O Andarilho do Amor

No dia 10 de junho, o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, por volta das 18h, deveria descansar, certo? Errado sua rotina de trabalho, evangelização e amor ao próximo ainda estava longe do fim. Dom Orani é assim, homem de gestos concretos e que apesar de usar as mídias sociais, não abre e nunca abrirá mão do “estar presente”, do contato físico com seu rebanho, de preferência nos locais mais simples onde os verdadeiros necessitados da Palavra de Deus e da esperança materializada em um de Seus representantes esteja de fato presente.

Às 18h, Dom Orani estava na Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, reinaugurando o tempo do século XVIII que fora reformado pela boa vontade de um empresário ligado à Irmandade dos Mercadores. Uma missa linda na qual, mais um vez, o cardeal recebeu inúmeros afagos, abraços e pedidos de orações, respondeu a todos com afeto e a empatia que lhe são próprias.

Ao longo desses anos no Rio de Janeiro, o Cardeal Tempesta foi vítima de assaltos e outras questões inerentes às dificuldades da injustiça social que grassa na América Latina, sobretudo em suas metrópoles. Recentemente na Avenida Brasil, o cardeal foi parado, teve furtados o veículo, todos os itens litúrgicos, celular e outros itens.

Apesar do susto, nada de ruim fisicamente lhe aconteceu nem tampouco a seu motorista e seminarista que o acompanhava. Encarando os fatos com calma e confiante na providência Divina, no dia seguinte, num carro pequeno, lá vai o cardeal para mais missas, em mais lugares, sejam eles comunidades conflagradas, locais perigosos, não importa. Deus está presente em todos os lugares. Pois bem.

Mas voltemos à inauguração da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores: a certa altura, após a missa, o prefeito do Rio de Janeiro, senhor Eduardo Paes, toma o microfone e vai fazer seus agradecimentos ao empresário Cláudio André Castro, que foi o responsável pela restauração do tempo até então interditado há anos pelo estado precário em que se encontrava.

Ao se dirigir a Dom Orani, sem querer, o prefeito impõe ao cardeal mais um “apelido”. Disse ele textualmente: “Dom Orani, o senhor é o Andarilho do Amor” ao estar presente em todos os cantos dessa cidade. O senhor é especial, grandioso, irradia fé. As pessoas o amam e amam a Igreja, tendo o senhor como exemplo.

Eu assistia a missa e fiquei a refletir sobre o que disse o prefeito: “Andarilho do Amor” e é verdade. Dom Orani é um homem idoso, com mais de 70 anos e uma rotina de trabalho pela Igreja que começa às 4h da manhã, com gravações, audiências, reuniões de governo, tudo isso Dom Orani faz com zelo, mas sem tirar os olhos do relógio. O que ele gosta mesmo é de ser andarilho, de andar, de ver gente, de tocar e ser tocado, de falar e ouvir, de afagar e evangelizar. É sim o “Andarilho do Amor”.

Se existem gestos para materializar a Igreja em saída pedida pelo Santo Padre Papa Francisco, Dom Orani é materialização de tais gestos. Que ele siga seu ministério, servindo ao povo e servindo de exemplo para aqueles que desejam seguir a vida religiosa em sua beleza, fé e plenitude.

 

Dauro Machado

 

 

Categorias
Categorias