Lançado o primeiro volume do Catálogo dos Bens Culturais da Arquidiocese do Rio de Janeiro

Foi apresentado, no dia 20 de março, no Edifício São João Paulo II, na Glória, o Catálogo dos Bens Culturais da ArqRio volume 1 e o Portal de Inventário de Bens Culturais da Arquidiocese do Rio de Janeiro, cujo recorte inicial corresponde aos vicariatos episcopais Oeste e Santa Cruz, além de quatro igrejas tombadas pelo patrimônio da União e estadual: Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, Igreja Santa Rita, Igreja São Francisco de Paula e Capela Nossa Senhora de Montserrat.

A cerimônia de apresentação contou com as presenças do arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, do vigário episcopal para a Cultura, cônego Marcos William Bernardo, do presidente da Associação dos Bens Culturais da arquidiocese, Carlos Alberto Serpa, e da museóloga responsável pelo Museu de Arte Sacra da arquidiocese, Marli Assis Martins.

A Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural da arquidiocese foi representada pelo curador, padre Silmar Alves Fernandes, e por Daisy Ketzer, membro da Comissão e assessora do Patrimônio Histórico e Cultural da arquidiocese. 

Também presentes a chefe do Departamento de Desenvolvimento Urbano, Cultura e Turismo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciane Gorgulho, a gerente de projetos do Programa BNDES para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (ProCult), Katia Rossi, e o coordenador do trabalho de campo do inventário, museólogo Rafael Azevedo. 

 

Patrimônio considerável 

“O Rio de Janeiro, que já foi capital do Império português e capital do Brasil, tem um acervo religioso, histórico e cultural considerável, de maneira especial, nas igrejas mais antigas da cidade, o qual a Arquidiocese do Rio de Janeiro sempre procurou conservar. Já tínhamos a Associação Cultural, agora temos a Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural e o Vicariato para a Cultura, responsáveis pela área”, disse o arcebispo ao acolher os participantes no início da cerimônia.  

Dom Orani lembrou que, há cinco anos, “a arquidiocese foi convidada a trabalhar pela possibilidade de fazer um catálogo do acervo das igrejas”, tanto da arquidiocese, como das ligadas às irmandades e Ordens Terceiras. As oportunidades de ter uma equipe de pesquisadores e historiadores responsáveis pelo levantamento e, também, de financiamento que tornaram possível iniciar o projeto. 

“Lançamos o primeiro dos cinco volumes previstos do catálogo do acervo da arquidiocese, que também será disponibilizado para consulta na internet. Feliz pelo primeiro volume, e agradeço a equipe que trabalhou no projeto, que procurou trazer à luz a riqueza dos acervos dos vicariatos episcopais Oeste e Santa Cruz”, enfatizou o arcebispo.

 

Importância da cultura

Para o presidente da Associação Cultural da arquidiocese, Carlos Alberto Serpa, a cultura é fundamental na formação das crianças, jovens e dos nossos cidadãos, na consecução de projetos maravilhosos que o país precisa com a sua população melhor formada. 

“O projeto cultural lançado na gestão de Dom Orani João Tempesta, nosso cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, é da maior importância e único. Ele vai ser realmente o início de outros catálogos que contemplarão toda a cidade do Rio de Janeiro. O projeto é um exemplo para todo o país”, disse. 

“Espero que as nossas crianças e jovens compreendam a importância da cultura na sua própria formação. Que eles possam ter uma cidadania maravilhosa, para que o país se desenvolva. Parabéns para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, a Dom Orani e a toda essa equipe maravilhosa que trabalhou no projeto”, completou Carlos Alberto Serpa. 

 

Salvaguardar o patrimônio

Para a assessora do Patrimônio Histórico e Cultural da arquidiocese e membro da Comissão de Preservação, Daisy Ketzer, o acervo das igrejas da cidade é de grande importância histórica, artística e cultural, e parte dele era ainda desconhecido do grande público.

“Visando tanto a fruição comunitária nos locais em que estão acautelados, quanto a difusão científica de tão preciosos bens, a apresentação deste trabalho de inventário até aqui realizado serve para exortar a população para a salvaguarda do seu patrimônio, gerar conhecimento, além de prevenir a ocorrência de furtos e extravios, posto que os bens estarão catalogados e fotografados”, disse Daisy Ketzer.

 

Educação patrimonial

A realização do projeto de Inventário dos Bens Culturais da arquidiocese foi possível com o patrocínio da Vale e do BNDES. 

“Há 25 anos, o banco procura apoiar projetos que possam tanto preservar o patrimônio, quanto promover movimento econômico, social e cultural”, disse Luciane Gorgulho. 

O projeto, explicou a representante do BNDES, é o primeiro inventário feito sobre os bens culturais da Arquidiocese do Rio de Janeiro na Zona Oeste, na Zona Suburbana, em “regiões menos favorecidas, onde esse patrimônio histórico ainda é desconhecido e talvez não tão valorizado como deveria”.

“O projeto desse inventário possibilita também ações de educação patrimonial, formando conhecimento para crianças, nas escolas e em circuitos turísticos que possam gerar emprego e renda nessas localidades, onde esses projetos e bens estão sendo identificados e divulgados”, explicou Luciane Gorgulho. 

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Rafael Azevedo: ‘Valorizar a realidade das periferias do Rio de Janeiro’

 

Em entrevista concedida ao Sistema Arquidiocesano de Comunicação da Arquidiocese do Rio (SAC), o museólogo Rafael Azevedo, que é o coordenador do trabalho de campo do inventário dos bens culturais da Arquidiocese do Rio de Janeiro, explicou as etapas, o conteúdo e o portal:

 

SAC – Quais são as etapas do projeto? Em qual está e qual é a projeção? 

