Dom Paulo Celso: ‘Senhor, eu estou nas Tuas mãos, confiante na Tua misericórdia, no Teu amor’.

O então bispo auxiliar do Rio de Janeiro Dom Paulo Celso Dias do Nascimento foi nomeado no dia 19 de abril pelo Papa Francisco como bispo titular da Diocese de Itaguaí(RJ), para suceder a Dom José Ubiratan Lopes, que se tornou emérito por limite de idade, conforme o Código de Direito Canônico.

O anúncio de sua nomeação, transmitida pela Rádio Catedral e WebTV Redentor, foi feito pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, na companhia de seus bispos auxiliares, e também de Dom José Ubiratan, diretamente de Aparecida (SP), onde estavam participando da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A posse canônica de Dom Paulo Celso será no dia 10 de junho, sábado, às 9h, na Catedral São Francisco Xavier, em Itaguaí.

Em entrevista ao jornal Testemunho de Fé, Dom Paulo Celso abordou sobre sua nomeação, os desígnios da Providência divina, o que o povo de Deus pode esperar de seu novo pastor e a experiência de ser auxiliar no Rio de Janeiro. Veja a entrevista na íntegra:

Testemunho de fé (TF) – Como recebeu a notícia da nomeação para Itaguaí por vontade do Papa Francisco, o mesmo que o escolheu para o episcopado?

Dom Paulo Celso Dias do Nascimento – É sempre um momento de muita surpresa. Nunca imaginamos quando será o momento que chega a notícia. Sempre preparamos o nosso coração para o sim, para a decisão de abraçar e assumir uma nova missão. Quando chega o momento, dizemos: Senhor, para onde Me enviar, eu vou com todo o meu coração. Quando recebi o convite da Nunciatura Apostólica que o Papa Francisco tinha me escolhido como bispo eleito da Diocese de Itaguaí, logo veio a alegria de abraçar a missão de servir o povo de Deus nesta nova etapa da minha vida. Eu recebi a notícia com surpresa e também, ao mesmo tempo, com disponibilidade, disse: Senhor, eu estou nas Tuas mãos, confiante na Tua misericórdia, no Teu amor.

TF – O senhor conhece a realidade da Diocese de Itaguaí nos seus vários aspectos?

Dom Paulo Celso – Nós estamos no mesmo Estado do Rio de Janeiro, onde formamos o Regional Leste 1 da CNBB, e a Costa Verde é muito próxima. Quando tenho folga, ou nas férias, ou, às vezes, atendendo pedidos dos padres,cheguei a conhecer algumas paróquias, mas não toda a diocese. Tive a oportunidade de conhecer o clero quando preguei um retiro pouco antes da pandemia, uma experiência muito bonita e importante para mim. O primeiro retiro que preguei como bispo foi para o clero de Itaguaí. Agradeço muito a confiança de Dom José Ubiratan Lopes que, na época, me pediu essa colaboração.Foi o momento de conhecer os padres, quase todos estavam presentes. Ficou fácil para conhecer o nome de padre. É um clero jovem, e fiquei muito feliz.

Sei que é uma diocese extensa, mas somente com cincomunicípios e 20 paróquias. Não conheço de perto os desafios pastorais e de evangelização, mas vou aprender quando assumir a nova missão

TF – O que o povo de Deus em Itaguaí pode esperar de seu novo pastor?

Dom Paulo Celso – Com a graça de Deus, eu vou procurar ouvir a todos. Essa Igreja Sinodal, no espírito de sinodalidade, é de escuta, é de buscar o discernimento e as decisões conjuntas com todo o clero, com todo o povo de Deus. O povo de Deus pode esperar de mim muitadedicação, vontade de crescer juntos no aprendizado do dia a dia. Vou visitar as comunidades, as pastorais, todo o povo de Deus e, sempre buscando o diálogo, com muitaabertura e tranquilidade. Será assim que vamos construir essa missão juntos.    

TF – Como foi a experiência de ser auxiliar durante cinco anos na Arquidiocese do Rio de Janeiro, com todos os seus desafios pastorais e sociais de realidade urbana?

