade, adquirindo uma nova fisionomia e uma finalidade mais específica. Segundo o regulamento de Pio IX, a instituição assumiu o propósito muito específico de formar jovens eclesiásticos, quer para o serviço diplomático da Santa Sé, quer para o serviço administrativo na Cúria ou no Estado Papal. Foi estabelecida a obrigação de obter um diploma em teologia e Direito e os alunos deveriam fazer um curso de três anos em diplomacia e línguas estrangeiras.
Em 1878, foi eleito Papa outro ex-aluno da academia, o Cardeal Gioacchino Pecci, que assumiu o nome de Leão XIII. O Pontífice quis, desde logo, dar ainda maior seriedade à preparação intelectual dos acadêmicos, impondo sobre os mesmos dissertações públicas periódicas.
Nas primeiras décadas do século XX e particularmente sob a presidência de monsenhor Rafael Merry del Val, futuro secretário de Estado do Papa São Pio X, a academia acolheu numerosos convertidos ingleses ao catolicismo, que se preparavam para o sacerdócio.
No Conclave de 1914, o Cardeal Giacomo Della Chiesa foi eleito Papa, com o nome de Bento XV, que foi primeiro aluno da academia e, depois, professor de estilo diplomático.
A academia recebeu um novo impulso e, por assim dizer, uma filosofia mais correspondente aos nossos tempos dos Papas Pio XI e Pio XII. O primeiro determinou que seu protetor era o secretário de Estado pro tempore, e deu ao instituto o nome atual de Pontifícia Academia Eclesiástica. O segundo, um professor de diplomacia eclesiástica por cinco anos na academia, mandou traçar um novo regulamento, promulgado em 1945, que ainda está em vigor.
O interior do prédio da academia foi totalmente reformado por obra do Papa João XXIII. O Papa Paulo VI, também ex-aluno, e o Papa João Paulo II iluminaram, com seus ensinamentos e suas visitas, a vida e o progresso da Pontifícia Academia Eclesiástica, agora com 300 anos, preparando-a para enfrentar com renovado impulso os desafios e as esperanças do mundo e da Igreja no terceiro milênio cristão.
Monsenhor André Sampaio de Oliveira
Ex–diplomata da Santa Sé
Vigário episcopal para as Associações de fiéis e delegado para os fiéis ligados ao Rito Romano antigo