Rafael Azevedo – O projeto foi iniciado em 2022. Nós começamos com o inventário de Santa Cruz e Oeste. Agora, em 2023, nós estamos avançando para os vicariatos Suburbano e Campo Grande, e seguiremos até o ano que vem. Em 2024, nós iniciaremos uma nova etapa com todos os demais vicariatos da Arquidiocese do Rio de Janeiro: Leopoldina, Jacarepaguá, Urbano, Norte e Sul. Nesta etapa, 2023 e 2024, o foco serão as igrejas tombadas que pertencem à arquidiocese, e teremos recortes temático e geográfico.  

 

SAC – O que consta neste primeiro catálogo? 

Rafael Azevedo – Lançamos a primeira fase, os catálogos dos vicariatos Santa Cruz e Oeste, com três igrejas tombadas. Também tem um glossário litúrgico ao final para orientar as pessoas, porque há termos muito técnicos. Nós fizemos uma sessão sobre patrimônio perdido, as igrejas demolidas, os bens procurados. Nós temos a expectativa de, no último catálogo que será o quinto, trabalhar também com a parte de bens procurados. 

O próximo catálogo a ser lançado em 2024 contemplará as igrejas tombadas com recortes temáticos, e o recorte geográfico será os vicariatos Campo Grande e Suburbano. 

O terceiro catálogo, com previsão para 2026, será dos demais vicariatos, Leopoldina, Jacarepaguá, Urbano e Sul. 

O quarto catálogo será sobre o Museu de Arte Sacra, com sete mil itens. Em quantidade de acervo, o Museu de Arte Sacra da Arquidiocese do Rio é o maior museu de arte sacra do Brasil. 

O quinto catálogo será sobre os bens procurados, um manual de catalogação, um manual iconográfico, um livro guia com orientações para todas as comunidades do Brasil. Esse guia terá informações de como proceder com essa parte de preservação do patrimônio, identificação e até conservação. 

 

SAC – Além das igrejas, esse catálogo inclui informações sobre as regiões?

Rafael Azevedo – Como fizemos a subdivisão por vicariato, nós sentimos a necessidade de contar sobre a história das regiões porque nós lidamos com uma memória afetiva muito grande de populações das periferias do Rio de Janeiro que, no geral, são desassistidas por projetos dessa magnitude. Então, vamos mexer com identidade, com cidadania, com memória e patrimônio. A nossa ideia é relatar a história de cada um deles. Por exemplo, nesse trabalho com os vicariatos Santa Cruz e Oeste, nós demos ênfase à história da Fazenda Santa Cruz, história da região da Zona Oeste, que tem muito a ver com a memória da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, que começou em Bangu e deu origem ao bairro de Bangu. Depois, a fábrica, a
Igreja de São Sebastião e Santa Cecília, até se instalar em Campo Grande. Existem várias igrejas históricas dentro desse percurso. E nós tentamos abraçar um pouco essa realidade. 

Sou filho da Baixada Fluminense, de Mesquita. E nós que somos das periferias sabemos o quanto as populações periféricas são fruições do patrimônio.
É interessante que, neste trabalho, nós podemos incluir essas populações, trazer essas populações para se sentirem dignas de ter, se sentirem ressignificadas, conhecer o seu patrimônio, ter uma origem, ter uma essência, saber que aquele território tem uma história. Eu acho que isso é estratégico, não só para gestão do acervo da própria Igreja, mas também é uma questão de cidadania, é uma questão estratégica de trazer essas pessoas, dar dignidade, valorizar essa realidade dessas periferias do Rio de Janeiro.

 

SAC – Como será o Portal dos Catálogos?

Rafael Azevedo – O portal já está no ar: www.inventarioarqrio.com.br . A parte de busca do inventário, que é mais específica, com obra por obra, ainda não está disponível porque nós estamos fazendo um beneficiamento desse trabalho com o objetivo de permitir ao público externo consultar as informações. Mas, no site, a visitação virtual em 3D de alguns monumentos está disponível. As pessoas vão poder ter acesso nesse primeiro momento a algumas visitas virtuais, como parte da Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé. Nas próximas semanas, vamos incluir as igrejas de São Francisco de Paula e Santa Rita de Cássia, ambas no Centro, Museu de Arte Sacra e Igreja de Nossa Senhora de Montserrat, em Jacarepaguá. E, aos poucos, traremos essas igrejas e também os acervos simbólicos. A primeira peça que estamos fazendo é a imagem de Nossa Senhora do Ó, do Museu de Arte Sacra, que talvez seja a peça mais antiga da cidade do Rio de Janeiro. Havia uma capelinha dedicada a Nossa Senhora do Ó, dos tempos da fundação da cidade, à época era chamada de Várzea, a parte baixa da cidade, abaixo do Morro do Castelo. Tinha uma capelinha naquele local com essa imagem do século XVI, que está no museu. Nós fizemos o 3D dela. O portal terá outras peças simbólicas em 3D. Tudo ficará no site, um portal que vai canalizar todos os trabalhos feitos pelas equipes. Nós faremos as impressões em 3D para exposições itinerantes que acontecerão durante o projeto. O site também terá informações para as pessoas saberem onde as equipes estão visitando. Vamos criar vídeos das ações, como crianças com deficiência visual tocando nas imagens. Porque o acervo tem uma peculiaridade das pessoas não poderem tocar nas peças, então as imagens em 3D vêm para sanar e possibilitar a todos, inclusive à criançada, tocarem nas peças, tocarem o patrimônio.

 

Carlos Moioli e Rita Vasconcelos

 

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