Nossa Senhora do Carmo

Celebramos, no dia 16 de julho, a memória litúrgica de Nossa Senhora do Carmo. Esse é mais um título concedido a Mãe de Deus, como tantos outros que nós conhecemos. Cada título de Nossa Senhora tem uma história por trás e uma particularidade em especial. Nossa Senhora sempre aparece para revelar algo ou pedir que a Humanidade se una mais ao coração de seu Filho e reze suplicando a paz.

Nossa Senhora do Carmo tem esse título por ser a padroeira da Ordem dos Carmelitas. Tanto assim, que também pode ser chamada de Nossa Senhora do Monte Carmelo. O monte ou a montanha é o lugar do encontro com Deus. Que, a exemplo de Nossa Senhora, possamos subir ao monte e encontrar Deus, pedindo a sua intercessão por toda a Humanidade, para que todos possam acorrer à misericórdia divina e converter os seus corações.

Maria sempre foi a mulher do silêncio. Meditava e guardava tudo em seu coração. O Carmelo também é o lugar do silêncio, onde as monjas e os monges rezam, em silêncio, pelas necessidades do mundo inteiro. A palavra ‘Carmelo’ em hebraico significa ‘vinha’. Portanto, ‘vinha do Senhor’. O Carmelo pertence ao Senhor. É a sua vinha e, dessa vinha, reza-se pela Humanidade inteira.

Esse nome remete à famosa montanha que fica na Palestina, onde o profeta Elias e o sucessor Elizeu fizeram história com Deus e  Nossa Senhora, que foi prefigurada numa pequena nuvem (Cf 1Rs 18, 20-45).

Os primeiros carmelitas eram eremitas. Viviam no Monte Carmelo, na Terra Santa, entre o final do século XII e início do século XIII. Eles construíram, no meio de seus eremitérios, uma capela que dedicaram a Virgem Maria. Por isso, o nome original de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Do monte, do alto de Jerusalém, os monges rezavam pela Humanidade inteira e pediam a Nossa Senhora que livrasse a Humanidade de todo o mal. Maria caminha à frente e abre os caminhos para que os nossos problemas tenham solução. Ela nos ensina a confiar em Deus.

Desde o século XII, a devoção a Nossa Senhora do Carmo começou a ficar mais conhecida por meio do escapulário. O escapulário original era constituído de dois pedaços de tecido ligados por finas fitas que os fiéis leigos carregam em seus ombros. É uma réplica do hábito dos monges, que é constituído da cor marrom e tem os dois lados. O escapulário é um sacramental, ou seja, está associado às promessas de ajuda feitas por Maria para o devoto portador do escapulário. O uso do escapulário é uma via de conversão dos devotos, para que possam nutrir em si uma nova espiritualidade.

Originalmente o escapulário remetia à obediência, ou seja, por meio do uso do escapulário o fiel consagrava a sua vida a Virgem Maria e se comprometia a ser obediente à vontade de Deus, como Maria foi. Os religiosos e religiosas carmelitas, ao usarem o escapulário, faziam o voto de obediência a Deus. A tradição da Igreja afirma que Nossa Senhora tinha entregado o escapulário ao monge carmelita chamado Simão Stock.

A festa litúrgica de Nossa Senhora do Carmo foi celebrada pela primeira vez, na Inglaterra, no final do século XIV. O objetivo era agradecer a Maria pelos benefícios concedidos nos tempos de dificuldades dos primeiros anos da Ordem do Carmo. De início, a comemoração começou a ser celebrada em 17 de julho. Mas, como conflitava com outra festividade do calendário europeu, a festa foi transferida para o dia 16 de julho. Desde então, todos os anos se celebra a Festa de Nossa Senhora do Carmo nesse dia. Durante a celebração acontece a renovação dos votos e a consagração a Nossa Senhora, com a imposição do escapulário para aqueles que irão colocá-lo pela primeira vez. Ao final da celebração, o padre impõe o escapulário nos fiéis.

O escapulário é um sinal de aliança com Nossa Senhora e exprime a consagração de quem usa a ela. O escapulário significa um revestir-se de Cristo, do mesmo modo que Maria se revestiu D’Ele. Toda a Humanidade foi entregue a Maria quando, do alto da cruz, Jesus disse: “Mulher, eis aí o teu filho”. A partir desse momento, Nossa Senhora acolheu toda a Humanidade consigo. Por isso, o uso do escapulário é um sinal de entrega da Humanidade ao amor de Nossa Senhora.

O escapulário do Carmo, enquanto veste devocional, surgiu no século XII. Segundo a tradição católica, no dia 16 de julho de 1251. São Simão Stock suplicava a Nossa Senhora uma ajuda para resolver um problema na Ordem do Carmo, da qual era prior geral. Enquanto rezava, apareceu Nossa Senhora com o escapulário em suas mãos. Nossa Senhora dirigiu a São Simão as seguintes palavras confortadoras: “Recebe, meu filho, este escapulário da tua Ordem, como sinal distintivo da minha confraria e selo do privilégio que obtive para ti e para todos os carmelitas: o que com ele morrer, não padecerá o fogo eterno. Este é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos e prenda de paz e de aliança eternas”.

Celebremos com alegria a memória litúrgica de Nossa Senhora do Carmo. Renovemos a nossa consagração e os votos de fidelidade a mãe de Jesus. Se ainda não possui o escapulário, adquira um. Nessa celebração peça ao sacerdote para colocar em você e consagre a sua vida a Virgem Maria.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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