Dom Paulo Celso – Foram muito ricas a experiência de ser auxiliar e da proximidade com os irmãos bispos, padres e o povo de Deus, na qual foi possível verificar os desafios que um bispo enfrenta. Daria um conselho para quem assume o episcopado, de ser, primeiro, um auxiliar. Foi uma boa experiência, rica e desafiadora, porque o Rio de Janeiro é muito complexo. É uma cidade que exige muita resiliência e enfrentamento de situações difíceis. A realidade de um hospital onde trabalhei como capelão é muito delimitada, mas ampliei os horizontes como auxiliar. Carrego no meu coração pérolas que encontrei no dia a dia, visitando as paróquias e comunidades da arquidiocese com pessoas boas e generosas. Há muitas coisas bonitas de presença da Igreja que existem no Rio de Janeiro e muitos não as conhecem. Penso que o caminho, depois de ser auxiliar, aumentou muito mais a minha maturidade.

TF – Como foi caminhar na escola de Dom Orani, ajudar seu ministério na condução da arquidiocese e fazer parte de um colegiado de irmãos bispos?

Dom Paulo Celso É uma grande graça de Deus ter a oportunidade de aprender com outros irmãos bispos e,principalmente, como auxiliar de Dom Orani, que tem muita experiência pastoral e muito nos ensina no nosso dia a dia. Junto com nosso arcebispo que nos acolheu, temos uma convivência fraterna no Palácio São Joaquim, na Glória, onde moram os demais bispos, e ainda a presença de uma comunidade religiosa e os vários colaboradores que nos ajudam. Vivemos como uma grande família e isso me ajudou muito. Fiquei 18 anos trabalhando como capelão em um hospital no Rio de Janeiro, e tudo era muito novo e inseguro. Com o tempo e também observando o trabalho dos outros bispos e principalmente de Dom Orani, eu me sinto mais maduro para enfrentar o desafio de ser bispo titular, de estar à frente de uma diocese. Mas ser auxiliar me ajudou muito a amadurecer nesta nova missão que a Igreja agora me confiou.        

TF – O que pode ajudá-lo na nova missão a experiência sacerdotal em ser, por muitos anos, capelão de um hospital, e os cinco anos como auxiliar na Arquidiocese do Rio?

Dom Paulo Celso – Quando mergulhamos no mundo da saúde, vendo as limitações do corpo, as várias dificuldades, o sofrimento de cada pessoa, nós amadurecemos humanamente e passamos a ter uma sensibilidade maior diante do sofrimento das pessoas e de suas angústias. Por outro lado, passamos a não reclamar muito das pequenas dificuldades, porque nós não estamosnem perto diante de grandes desafios da doença.

A Igreja é samaritana e isso eu trago em meu coração, de permanecer no meio do povo de Deus, de ver as ovelhas que estão mais necessitadas de ajuda. Isso adquirimos com a experiência hospitalar. Tenho muita gratidão a Deus por Ele ter me colocado por tanto tempo em um hospital na qual aprendi muito, e carrego no meu coração também toda a vontade de ser presença de Igreja no mundo da saúde. No Regional Leste 1, sou bispo animador da Pastoral da Saúde, e fico muito feliz de passar para os padres, leigos e voluntários esse olhar mais atento ao sofrimento humano.      

TF – Ao ser ordenado ao episcopado escolheu o lema:“Em tudo amar e servir”. Como o senhor viveu ele como auxiliar e, muito mais agora, como será como titular de uma diocese?

Dom Paulo Celso No tempo que trabalhei como capelão no hospital, um amigo, Alan, sempre cantava na ação de graças da missa o refrão Em tudo amar e servir, que é uma frase de Santo Inácio de Loyola. É uma música em espanhol que ele, a quem tenho muita gratidão, adaptou,fez a versão em português e gravou para mim.

Quando fui nomeado bispo, imediatamente, veio em minha mente Em tudo amar e servir. Perguntei para Dom Orani se podia usar esse refrão como lema, e ele disse: “Pode, fica à vontade.

Fiquei feliz quando fui eleito para Itaguaí, cujo padroeiro diocesano é São Francisco Xavier, missionário jesuíta que seguiu o ideal de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. A minha felicidade é de ver a sintonia dos acontecimentos, um sinal de Deus na minha vida.  

Entrevista: Carlos Moioli

Transcrição: Rita Vasconcelos

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